ZOE NARRANDO
Pedi para ficar a sós com o paciente, para poder examinar. O pai dele hesitou, e antes de sair me pediu para te entregar seu celular, tirei o aparelho de dentro da bolsa e um dos homens de preto, pegou a bolsa da minha mão vasculhando. Retirou o aparelho e entregou ao Senhor, Ele me entregou a bolsa novamente. E eles saíram.
Assim que a porta se fechou atrás deles, respirei fundo e me aproximei do rapaz. Ele estava deitado na maca, pálido e vulnerável. A má formação no coração é a algo muito sério, e algo que estou acostumada a trabalhar, mas nunca deixo de me impactar. É um órgão, tão fundamental, mas tão frágil, e tem um defeito que o fazia lutar para funcionar, como uma máquina mal ajustada.
Eu comecei a examiná-lo com cuidado, meus dedos deslizando suavemente sobre a pele fria enquanto escutava os sons abafados do coração dele. O som irregular era inconfundível, e cada batida parecia um pequeno lembrete do tempo que se esgotava. No meio do exame, senti uma mudança na respiração dele e, quando olhei para cima, vi que seus olhos estavam abertos.
Ele estava me encarando, os olhos fixos em mim, com uma expressão dura, quase hostil. Mas eu reconheci o medo por trás daquela fachada, o pânico que ele tentava esconder ele sabe que algo estava muito errado com ele.
– Quem é você? – Ele perguntou, a voz rouca e fraca, mas carregada de desconfiança.
Eu mantive a calma, mesmo sabendo que uma resposta errada poderia piorar a situação. O coração dele não podia lidar com um pico de adrenalina ou uma onda de pânico. Minha voz saiu suave, quase tranquilizadora.
— Olá Vicenzo, eu sou a doutora Zoe Bittencourt, sua médica – Respondi, ainda concentrada no meu trabalho, evitando o contato visual direto. Sabia que manter a conversa leve e o ambiente controlado era crucial.
Ele soltou um riso seco, sem humor nenhum, e o som ecoou pela sala como um estalo.
— Conta outra – Ele disse, o tom era sarcástico, mas o medo não passou despercebido.
Eu continuei, meu foco ainda no exame. Não podia perder a concentração agora.
– Estou falando a verdade. Fui contratada pelo seu pai. – Eu menti com a maior naturalidade, sabendo que qualquer outra resposta poderia ser desastrosa para o seu frágil coração.
Ele ficou em silêncio por um momento, e eu senti o peso do seu olhar sobre mim, mas me recusei a levantar os olhos. Não podia correr o risco de confrontá-lo diretamente. Concentre-se, Zoe, é só mais um paciente. Repeti para mim mesma.
Eu sabia que ele não acreditava em mim, mas isso não importava. O que importava era que ele permanecesse calmo. Meu coração batia com firmeza enquanto eu já estava terminando o exame, tentando me manter profissional e alheia ao turbilhão de emoções que sentia por dentro. Eu precisava agir com precisão cirúrgica, tanto nas palavras quanto nas ações. Cada detalhe podia significar a diferença entre a vida e a morte.
Eu finalmente terminei, afastei-me dele e dei um último olhar em seus olhos, onde a dureza havia começado a ceder.
O quarto do hospital tinha uma frieza que não combinava com o calor de uma vida em risco. Olhei para os exames que o médico anterior havia deixado em cima da mesa. Eram muitos, cada um mais complexo que o outro.
tentei puxar conversa enquanto folheava os relatórios médicos.
— Como você está se sentindo?
Ele apenas deu de ombros e desviou o olhar. Estava claro que ele não era de muitas palavras. Talvez fosse o medo ou a simples exaustão que o tornavam tão introspectivo.
Nesse momento, a enfermeira entrou, carregando uma bandeja com medicamentos.
— O que temos aqui? — perguntei, levantando os olhos para ela.
— Esta é a medicação prescrita pelo médico — respondeu, apontando para os comprimidos.
Analisei por um momento e, notando que algo poderia ser ajustado, comentei:
— Concordo com a maioria, mas vamos adicionar um anticoagulante leve para prevenir complicações. Pode aplicar imediatamente, por favor.
