O julgamento abalou minhas certezas, desafiou cada ideal de justiça que eu, até então, mantinha com tanta convicção. Aquele mafioso, Cazerin, agora aclamado como um homem “injustiçado,” saía dali com uma expressão de superioridade, como se fosse o dono de tudo à sua volta.
A cena parecia tão deturpada, tão irreal — jurar sobre a Bíblia, apenas para torcer a verdade até que servisse aos interesses mais vis.
O próprio peso das promessas de justiça parecia corroer-se sob o brilho do poder e do dinheiro.
Blake, ao meu lado, observava tudo com uma calma que me desconcertava. Ele sequer piscou ao ver o veredito ser pronunciado, como se a sentença já fosse mais do que esperada.
Fui para os bastidores com ele, o estômago apertado, e enquanto ele caminhava com uma familiaridade desconcertante por entre aqueles homens, cada olhar, cada aceno silencioso entre eles parecia uma mensagem codificada que eu não conseguia decifrar, mas que denunciava algo muito maior do que eu poderia ter imaginado. Eu sabia que Adam vinha de um mundo de influências, mas ver de perto essa proximidade, esse poder, me deixava desorientada.
Quando ele se voltou para mim, percebi que a tranquilidade no rosto dele era uma resposta em si: o mundo funciona assim, e cabe a nós decidir como jogamos dentro dele. Olhei para Adam, mas tudo que conseguia pensar era em como ele parecia pertencer àquele cenário, enquanto eu me sentia cada vez mais deslocada e incerta sobre até onde eu mesma estaria disposta a ir nesse jogo.
Saímos do tribunal e Adam, sem perder tempo, me levou a uma loja sofisticada que me fez hesitar já na entrada. As vitrines exibiam vestidos elegantes, peças de corte impecável e etiquetas que eu nem queria imaginar.
Quando ele me guiou até as araras, segurando um vestido e sugerindo que eu experimentasse, não pude evitar o desconforto que se instalou em mim.
Eu não estava acostumada a ver essas peças tão de perto, e o valor exorbitante de cada uma só fazia o nervosismo crescer. Recuei um pouco, dizendo que não precisaria de nada tão caro, mas ele apenas riu, revirando os olhos.
— Eu te convidei, Isabelle. E, quando convido alguém, gosto que tenha o melhor. Então, vai escolher uma roupa, sim — declarou ele, um sorriso levemente desafiador no rosto.
— Adam, não precisa. Sério. Sei que… que você se sentirá constrangido por… — minha voz saiu mais baixa do que eu gostaria, mas ele logo interrompeu.
— Eu não dou a mínima para isso — ele rebateu, com um tom firme e, ao mesmo tempo, surpreendentemente acolhedor. — Não é sobre o que você tem ou não tem. Quero que se sinta à vontade, que se veja aqui como merece.
As palavras dele, por mais simples que parecessem, tiveram um efeito inesperado. Pela primeira vez, aquele ambiente não parecia tão fora de alcance. Ele estava me oferecendo um pedaço desse mundo para eu me sentir à altura dele, e talvez, só talvez, eu pudesse aceitar, sem ressentimento.
Provando alguns vestidos, me deparei com um que parecia perfeito: justo na medida certa, sem decote exagerado, discreto, mas elegante.
Era exatamente o que eu procurava para evitar olhares mal-intencionados ou, ao menos, os que pudessem fazer com que eu me sentisse desconfortável.
No entanto, mesmo enquanto me concentrava em me vestir, não consegui ignorar o quanto as vendedoras pareciam encantadas com Adam. Cada vez que ele dirigia uma palavra ou um sorriso casual a uma delas, era impossível não notar o brilho em seus olhos, os sorrisos que se abriam mais do que o necessário. E, em algum lugar dentro de mim, isso começou a me incomodar de uma forma inesperada.
Senti um calor subindo pelas minhas bochechas, um formigamento que me surpreendeu, e, naquele momento, me dei conta de que o sentimento era familiar, ciúmes, simples e puro.
Mas o que não fazia sentido era o motivo. Por que eu estava sentindo isso? Ele era só o meu professor, alguém com quem eu não deveria ter esse tipo de envolvimento, havia uma guerra declarada entre nós e, ainda assim, a ideia de outra pessoa recebendo a atenção dele, mesmo que por um segundo, era insuportável.
— Acho que vou ficar com esse, — murmurei para ele, mais como uma desculpa para interromper as conversas casuais que ele trocava com as vendedoras.
Ele se virou para mim, avaliando o vestido com uma expressão que, para meu alívio, era de aprovação.
— Ficou ótimo em você, Isabelle — disse ele, com um olhar firme, como se não houvesse mais ninguém naquela loja. Por um breve instante, o ciúme se dissolveu em satisfação vendo a cara delas, não havia envolvimento entre nós, mas elas não precisavam saber.
Voltamos para a casa e, enquanto eu guardava minhas coisas, ele se aproximou, com aquele olhar um pouco menos austero que costumava ter na faculdade.
— Isabelle — chamou ele, num tom menos professoral e mais casual. — Gostaria de sair para jantar hoje? E, se topar, depois conhecer um lugar interessante... um museu da cidade que eu gosto. É sobre crimes antigos, acho que vai gostar.
Se eu gostei? Meus olhos brilharam antes que eu pudesse sequer responder, e ele, percebendo minha reação, soltou uma risada leve.
— Vejo que sua raiva com o julgamento já passou, então? — provocou, ainda sorrindo, claramente se divertindo com meu entusiasmo.
— Talvez — respondi, meio a contragosto, com um sorriso relutante. — Mas só porque a ideia desse museu realmente soa incrível. É o tipo de lugar que eu jamais visitaria sozinha, mas com você parece... parece perfeito.
Ele apenas assentiu, com aquele ar de quem sabe exatamente o que está fazendo, enquanto eu tentava conter a animação que surgia. A perspectiva de passar mais tempo com ele, em um ambiente tão intrigante e fora do comum, me deixava quase... feliz.
Parei por um instante para me perguntar como eu tinha chegado até ali, aceitando um convite do meu professor para um museu sobre crimes antigos, mas a verdade é que aquela noite prometia ser memorável, e algo em mim dizia que era impossível recusar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 72
Comments
Janaína Gonzalez
Senta que lá vem a história!! kkkkkkk
2025-03-12
1
Andréa Debossan
será que vai começar pegar fogo 🔥?
2025-03-17
2
Nilce Fernandes
E que história..!!
2025-03-29
0