Vicenzo narrando
Sentado na cama do hospital, eu tentava manter a conversa com minha mãe fluindo, mas o cansaço me dominava cada vez mais. Cada palavra que eu dizia parecia um esforço hercúleo, como se cada sílaba fosse tirada de mim à força. Minha mãe, como sempre, estava ali, tentando manter o sorriso, mas eu conseguia ver a preocupação por trás de seus olhos.
Eu estava tão cansado que comecei a perder a noção de tempo e espaço. Tudo ao meu redor começou a parecer um borrão, como se o mundo estivesse se afastando de mim lentamente. Eu tentei disfarçar, mantendo a voz calma, mesmo que por dentro eu estivesse apavorado.
Mas a doutora Zoe, ela é atenta demais para deixar algo passar despercebido. No meio da conversa, vi que seu olhar se fixou em mim, como se ela estivesse enxergando através de mim. Para muitos, esse cansaço extremo poderia ser apenas mais um sintoma, algo esperado nessa situação.
Ela se aproximou rapidamente e, com a eficiência que só alguém como ela poderia ter, me colocou uma máscara de oxigênio. O alívio foi quase imediato. Não completo, mas o suficiente para que eu conseguisse respirar melhor, para que meus pulmões, ainda que por um momento, não precisassem lutar tanto por um pouco de ar. Minha mãe, vendo que eu estava um pouco mais estabilizado, se despediu com um beijo na testa, me prometendo que voltaria amanhã. Quando ela saiu, ficamos apenas eu e Zoe no quarto. O silêncio entre nós é pesado, mas não desconfortável.
Eu fechei os olhos, me permitindo apenas sentir. O alívio era temporário, eu sabia disso. Mas por aquele momento, me permiti esquecer, me permiti apenas respirar. Quando abri os olhos novamente, Zoe estava ali, sentada na poltrona ao lado da cama, me observando
Seus olhos... Eu não sei como descrever exatamente o que vi neles. Era compaixão, sem dúvida, mas também havia uma sombra de pena. E não era a primeira vez que eu via aquele olhar. Eu estou acostumado com isso. Médicos, enfermeiros, até mesmo meus amigos e familiares, todos me olham dessa forma de vez em quando.
Eu não queria a pena de ninguém. Quero apenas viver, o máximo que puder, sem ser lembrado a todo instante de que meu tempo está contado.
O som contínuo do monitor cardíaco era a única coisa que preenchia o silêncio ao meu redor. O quarto estava mal iluminado, e as cortinas pesadas nas janelas bloqueavam qualquer indício do mundo exterior. Senti um peso no peito que não era apenas físico; era como se cada batida do meu coração estivesse forçando seu caminho para continuar. Era um esforço monumental simplesmente manter os olhos abertos.
Foi então que ouvi um barulho no corredor. Um som baixo, mas distinto, que fez com que meus sentidos, já aguçados pela dor e pela exaustão, se concentrassem imediatamente na porta. A maçaneta girou e a porta se abriu lentamente, revelando um dos seguranças. Ele estava empurrando uma cama para dentro do quarto. Por um segundo, meu coração apertou ainda mais no peito, mas ao ver que era só isso, me permiti relaxar um pouco.
O segurança, em silêncio, empurrou a cama para o lado da minha, ajustando-a com cuidado. Eu não disse uma palavra, apenas fiz um leve sinal com a cabeça para que ele saísse. Não quero que ninguém me veja assim, tão vulnerável, tão dependente de outros. Zoe, que estava sentada ao meu lado, agradeceu ao segurança com um olhar, e ele saiu do quarto tão discretamente quanto entrou.
O silêncio voltou, mas não durou muito. Uma enfermeira entrou logo em seguida. Ela não disse nada, apenas foi até a cama recém-colocada e começou a arrumá-la. Suas mãos se moviam de maneira automática, quase indiferente, como se ela estivesse acostumada a fazer aquilo várias vezes por dia. Eu observei cada movimento, tentando desviar minha mente do desconforto que sentia. Quando terminou, a enfermeira me lançou um olhar rápido, uma espécie de avaliação silenciosa, e saiu do quarto.
Assim que a porta se fechou atrás dela, Zoe se aproximou da cama. agora, havia algo diferente nela, algo que eu não conseguia identificar de imediato. Ela tocou minha mão, seus dedos frios e delicados encontrando os meus. Era um gesto simples, mas carregado de uma intimidade que fez com que meu peito se apertasse ainda mais.
— Vou deixar você mais um pouco no oxigênio — ela disse suavemente, quase como se estivesse falando para si mesma. — Preciso tomar um banho.
Assenti levemente, sem dizer nada. Eu sabia que ela estava tentando ser forte, tentando manter as aparências, mas eu podia ver que isso estava cobrando seu preço. Zoe se virou e caminhou até o banheiro, fechando a porta atrás de si. O som da água começou a ecoar pelo quarto, uma espécie de música suave que contrastava com o silêncio opressivo que me envolvia.
O tempo passou de maneira estranha. Eu não sei dizer quanto tempo fiquei ali, imóvel, ouvindo a água correndo no banheiro. Podiam ter sido minutos ou horas; minha percepção estava completamente distorcida pela exaustão. Minha mente vagava entre pensamentos dispersos e preocupações que eu tentava ignorar.
Quando finalmente ouvi o som da água parar, senti uma leve ansiedade. Não era comum para Zoe demorar tanto. Eu sabia que algo estava errado, mas, naquele momento, eu estava impotente para fazer qualquer coisa a respeito. A porta do banheiro se abriu, e eu virei a cabeça, procurando seus olhos.
Ela saiu do banheiro lentamente, como se carregasse o peso do mundo nos ombros. Seus cabelos ainda estavam molhados, pingando água sobre a roupa limpa que havia vestido. Mas o que mais chamou minha atenção foram seus olhos. Eles estavam vermelhos, inchados. O rosto dela estava marcado, como se tivesse chorado muito.
Ela se aproximou da cama novamente, mas dessa vez não disse nada. Tirou a máscara e desligou o oxigênio, perguntou como eu estava me sentindo. Tocou em meu pulso e ficou monitorado pelo relógio.
— A partir de agora, você vai entrar na dieta, vou chamar o médico responsável pelo hospital. Amanhã cedo vamos fazer os últimos exames e com o resultado em mãos, eu vou te Operar.
Ela falou determinada e a esperança surgiu dentro de mim.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Helga Coelho
Ela deveria ter pedido o telemóvel dele ao menos para tranquilizar a mãe dela.
2025-03-24
0
Giovânia Calunga De Oliveira
Nao é fácil o que ela esta passar
2025-02-22
0
Jossileide cardeal
ela tá sendo bem forte e focada a cada segundo de milésimo
2024-11-26
1