Cicatrizes e Confronto

Capítulo 13: Cicatrizes e Confrontos

Liam

Eu não conseguia parar de pensar na cena de mais cedo. O tapa de Mel em Pietra ainda ecoava na minha mente, um som que parecia misturar a raiva dela com a vergonha que senti. Eu deveria ter agido antes, deveria ter afastado Pietra assim que ela começou com aquele teatro. Mas, em vez disso, fiquei congelado, e agora tudo estava um caos.

Eu estava em casa, tentando decidir se deveria ir até Mel ou esperar as coisas se acalmarem. Antes que pudesse tomar uma decisão, meu celular vibrou no bolso.

Mensagem :

“Cara, Mel está no bar do centro com aquele novato, Gabriel. Ela está bebendo pesado. Achei que deveria saber.”

Meu coração deu um salto. Mel não era de beber. Algo estava muito errado. Peguei minha jaqueta sem pensar duas vezes e saí porta afora. Eu precisava encontrá-la.

 

Mel

O gosto amargo da bebida escorria pela minha garganta, mas eu nem ligava. Eu precisava de algo que anestesiasse a dor que sentia. Gabriel estava sentado ao meu lado, com aquele sorriso tranquilo e olhar protetor.

— Mel, você tem certeza de que quer continuar bebendo? — ele perguntou, sua voz carregada de preocupação.

— Quero! — Respondi, enchendo outro copo. — Quero esquecer! Esquecer tudo, principalmente o Liam.

Gabriel me observava, mas não insistiu. Ele apenas ficou ali, como uma presença estável, enquanto eu me afundava na minha própria mágoa.

— Você sabe... — murmurei, minhas palavras já começando a se embolar. — Ele foi meu melhor amigo. Sempre foi. E agora ele... Ele... — Minha voz quebrou, e as lágrimas começaram a rolar.

Gabriel colocou a mão no meu ombro, apertando levemente.

— Você merece mais do que ele pode te dar, Mel.

Eu balancei a cabeça, enxugando as lágrimas com as costas da mão.

— Não quero mais pensar nisso. Vamos beber!

 

Liam

Quando cheguei ao bar, meu peito apertou ao vê-la. Mel estava encostada no balcão, com Gabriel ao lado, e um copo de bebida na mão. Seu rosto estava levemente corado, os olhos brilhando, mas não de felicidade — ela parecia perdida, machucada.

Gabriel parecia saber que eu estava lá antes mesmo de eu me aproximar. Ele virou o rosto para mim, e algo em seu olhar me desafiava.

— Liam. — Ele disse meu nome de forma seca.

— O que está acontecendo aqui? — Perguntei, ignorando o tom dele e focando em Mel. — Mel, vamos para casa.

Ela olhou para mim, e a dor em seus olhos era clara.

— Eu não quero ir com você. Por que você está aqui, Liam? Por que não vai embora?

Antes que eu pudesse responder, Gabriel se colocou entre nós.

— Ela não quer ir com você. Você já fez o suficiente, não acha?

Eu dei um passo à frente, encarando-o.

— Sai do caminho, Gabriel. Não vou deixar Mel assim.

— Ah, agora você se importa? Onde estava essa preocupação antes? — Ele respondeu, com a voz carregada de sarcasmo.

O sangue começou a ferver nas minhas veias.

— Isso não é da sua conta. Agora sai do caminho.

Gabriel soltou uma risada seca, e então tudo aconteceu rápido demais. Ele me empurrou, e eu reagi, empurrando-o de volta. O primeiro soco veio dele, mas eu estava pronto.

Os punhos de Gabriel atingiram meu rosto, mas a dor apenas alimentou minha raiva. Eu retribuí com um soco no estômago, fazendo-o cambalear para trás. As pessoas ao redor começaram a gritar, algumas tentando intervir, mas nenhum de nós estava disposto a parar.

— Você acha que pode aparecer aqui e bancar o herói? — Gabriel gritou, avançando novamente.

— Eu não estou bancando nada! Você não sabe de nada, Gabriel! — Respondi, desviando de outro soco.

Mas então ele disse algo que me parou.

— Não sei de nada? Eu sei mais do que você imagina. Liam. Talvez você tenha esquecido, mas nós já nos conhecemos antes!

Eu parei, confuso, enquanto ele continuava, sua voz cheia de raiva.

— Você não se lembra de mim? Eu sou Gabriel! Nós crescemos juntos. Liam! Você, Mel e eu éramos inseparáveis!

 Derrepente a minha mente começa a doer...

Era um dia de verão, com o céu pintado de azul e o sol brilhando intensamente sobre o parque. As risadas ecoavam entre as árvores, preenchendo o ar com uma leveza que só as crianças podiam oferecer. Mel corria descalça pelo gramado, com os cabelos balançando ao vento. Logo atrás dela. Liam a perseguia, os dois competindo para ver quem chegaria primeiro à grande árvore no centro do parque.

Mais atrás, um terceiro menino corria, tentando acompanhar o ritmo frenético dos dois amigos. Ele era mais lento, suas bochechas ruborizadas pelo esforço, mas não deixava de sorrir.

— Vocês são rápidos demais! — ele gritou, ofegante, mas com uma risada sincera.

Mel parou ao perceber que ele estava ficando para trás. Ela colocou as mãos nos quadris, como se estivesse avaliando a situação.

— Liam, espera! Ele não vai conseguir nos alcançar se você continuar correndo assim.

— Mas ele sempre fica para trás! — Liam reclamou, mas parou ao lado de Mel, cruzando os braços com um ar desafiador.

Ela revirou os olhos e correu na direção do menino. Pegando sua mão, ela sorriu calorosamente.

