Vicenzo

VICENZO NARRANDO

Minha mãe chorando, dizendo que tínhamos que ir ao encontro dessa tal doutora. Concordei com a cabeça, eu estava tão extasiado com a hipótese de alguém encontrar a cura para o meu problema. Que não consegui formular uma palavra sequer.

Eu observei meu pai se levantar rapidamente da poltrona de couro, a madeira rangendo sob seu peso, e me senti imobilizado pela sua atitude repentina. Ele apontou para um dos soldados, um homem robusto e sempre atento, que imediatamente se posicionou com um olhar de expectativa.

— Traga-me a ficha da Doutora Zoe Bittencourt — ordenou meu pai com um tom que não admitia questionamentos.

Eu não pude deixar de me sentir inquieto.

— Pai, por que você está interessado na Doutora Zoe Bittencourt? Não seria mais fácil conversar diretamente com ela? Por que não simplesmente marcar uma consulta?

Ele me lançou um olhar severo, os olhos carregados de uma determinação que eu estou acostumado ver.

— Você não entende, Vicenzo. Desde que era criança, sempre estive sob os cuidados da clínica da nossa família. Ninguém fora dela sabe da sua condição cardíaca, e isso é uma fraqueza que pode ser explorada pelos nossos inimigos. Mas a Doutora Zoe... ela não faz parte da nossa organização. Ela é uma desconhecida, e eu preciso saber tudo sobre ela.

— Mas o que o senhor pretende fazer com essas informações, pai? O que está planejando? — eu perguntei, a ansiedade aumentando em mim. Conheço o meu pai, e sei que para atingir os seus objetivos, ele passa por cima de tudo e de todos, até da ética humana.

Ele não hesitou em responder.

— Vou trazê-la para cá. Seja por bem ou por mal, a Doutora Zoe Bittencourt virá até aqui e tratará exclusivamente de você, até que fique curado.

Eu não consegui conter minha frustração.

— Pai, isso é um absurdo! Você não pode simplesmente sequestrar alguém para obter tratamento médico. E se ela se recusar a vir? Você está disposto a enfrentar uma situação ainda mais complicada só para conseguir isso?

Ele avançou em minha direção, os olhos brilhando com uma intensidade que eu não podia ignorar.

— Você não compreende, Vicenzo! Minha prioridade é garantir que nada fique fora de controle. Se a Doutora Zoe é a única que pode curá-lo, eu farei o que for necessário para trazê-la aqui.

— Nós precisamos buscar outras soluções — eu implorei, tentando desesperadamente fazê-lo entender. Essa mulher está em evidência, é claro que se ela desaparecer todos os sentirão a sua falta, vai envolver a polícia, a cia, o FBI, e todo mundo se tornará suspeito. Isso trará o caos para o nosso país. E será uma ameaça para os nossos negócios.

— Sequestrar alguém não é o caminho. Pai, não acha que isso só vai trazer mais problemas?

A discussão se intensificava. A voz do meu pai era carregada de uma determinação que desafiava qualquer argumento que eu pudesse oferecer. Eu senti uma dor no meu peito se intensificar, uma pressão crescente que parecia estar me sufocando.

— Você está agindo por impulso, pai! Existem outras formas de lidar com a situação sem recorrer a medidas drásticas! — eu gritei, tentando manter a calma enquanto a dor se tornava insuportável.

— Eu não estou agindo por impulso, Vicenzo. Estou fazendo o que é necessário para proteger nossa família e garantir que você receba o tratamento que precisa! — ele retrucou, sua voz se tornando um rugido de frustração.

A intensidade da discussão estava me sobrecarregando. A dor no meu peito se tornou quase insuportável, e eu lutei para manter os olhos abertos, tentando acompanhar o que estava acontecendo ao meu redor. Cada palavra parecia ecoar dolorosamente em minha cabeça.

— Pai... eu não posso... continuar... assim... — Eu gaguejei, sentindo a visão ficar embaçada. A dor no meu peito era esmagadora, e eu percebi que estava prestes a desmaiar.

A última coisa que eu vi antes de perder a consciência foi a expressão de meu pai, uma mistura de raiva e preocupação que parecia refletir o caos interno que ele estava enfrentando. Eu caí no chão, a escuridão me engolindo.

Quando recobrei a consciência, estava deitado em um sofá confortável, rodeado por rostos conhecidos que olhavam para mim com uma mistura de alívio e preocupação. A dor no peito ainda estava lá, mas agora havia um senso de calma no ambiente que antes não existia.

— Vicenzo, você está bem? — a voz de meu pai perguntou, e eu virei a cabeça para encontrá-lo ao meu lado, seu rosto marcado pela preocupação genuína que eu raramente via.

— Tentei... Parar... mas não consegui... — eu murmurei, a dor ainda presente, mas agora misturada com uma sensação de fraqueza e exaustão.

Ele se inclinou mais perto, sua voz agora suave e cheia de arrependimento.

— Eu lamento, filho. Eu estava tão focado em conseguir o que achava necessário que não percebi o quanto isso estava te afetando. Não era minha intenção te prejudicar.

Eu tentei responder, mas a dor ainda era forte. Meu pai parecia estar lutando para controlar suas emoções, e eu sabia que a situação não estava resolvida. A discussão sobre como lidar com a situação estava longe de terminar, mas naquele momento, a prioridade era minha recuperação e encontrar uma solução que não envolvesse ações tão drásticas.

Coloquei a mão no peito, tentando respirar, mas a dor era intensa e parecia não passar. Nesse momento, um soldado se aproximou e, com cuidado, me pegou nos braços. Todos correram para o carro, e eu fui levado mais uma vez para o hospital. Os corredores brancos e frios eram como uma segunda casa para mim.

Chegando ao hospital, a equipe médica já estava me esperando com uma maca, me deitaram na maca e saíram correndo pelos corredores,fui medicado e, em pouco tempo, adormeci. Quando abri os olhos, vi uma mulher muito linda vestida de branco me examinando. Seus olhos eram gentis e assustados, olhei para ela tentando reconhecer.

— Olá Vicenzo, eu sou a doutora Zoe Bittencourt, sua médica.

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