Zoe

Zoe narrando

Consegui finalmente descansar um pouco. Dormi algumas horas seguidas, o que foi um alívio. Quando acordei, levantei rápido, sentindo meu coração acelerar. Fui direto ao banheiro, lavei o rosto com água fria, tentando afastar o cansaço que ainda insistia em ficar.

Depois, fui para a sala pós-operatória, que ficava ao lado. Ao entrar, meu olhar logo encontrou Vicenzo. Ele já estava acordado, seus olhos abertos pareciam procurar algo. Senti um misto de alívio e apreensão.

Respirei fundo e comecei os primeiros exames pós-operatórios. Verifiquei os sinais vitais: pulso, pressão arterial, frequência cardíaca, todos os detalhes. Apontei a lanterna para seus olhos, avaliando a resposta das pupilas. Em seguida, chequei a incisão, observando se havia sinais de sangramento ou inchaço. Palpei suavemente em volta, verificando a sensibilidade e se ele sentia dor.

Era importante assegurar que tudo estava conforme o esperado. Cada etapa era essencial para garantir que o pós-operatório estivesse ocorrendo sem complicações. Vicenzo me olhava com uma mistura de confiança e vulnerabilidade. Eu sabia que ele confiava em mim, e isso me dava força para continuar.

Voltamos para o quarto, os seus pais já estavam lá esperando, acomodei bem o meu paciente, é um procedimento de praxe, cuido de tudo pessoalmente.

Quando eu ia sair do quarto, para deixar eles mais a vontade. Mas o Vicenzo pegou na minha mão. E me pediu para ficar.

— Fica comigo, por favor — ele pediu com um tom de voz quase suplicante. A sua expressão era um reflexo da vulnerabilidade que ele estava sentindo naquele momento.

Olhei rapidamente para o pai de Vicenzo, buscando algum tipo de permissão para permanecer. Ele me deu um leve assentimento com a cabeça, como se dissesse que a minha presença era mais do que bem-vinda e que eu poderia ficar. Esse gesto de aprovação me deu a confiança que eu precisava para continuar ao lado de Vicenzo.

— Eu estou aqui com você — eu disse suavemente, enquanto me acomodava ao lado da cama. — Tente se acalmar, acabou de sair de um procedimento cirúrgico, por favor não teste o seu coração agora — falei com um leve sorriso.

Eu segurei a sua mão com firmeza, tentando transmitir a ele a certeza de que não estava sozinho. Seus dedos estavam frios, e eu me perguntei se o frio na sala estava contribuindo para isso, ou se era apenas o efeito do pós operatório.

Enquanto ele tentava se acomodar na cama, eu o observei com atenção, tentando identificar qualquer sinal de desconforto ou necessidade. Ele respirava com dificuldade, e a sua expressão era de esforço. Eu continuei a segurar sua mão, passando a outra sobre a dele para dar um apoio adicional. O calor do meu toque parecia trazer um pouco de conforto, e eu esperava que isso ajudasse a acalmá-lo.

Os pais do Vincenzo perguntaram como tudo ocorreu e eu dei o meu paracer, agora com a mente mais clara, pude detalhar melhor.

— A cirurgia foi um sucesso, Sr. e Sra. Bianchi. — Minha voz soou firme, mas no fundo eu sentia um nó na garganta. Vicenzo não soltava minha mão nem por um segundo. Eu podia sentir o calor da sua pele — Os próximos dias vão exigir alguns cuidados específicos. Vamos precisar ter muita atenção com a medicação e com a alimentação dele. Ele também vai precisar de bastante repouso e visitas limitadas.

Enquanto eu falava, a mãe de Vicenzo olhava constantemente para nossas mãos entrelaçadas. Eu percebia que ela tentava disfarçar um sorriso. Já o pai de Vicenzo, como sempre, mantinha a expressão fechada. Ele nunca demonstrava nenhuma emoção, nem nos momentos mais difíceis. Eu sabia que seria difícil convencê-lo de qualquer coisa.

Vicenzo virou o rosto lentamente para o pai, seus olhos se cravando nos dele. Eu conseguia sentir a tensão no ar.

