Vicenzo

VICENZO NARRANDO

Senti um frio na espinha quando as preparações para a cirurgia começaram. A ansiedade era palpável, e meu coração estava acelerado como um tambor desgovernado. As enfermeiras e médicos se moviam ao redor de mim com uma eficiência tranquila, ajustando equipamentos e verificando tudo meticulosamente. Eu tentava me concentrar em algo positivo, mas o peso da situação me envolvia completamente.

O momento que me marcou foi quando a Dra. Zoe se aproximou. Seus olhos, cheios de empatia e profissionalismo, foram a última visão que tive antes de ser injetado com a anestesia. Havia algo reconfortante na sua presença, um lembrete de que estava em boas mãos. Com um esforço final para me acalmar, deixei a consciência se esvair. O que tiver de ser, será, e eu estava pronto para enfrentar o que viesse.

A sensação de cair em um sono profundo foi como ser envolvido por um manto pesado de escuridão. Não havia sonhos, apenas um vazio absoluto até que, de repente, eu comecei a despertar. A primeira coisa que percebi foi um frio intenso, quase cortante. Meus olhos se abriram lentamente, e a visão que se apresentou era de uma sala fria e estéril, com paredes brancas e um ambiente clínico implacável.

O som do monitor cardíaco ao meu lado era constante e ritmado, uma presença que me lembrava que estava vivo e que a cirurgia tinha terminado. O frio do ambiente parecia penetrar nos meus ossos, e eu sentia uma estranha mistura de fraqueza e desconforto. Meus movimentos eram lentos e desajeitados, como se meu corpo ainda estivesse se ajustando ao que tinha passado.

A dor no peito era uma sensação constante, um lembrete físico de que eu havia passado por uma cirurgia complexa. Enquanto acordava no pós-operatório, o impacto disso estava se tornando evidente. A sensação de estar fora de controle e a dependência dos cuidados médicos tornavam a situação ainda mais desconcertante.

Uma enfermeira entrou na sala, e seu olhar gentil e seu sorriso acolhedor foram um alívio. Ela começou a me fazer perguntas simples, verificando meu nível de consciência e avaliando a dor que eu sentia. Respondi o melhor que pude, tentando encontrar uma forma de lidar com o cansaço e o desconforto. A enfermeira ajustou a temperatura do ambiente, explicando que tudo estava indo bem e que a cirurgia tinha sido um sucesso.

Assim que Zoe entrou na sala, eu ainda estava me ajustando à sensação estranha no meu corpo. Tudo parecia diferente, como se estivesse preso a algo. Assim que nossos olhos se encontraram, ela se aproximou rapidamente, e seu olhar examinador imediatamente me deu um pouco mais de segurança. Ela é sempre atenta, sempre profissional, mas havia algo a mais em seus gestos, algo que fazia com que eu me sentisse cuidado de uma maneira que nunca havia experimentado.

— Como você está se sentindo? — ela perguntou, inclinando-se levemente para me olhar mais de perto.

— Não sei ao certo — respondi, tentando encontrar as palavras certas. — Há um desconforto, como se algo estivesse fora do lugar, mas ao mesmo tempo, não é uma dor insuportável.

Zoe assentiu, seus olhos nunca deixando os meus. Havia uma calma em sua presença que parecia irradiar para mim.

— Isso é normal — ela me tranquilizou. — O seu corpo está se adaptando. Essa sensação pode durar um pouco, mas logo vai se acostumar.

O tom de sua voz, firme e gentil, ajudou a aliviar parte da tensão que eu nem sabia que estava carregando. Senti um pouco do peso se dissipar enquanto ela falava. Ainda assim, havia uma questão que estava na minha mente desde que acordei.

— E a cirurgia? — perguntei, com uma ansiedade que eu não conseguia esconder. — Como foi?

Zoe sorriu, aquele sorriso que os olhos brilham, que conseguia suavizar qualquer preocupação.

— Foi um sucesso. — Ela se endireitou, cruzando os braços enquanto continuava. — A cirurgia correu exatamente como planejado, sem complicações. Mas agora, a parte mais importante é a sua recuperação. Vou acompanhar de perto, especialmente nas próximas 48 horas.

Você vai ficar em observação no hospital durante esse tempo, e eu estarei aqui para garantir que tudo continue indo bem.

A maneira como ela falava, com tanta certeza e confiança, me fez sentir que eu estava em boas mãos, como se nada pudesse dar errado enquanto ela estivesse por perto.

— Entendi — murmurei, mais para mim mesmo do que para ela. O alívio estava começando a tomar conta de mim, substituindo a incerteza que me assombrava desde que acordei.

Zoe então se moveu ao lado da maca onde eu estava deitado, ajustando algumas coisas no equipamento que me rodeava. Ela era meticulosa, cada movimento feito com precisão e cuidado. Quando terminou, ela se voltou para mim novamente.

— Vou pedir para te levarem de volta para o seu quarto — disse ela. — Ele já está pronto e esterilizado, preparado para que você fique o mais confortável possível.

Antes de se afastar, ela pegou uma máscara cirúrgica e colocou sobre o meu rosto, prendendo as alças atrás das minhas orelhas com a mesma precisão que demonstrava em tudo o que fazia.

— Vamos? — perguntou, olhando para mim com aquela mistura de profissionalismo e humanidade que parecia ser a marca registrada dela.

Assenti, e logo em seguida dois enfermeiros entraram para ajudar a mover a maca. Zoe os acompanhou, caminhando ao lado, sempre vigilante. A jornada de volta ao quarto foi rápida, mas eu podia sentir o cuidado e a atenção em cada movimento. Zoe não me deixava fora de vista.

Assim que entramos no quarto, avistei os meus pais. A minha estava com um terço na mão e olhos vermelhos, meu pai sério como sempre. Zoe disse que ia nos deixar a sós e deu um passo, mas eu peguei em sua e pedi para ela ficar.

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