Zoe Narrando
Eu entrei no banheiro e me tranquei. Eu precisava de um momento para mim, um momento para deixar tudo de lado, mesmo que fosse apenas por alguns minutos. Liguei o chuveiro, e a água quente começou a escorrer pelo meu corpo, tentando aliviar a tensão que parecia enraizada nos meus músculos. Mas a verdade é que a água não conseguia levar embora a angústia que eu sentia.
Enquanto a água caía, meus pensamentos me levavam para longe, para a minha mãe, para a vida que eu deixei lá fora. Ela sempre foi meu pilar, minha força quando eu achava que não tinha mais nada. Agora, aqui, sozinha, me sentia frágil, vulnerável. O medo esmagava o meu peito, e as lágrimas que eu vinha tentando segurar durante todo esse tempo finalmente desceram, ainda mais quentes que a água que escorria pelo meu rosto.
Eu não sabia mais se chorava por medo, por tristeza, ou pela simples necessidade de soltar todo o peso que eu vinha carregando. Minha mãe sempre me dizia que chorar não era sinal de fraqueza, mas de coragem. Coragem para admitir que as coisas estão difíceis, que estamos cansados. E, nesse momento, eu estou exausta.
Enquanto as lágrimas se misturavam com a água do banho, eu deixei que meus pensamentos vagassem. Pensei em tudo o que deixei para trás, nas escolhas que fiz, no caminho que escolhi seguir. Eu sei que ela está lá fora, provavelmente preocupada comigo, rezando para que eu seja encontrada. Provavelmente já estão cogitando o meu sumiço. O simples pensamento de vê-la novamente, de sentir seu abraço reconfortante, me dá forças para continuar.
Terminei o banho, mas ainda me sentia pesada, como se as lágrimas não tivessem sido suficientes para aliviar a dor. Eu me sequei rapidamente, tentando ignorar o vazio que parecia aumentar a cada segundo. Me vesti e me olhei no espelho. Minha expressão ainda estava marcada pela tristeza, mas tem uma determinação nos meus olhos que não estava ali antes.
Eu sei o que preciso fazer. Não posso mais me dar ao luxo de ficar presa no meu próprio desespero. O tempo está contra nós, e Vicenzo não pode esperar. Se eu quero que esse pesadelo acabe, terei que agir agora.
Eu não conseguia tirar os olhos dele. Vicenzo estava deitado na cama, respirando fundo, tentando aparentar uma calma que eu sabia que ele não sentia. O monitor ao lado piscava e apitava com seus sinais vitais, como se me lembrasse constantemente da responsabilidade que eu tinha em mãos.
— Você vai precisar entrar na dieta zero a partir de agora, Vicenzo — eu disse, mantendo minha voz firme e serena. — Nada de comida ou bebida até amanhã de manhã. Vou te operar assim que o sol nascer.
Ele apenas assentiu, sem dizer uma palavra, mas seus olhos me contavam uma história diferente. Eu conseguia enxergar o medo, a incerteza, mas também a determinação de quem estava disposto a lutar pela própria vida. Era um homem forte, alguém que estava acostumado a enfrentar desafios, mas aquele, eu sabia, era diferente de tudo que ele já tinha vivido.
Eu apertei o botão ao lado da cama para chamar a equipe médica. Não podia sair do quarto, não queria deixar Vicenzo sozinho nem por um minuto. Em poucos minutos, uma enfermeira entrou, e eu fui direta.
— Preciso falar com o médico responsável pelo departamento cardiológico agora — ordenei, sentindo a urgência na minha voz.
Enquanto esperávamos, tentei me concentrar em mantê-lo calmo.
— Vai dar tudo certo, Vicenzo — eu disse, tentando transmitir confiança.
Logo o médico responsável chegou.
— Vou operá-lo amanhã cedo — expliquei. — vou prescrever apenas os exames urgentes, os que têm resultados rápidos. Não podemos perder tempo com protocolos desnecessários.
Ele concordou com um aceno, e logo saiu para providenciar o que eu pedi. Vicenzo me observava o tempo todo, seus olhos acompanhando cada movimento meu. Eu conseguia sentir a tensão no ar, e a cada segundo que passava, parecia que ele ficava mais inquieto.
— Eu sei que isso é difícil, mas estou aqui com você. Vamos passar por isso juntos — disse, me aproximando da cama.
Eu sabia que ele precisava de algo mais do que palavras agora. Precisava descansar, acalmar a mente.
— Vou aplicar uma medicação para te ajudar a relaxar, Vicenzo. Vai te fazer bem.
Peguei a seringa e injetei o sedativo no soro dele. Vi seus olhos se fechando aos poucos, a tensão em seus músculos relaxando.
— Obrigado — ele murmurou antes de adormecer completamente.
Agora, o quarto estava silencioso, exceto pelo som constante do monitor. Me Sentei ao lado dele, observando os sinais vitais, esperando qualquer alteração. Ele precisava de paz, e eu precisava garantir que ele a tivesse.
Os exames chegaram, e mesmo sem sair do quarto, consegui que tudo fosse revisado. Passei a noite inteira de olho nos resultados, conferindo cada detalhe. Não podia haver margem para erro. Isso me consumia, a responsabilidade, o peso de saber que a vida dele dependia de cada decisão que eu tomasse.
Já era madrugada quando tentei descansar um pouco na poltrona ao lado da cama dele, mas o sono não veio. Minha mente estava a mil, revendo cada passo da cirurgia, imaginando cada complicação possível e como eu poderia contorná-la. Mas a exaustão, mesmo que eu lutasse contra, estava lá.
Quando o sol começou a nascer, ouvi Vicenzo se mexer na cama. Ele despertava lentamente, os olhos piscando contra a luz fraca que entrava pela janela.
— Bom dia — eu disse, forçando um sorriso para esconder meu cansaço.
— Já é de manhã? — Ele parecia surpreso, a voz ainda rouca de sono.
— Sim, e hoje é o grande dia. — Me Sentei mais perto dele, sentindo a necessidade de uma última conversa antes de levá-lo para a cirurgia. —Você está pronto para uma nova vida, Vicenzo?
Ele respirou fundo, e pude ver que ele lutava para encontrar as palavras certas. — Eu acho que sim. Não sei se estou realmente pronto, mas sei que quero isso. Quero viver, doutora Zoe.
Eu segurei a mão dele, apertando-a levemente.
— É tudo o que precisamos. Força de vontade. Você tem isso, e eu vou fazer de tudo para garantir que você saia dessa cirurgia com uma nova chance.
Ele sorriu, um sorriso fraco, mas genuíno.
— Obrigado por não sair daqui. Por ficar comigo.
— Não posso sair, Vicenzo, esqueceu — eu respondi, sinceramente.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas sentindo a presença um do outro. Sabia que ele estava apreensivo, mas também sabia que agora ele estava mais tranquilo, preparado para o que estava por vir.
O dia mal começou, e eu já sentia o peso das próximas horas. Mas olhei para Vicenzo, agora calmo e confiante, e soube que estávamos prontos. A batalha seria dura, mas eu não o deixaria enfrentar sozinho.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Rosa Pinto
Força Zóe 👏👏👏
2025-03-02
3
Leoneide Alvez
vai dá tudo certo doutora
2024-11-22
2
Nadia Genizeli
Vai dá TD certo Zoe vc é a melhor .
😍😍😍😍🙏🙏
2024-11-16
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