Zoe

Zoe narrando

Assim que terminou a cirurgia, eu mandei levar o Vicenzo direto para o pós-operatório. A equipe estava preparada, e eu só conseguia pensar em garantir que tudo estivesse perfeito para ele. Enquanto ele era transferido, fiquei acompanhando de perto, certificando-me de que nada fosse negligenciado. Eu sei que ele ainda tem um longo caminho pela frente, mas cada etapa bem-sucedida já era uma vitória.

Eu estava no pós-operatório, esperando o próximo paciente, quando o diretor do hospital apareceu na porta, com a expressão séria. Ele olhou para mim e, com a voz firme, disse:

— Doutora Zoe, preciso que você venha comigo. A família de Vicenzo está esperando notícias da cirurgia.

Me levantei imediatamente, o cansaço de horas ferrenhas ficando para trás. Vicenzo é um paciente com caso complicado, mas a cirurgia havia corrido melhor do que esperávamos. Mesmo assim, sabia que o momento de falar com a família era sempre delicado. Os pais dele, em particular, estavam extremamente preocupados, como qualquer pai estaria.

Caminhei ao lado do diretor pelos corredores do hospital, o som dos nossos passos ecoando no chão de cerâmica. Minha mente estava a mil, revisando cada detalhe da cirurgia, preparando-me para responder a qualquer pergunta que os pais de Vicenzo pudessem fazer. Eu sei que, apesar do sucesso da operação, o pós-operatório também seria crucial, e os próximos dias exigiriam muita paciência e cuidado.

Quando chegamos em frente ao bloco cirúrgico, avistei os pais de Vicenzo. Eles estavam ali, de pé, parecendo perdidos em um mar de incertezas. A mãe de Vicenzo estava com os olhos vermelhos de tanto chorar, enquanto o pai mantinha uma postura rígida, mas seu rosto denunciava a preocupação que ele tentava esconder.

Olhei primeiro para o pai de Vicenzo, um homem de poucas palavras e olhar penetrante, e depois para a mãe, que parecia segurando as lágrimas para não desabar ali mesmo. Eu me aproximei deles e, com um sorriso suave, comecei a falar:

— A cirurgia foi um sucesso. Conseguimos remover toda a massa e estabilizar o sangramento. Vicenzo está na sala de recuperação neste momento, e agora o mais importante é esperar ele acordar para monitorarmos a recuperação.

A mãe de Vicenzo deixou escapar um suspiro de alívio, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto enquanto ela finalmente permitia que o medo se transformasse em esperança. Ela agarrou minha mão com força, como se precisasse de um ponto de apoio para se manter de pé.

— Ele... ele vai ficar bem, doutora? — perguntou, a voz trêmula, ainda carregada de ansiedade.

— Tudo indica que sim, — respondi, mantendo meu tom calmo. — Mas precisamos ser pacientes. O processo de recuperação pode ser lento, e cada paciente reage de forma diferente. Agora, a melhor coisa que podemos fazer é esperar ele acordar e observar como seu corpo vai reagir.

O pai de Vicenzo finalmente soltou um suspiro longo, como se estivesse segurando a respiração desde o início da cirurgia. Ele assentiu com a cabeça, ainda absorvendo as informações. Eu podia ver que ele tentava ser forte, mas a preocupação pelo filho estava evidente em cada linha do seu rosto.

— Obrigado, doutora, — disse ele, sua voz grave. — Sabemos que vocês fizeram o possível. Só queremos que ele se recupere logo.

Assenti, compreendendo o peso daquelas palavras. Entendi que, para eles, a luta ainda estava longe de terminar. O sucesso da cirurgia era apenas o primeiro passo de uma jornada que poderia ser longa e árdua.

— Eu prometo que vamos cuidar dele com o máximo de atenção, — assegurei-lhes. — Ele está em boas mãos.

A mãe de Vicenzo começou a chorar novamente, mas dessa vez era um choro de alívio. Ela me agradeceu repetidamente, sua voz abafada pelas lágrimas. O pai de Vicenzo apenas colocou a mão no ombro dela, tentando confortá-la da melhor maneira que podia.

Ficamos ali por mais alguns minutos, conversando sobre o que eles poderiam esperar nas próximas horas e dias. Eu expliquei que ele estaria sob observação constante, e que informaria qualquer mudança em seu estado. Reforcei que a recuperação completa exigiria tempo, mas que, com o apoio deles e os cuidados da equipe médica, Vicenzo tinha boas chances de se recuperar.

Quando finalmente me despedi deles, senti uma onda de cansaço me atingir novamente. A adrenalina que havia me sustentado nas últimas horas começava a desaparecer, mas ainda havia muito a ser feito. Enquanto voltava ao pós-operatório, meus pensamentos ainda estavam com Vicenzo e sua família. Eu sabia que, apesar de todo o treinamento e experiência, momentos como esse nunca se tornariam fáceis. Cada paciente era uma nova batalha, e cada vitória, por menor que fosse, é uma razão para continuar.

Estava exausta, o cansaço pesando nos meus ombros como se eu carregasse o mundo inteiro. Eu sabia que precisava de um momento, um breve respiro para não sucumbir à exaustão. Decidi, então, que precisava falar com o diretor do hospital.

— Eu preciso de um lugar para descansar um pouco. Estou me sentindo muito cansada.

O diretor me olhou por um momento, avaliando minha condição. Ele sabia que, como médica, eu não pediria algo assim se não fosse realmente necessário.

— Claro, Zoe. Venha comigo — disse ele, me guiando por um corredor estreito, até uma pequena sala ao lado do pós-operatório.

Quando ele abriu a porta, vi uma cama simples, com cobertas dobradas ao pé. Não era nada luxuoso, mas naquele momento, parecia um oásis no meio do deserto.

Pode descansar aqui. Eu vou garantir que você não seja incomodada — ele disse, com um sorriso reconfortante.

Agradeci com um aceno de cabeça e entrei na salinha. Assim que fechei a porta atrás de mim, senti o peso do mundo diminuir um pouco. Coloquei meu jaleco na cadeira ao lado e me aproximei da cama, que me chamava como um velho amigo.

Me Deitei e puxei as cobertas para cima, sentindo o calor me envolver. Fechei os olhos e, pela primeira vez em horas, me permiti relaxar. Ouvi os sons abafados do hospital ao fundo, mas eles logo se misturaram aos meus pensamentos dispersos. Meu corpo estava exausto, mas minha mente, por um breve momento, encontrou paz.

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