— Vamos juntos agora. Eu não vou deixar você ficar para trás.

Os três uniram as mãos e correram juntos, suas gargalhadas preenchendo o parque enquanto o vento dançava ao redor deles.

Mais tarde, eles se reuniram sob a sombra da grande árvore, onde compartilhavam um pacote de biscoitos que Mel havia trazido de casa. O menino mordiscava o seu lentamente, enquanto observava Mel e Liam discutirem sobre quem era mais rápido.

— Eu sou mais rápido, obviamente. — Liam se gabou, deitando-se na grama com as mãos atrás da cabeça.

— Só porque ele deixou você ganhar! — retrucou Mel, apontando para o outro menino.

Ele apenas deu de ombros, tentando esconder o sorriso. Ele não se importava em perder para eles; na verdade, apenas estar com eles já era suficiente.

— Quando a gente crescer, ainda vai ser assim, né? — perguntou Mel de repente, sua voz cheia de expectativa. — Vamos estar juntos, correndo pelo mundo.

Liam deu uma risada confiante.

— Claro. Eu vou ser famoso, e vocês vão ser meus ajudantes.

— Ajudantes? — Mel arqueou uma sobrancelha. — Nem pensar. Eu vou ser famosa sozinha, e você vai me implorar por ajuda.

Os três riram, suas vozes se misturando com o som das folhas que balançavam ao vento. Para eles, naquele momento, o mundo era perfeito.

Mas o tempo perfeito logo desmoronaria.

Era um dia cinzento, com nuvens pesadas cobrindo o céu. Mel estava sentada no balanço do parque, balançando lentamente enquanto o menino se sentava ao seu lado, chutando a areia com os pés. Eles estavam esperando Liam, mas ele estava atrasado.

Quando Liam finalmente apareceu, seu rosto estava sério. Ele carregava um peso em seus olhos que não combinava com a energia de costume.

— O que foi? — perguntou Mel, inclinando-se para frente.

Liam hesitou, olhando para o chão.

— Eu vou embora.

As palavras dele cortaram o ar, deixando tudo em silêncio. O menino franziu a testa, tentando entender o que aquilo significava, mas Mel foi a primeira a reagir.

— O quê? — Ela levantou-se do balanço, os olhos arregalados. — Como assim, embora?

— Minha mãe disse que a gente vai se mudar. Para outra cidade.

Mel piscou algumas vezes, como se tentasse processar o que havia acabado de ouvir.

— Você não pode ir! Você prometeu! Prometeu que nunca íamos nos separar!

— Eu não tenho escolha. — A voz de Liam tremia, embora ele tentasse manter a compostura.

— Não! — Mel gritou, com as lágrimas começando a escorrer pelo rosto. Ela correu até o menino ao lado dela, agarrando seus ombros. — Você não vai nos deixar, não vai!

O menino ficou sem saber o que fazer, seu coração apertado ao ver Mel tão desesperada. Ele estendeu os braços, puxando-a para um abraço enquanto ela soluçava. Ele olhou para Liam, que agora parecia tão quebrado quanto ela.

— Eu vou voltar. — Liam murmurou, embora não parecesse acreditar nas próprias palavras.

Mel, no entanto, continuava chorando. Ela se aninhou contra o peito do menino, as lágrimas molhando sua camisa enquanto ele tentava acalmá-la.

— Ele vai nos deixar... Ele prometeu e vai nos deixar!

O menino passou a mão nos cabelos dela, murmurando palavras tranquilizadoras. Mas, por dentro, ele também estava devastado. Algo naquele dia mudou para sempre, como se uma parte deles tivesse sido arrancada.

A última imagem daquele momento foi a de Liam a caminhar para longe, os seus passos ficando cada vez mais distantes. Mel ficou ali, chorando nos braços do menino, enquanto ele prometia silenciosamente que nunca deixaria que ela se sentisse sozinha novamente.

Voltei para o presente com a voz de Gabriel me puxando de volta.

— Você nunca pensou em como isso a afetou, não é? Você foi embora e deixou Mel para trás!

Eu estava sem palavras, tentando processar tudo.

 

Mel

Eu mal entendia o que estava acontecendo. As vozes de Liam e Gabriel pareciam distantes, como se eu estivesse em outro lugar. Mas algo me puxou de volta para a realidade quando vi Liam ser jogado contra a mesa.

— Parem! — Gritei, tentando me levantar, mas minhas pernas vacilaram.

Liam olhou para mim, seu rosto machucado, mas seus olhos eram suaves, cheios de preocupação. Ele correu até mim, ignorando Gabriel, e me segurou antes que eu caísse.

— Mel, está tudo bem. Estou aqui. — Sua voz era baixa, quase um sussurro.

Eu me agarrei a ele, as lágrimas escorrendo novamente.

— Eu te odeio, Liam... mas eu preciso de você.

Ele não disse nada, apenas me segurou firme.

 

Liam

Eu a levei para fora do bar, deixando Gabriel para trás. Não havia mais nada que ele pudesse dizer ou fazer que mudasse o que eu precisava fazer agora: cuidar de Mel.

Quando chegamos à minha casa, ela estava mais calma, mas ainda visivelmente abalada. Eu a ajudei a se deitar no sofá e fiquei ao lado dela, esperando que o efeito do álcool passasse.

— Liam... — Ela murmurou, sua voz fraca.

— Estou aqui, Mel. Não vou a lugar nenhum.

Ela abriu os olhos e me olhou, o rosto uma mistura de tristeza e algo que parecia... alívio.

— Promete?

Eu segurei sua mão e assenti.

— Prometo.

E naquele momento, senti que, apesar de tudo, talvez ainda houvesse uma oportunidade de consertar as coisas entre nós.

Continua…

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