— Pai... Deixa a Zoe ir para casa, por favor. — As palavras saíram com dificuldade da boca de Vicenzo. Era como se cada uma delas drenasse um pouco mais da pouca energia que ele tinha. Eu me assustei com o pedido dele. mas internamente eu implorava para que o pai dele aceitasse o pedido.

O pai de Vicenzo soltou um suspiro pesado, sem desviar o olhar do filho.

— Agora não, Vicenzo. — Sua voz era tão dura quanto sua expressão. — Quando então? — Vicenzo insistiu, sua voz quase um sussurro. — Quando você estiver bem. Zoe pode ir embora, mas não vai poder abrir o bico sobre nada do que aconteceu aqui.

O ar no quarto ficou pesado, como se o oxigênio tivesse sido sugado para fora. Tomei coragem e fiz um pedido que eu sabia que não seria bem recebido.

— Posso ligar para minha mãe, Sr. Bianchi? Ela deve estar preocupada...

Eu sabia que aquela simples pergunta poderia desencadear uma reação negativa, mas eu precisava tentar. Vicenzo, que até então estava exausto, virou o rosto para a mãe.

— Mãe, dá o celular para Zoe, por favor. — Sua voz era fraca, quase um gemido, mas havia uma determinação ali que eu não tinha ouvido antes.

A mãe de Vicenzo deu um passo na minha direção, com o celular na mão, mas antes que pudesse me entregar, o pai dele a segurou pelo braço.

— Não. — Foi tudo o que ele disse, mas a palavra soou como uma sentença. Eu senti meus olhos se encherem de lágrimas. O que mais eu poderia fazer? Eu estava presa ali, sem comunicação, sem qualquer contato com o mundo exterior.

— Mãe... — Vicenzo tentou falar novamente, mas sua voz falhou. Ele apertou minha mão com a pouca força que ainda tinha e ordenou, mesmo que quase sem ar — Entrega o celular para ela...

Nesse momento, o rosto de Vicenzo começou a perder a cor, seus lábios ficaram ligeiramente azulados. Eu sabia o que estava acontecendo e, no mesmo instante, soltei sua mão e me levantei rapidamente, pegando a máscara de oxigênio que estava ao lado da cama. Coloquei a máscara sobre o rosto dele, ajustando-a para garantir que o oxigênio fluísse corretamente.

— Respira, Vicenzo — Eu repetia em um tom quase desesperado, meus olhos fixos nos dele. — Por favor, respira.

A mãe de Vicenzo me olhou com um misto de preocupação e gratidão, enquanto o pai dele permaneceu imóvel, observando tudo sem mover um músculo. O quarto estava em silêncio, exceto pelo som do oxigênio saindo da máscara e pelo meu coração batendo acelerado no peito. Eu sentia uma mistura de pânico e impotência, mas também uma determinação feroz para mantê-lo vivo, custe o que custar.

— Você tem que se recuperar, Vicenzo — Eu disse em um sussurro, segurando novamente sua mão com força. — Por favor, melhora — Eu não sabia se ele me ouvia, mas precisava acreditar que sim.

Ele respirou fundo, sua pele começou a recuperar um pouco da cor, e eu finalmente consegui soltar o ar que estava prendendo nos pulmões. Mais uma vez, olhei para a mãe dele, que agora estava ao lado da cama, segurando a outra mão de Vicenzo. Ela não disse nada, mas suas lágrimas gritaram.

Pedi para Vicenzo se acalmar e descansar. Pedi aos pais dele compreensão, mas nesse momento ele precisa descansar. A mãe de Vicenzo me abraçou, e falou baixinho em meu ouvido.

— Não se preocupe, vou dar notícias a sua mãe.

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Comments

Keila Mar

Keila Mar

o pai dele como uma parte dos mafiosos, um cretino

2025-03-07

0

Neca Lopes

Neca Lopes

Pai dele é mal agradecido, mãe é mãe

2025-03-25

0

Rosa Pinto

Rosa Pinto

que bom que a mãe do Vicenzo vai ajudar a Zoe.👏👏👏👏🙏

2025-03-02

2

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