A enfermeira assentiu e saiu do quarto, enquanto eu voltava minha atenção para Vincenzo.
— Vamos começar com os exames pré-operatórios, ok? — disse com uma calma que não sentia totalmente, esperando que ele se abrisse um pouco mais.
Vincenzo apenas acenou com a cabeça, ainda sem pronunciar uma palavra. O silêncio entre nós era quase palpável, e eu podia sentir o peso da situação sobre seus ombros.
De repente, a porta do quarto se abriu com um ranger baixo, revelando um homem que, à primeira vista, carregava a mesma seriedade de Vincenzo, mas com um brilho de preocupação nos olhos.
— Como estão as coisas? — perguntou ele, a voz grave e carregada de expectativa.
Respirei fundo, sabendo que teria que ser detalhada e cuidadosa com minhas palavras. Expliquei o quadro clínico de Vincenzo, enfatizando a gravidade. O coração dele não se desenvolveu como deveria, e por isso, parte de sua estrutura era anormal. Esse tipo de má-formação faz com que o fluxo sanguíneo fosse inadequado, sobrecarregando o coração e forçando a trabalhar muito mais do que deveria.
— Vamos ter que realizar uma cirurgia complexa para corrigir a má-formação — comecei, olhando diretamente para o pai de Vincenzo. — Primeiro, precisamos redirecionar o fluxo sanguíneo para aliviar a pressão sobre o coração. Para isso, utilizaremos um procedimento chamado correção anatômica, onde reconstruiremos a parte malformada do coração, permitindo que o sangue flua corretamente. Após isso, colocaremos um stent ou uma válvula, dependendo do que encontrarmos durante a cirurgia. A operação é de alto risco, mas é a melhor chance que temos para garantir que o coração dele funcione como deve.
Enquanto falava, pude ver o peso dessas palavras sobre o pai de Vincenzo. Ele assentiu lentamente, absorvendo tudo o que eu disse.
Mas havia algo mais que eu precisava abordar antes de sair do quarto.
— Gostaria de falar com o senhor em particular, se possível. — pedi, me aproximando mais do pai de Vincenzo.
Ele franziu o cenho, mas concordou. Caminhamos até o corredor, onde o silêncio era interrompido apenas pelos passos suaves das enfermeiras e os sons distantes dos aparelhos médicos.
— Preciso ir embora agora, já fiz tudo o que podia por hoje. Amanhã retornarei para continuar o acompanhamento do Vincenzo. — falei com calma, esperando que ele compreendesse.
— Você não vai a lugar nenhum, doutora. — suas palavras eram como aço, e o tom imperativo fazia minha respiração acelerar. — Só sairá daqui quando meu filho estiver fora de perigo. Não confio em mais ninguém para cuidar dele.
Senti meu coração disparar, uma onda de pânico começando a tomar conta de mim. Eu estava acostumada a lidar com situações de alta pressão, mas isso era diferente. Era uma mistura sufocante de desespero e impotência.
— Por favor, senhor, eu entendo sua preocupação, mas preciso estar descansada para poder ajudá-lo da melhor forma. — implorei, tentando manter a voz firme, mas ela já estava carregada de desespero. — Se eu ficar aqui a noite toda, estarei exausta amanhã e isso pode prejudicar o tratamento do seu filho.
Mas ele não parecia ouvir ou entender. Sua expressão era de uma determinação fria e implacável.
— Eu não ligo para o que você precisa, doutora. Vou mandar trazer outra cama e colocar no quarto — respondeu ele, seu tom de voz cortante como uma lâmina. — A única coisa que importa agora é o meu filho.
Essas palavras me atingiram em cheio. Sentia o suor frio escorrer pela minha nuca, o pânico crescendo dentro de mim como uma maré. Eu sabia que precisava sair, recarregar, pensar com clareza, mas aquele homem não estava disposto a me deixar partir.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Neca Lopes
Que enrascada que colocaram ela ,nossa
2025-03-25
0
Giovânia Calunga De Oliveira
Aff como ela vai conseguir cura-lo , se estiver muito cansada
2025-02-22
2
Leoneide Alvez
o descanso de zoe e a melhora do paciente
2024-11-16
1