guerra declarada

Eu estava sentado na minha sala, aguardando, enquanto o relógio marcava cada segundo que se arrastava até a chegada dela.

Não era comum eu ter que chamar um aluno para discutir um "trabalho extra" como esse, mas Isabella me tirava do lugar comum.

A sensação de que ela precisava entender suas limitações me incomodava, era uma questão de autoridade, e eu precisava deixá-la clara. Porém, admito, havia algo mais.

Quando a porta se abriu, lá estava ela. Isabella entrou com aquele andar desafiador, sem hesitar, sem o menor resquício de temor no olhar. Eu sabia, desde o primeiro momento que cruzamos olhares, que ela era diferente de todos os outros alunos que eu já tive.

Isabella era um misto de coragem e desafio, e isso se refletia até na postura, na maneira como se portava em um ambiente onde, geralmente, eu era o centro de gravidade. Ela simplesmente não se curvava.

__ Professor Blake — ela disse, me encarando com uma expressão que beirava o tédio, como se estivesse dizendo que eu deveria ser rápido, que ela tinha lugares para estar. Isso me irritava, mas, ao mesmo tempo, sentia algo crescendo dentro de mim, uma curiosidade inquietante, quase primitiva.

Me levantei da cadeira e a encarei de volta, sem desviar o olhar, em um silêncio que se alongou mais do que o necessário. A sala estava impregnada de tensão, e eu percebia que ela sentia isso também.

__ Isabella — comecei, quebrando finalmente o silêncio — Você realmente acredita que pode questionar tudo e todos sem consequências? Eu pedi que viesse porque, claramente, temos algo a ajustar aqui — Meu tom saiu mais baixo e controlado do que eu pretendia, mas eu estava determinado a fazê-la entender.

Ela cruzou os braços, e sua boca se curvou em um sorriso desafiador:

__ Eu acredito que todos têm o direito de questionar o que acham errado. Se o senhor não está acostumado com isso, então talvez o problema não seja meu.

A audácia dela era quase irresistível. A maioria dos alunos recuava ao menor sinal de desaprovação da minha parte, como se eu fosse uma presença inabalável, algo para ser temido. Mas Isabella? Eu vi em seus olhos algo muito diferente: desprezo, talvez um toque de desdém, e, mais intrigante, uma coragem que parecia provocativa. Ela não me temia, e eu, por alguma razão, me via interessado em descobrir até onde ela iria com essa postura.

Enquanto me aproximava dela, senti minha irritação ceder espaço para um impulso mais profundo. Não era apenas raiva ou frustração.

Isabella despertava algo em mim que eu ainda não compreendia completamente. Minha voz saiu mais baixa, quase rouca, enquanto eu mantinha os olhos fixos nos dela, tentando decifrar aquela garota que parecia não conhecer limites.

__ Você pode achar que consegue desafiar qualquer um, Isabella — eu disse, minha voz tão próxima que vi seu peito subir em um suspiro rápido, seu cheiro doce impregnou em minhas narinas me fazendo imaginar coisas que não eram corretas — Mas, enquanto estiver na minha sala, você joga conforme as minhas regras.

Ela me encarou de volta, sem desviar, com um olhar que deixava claro que não se intimidava. A tensão entre nós era quase palpável, e eu sabia que, de alguma forma, esse confronto era apenas o início de algo muito maior.

Isabella:

A tensão na sala era quase palpável. O olhar de Adam, cheio de fúria contida, me deixava inquieta. Ele havia me chamado ali para discutir um "trabalho extra", mas eu sentia que a situação era muito mais do que isso. Ele queria me mostrar quem estava no controle, e eu não estava disposta a ceder, mesmo sabendo que estava pisando em um terreno perigoso.

__ Isabella — ele começou, sua voz baixa e firme, quase como um rosnado — Eu quero um trabalho que realmente demonstre o que você aprendeu até agora. Algo que me prove que você é digna de estar aqui.

Senti um frio na espinha. “Digna” era uma palavra que me seguia desde o dia em que entrei na faculdade. E, de repente, eu estava sendo desafiada a provar minha worth. Não apenas em termos acadêmicos, mas em um nível muito mais profundo. Ele continuou, descrevendo o que eu deveria fazer, uma apresentação abrangente que exigiria semanas de pesquisa e preparação.

__ Você terá duas semanas. Isso é suficiente, certo? — Ele se inclinou para frente, observando cada movimento meu, cada expressão. Eu podia ver a expectativa nos olhos dele, um desejo de me ver falhar, talvez. A ideia de que eu tinha que apresentar um trabalho desse porte me deixava paralisada de medo. Como eu iria conciliar isso com meu emprego no bar? O dinheiro que tinha estava acabando, pois adiantei 4 meses do aluguel, e a última coisa que eu queria era voltar para casa de mãos vazias.

Como vou dar conta disso? Tentei manter a compostura, mas a ansiedade começava a tomar conta. Olhei para ele, com a intenção de manter a cabeça erguida, mas a pressão em meu peito era avassaladora.

__ Professor Blake, eu… — comecei, mas a hesitação na minha voz não passou despercebida. Ele ergueu uma sobrancelha, como se estivesse esperando uma justificativa, uma razão para eu não fazer o trabalho. O desprezo em seus olhos me deixou ainda mais tensa. Não era apenas um teste acadêmico; era um teste de caráter.

__ Não tente me dizer que você não consegue, Isabella — ele respondeu, a voz implacável — Estou certo de que você é capaz. Agora, se isso é tudo, você pode se retirar.

Eu me endireitei, tentando parecer confiante, mesmo que por dentro estivesse em um turbilhão:

__ Sim, professor. Eu farei o trabalho — A determinação na minha voz foi mais forte do que eu me sentia. O desafio estava lançado, e, mesmo com o medo pulsando em minhas veias, eu não podia deixar que ele visse meu ponto fraco.

__ Ótimo — ele disse, um leve sorriso nos lábios, mas não havia nada de amigável nisso. Aquele sorriso era um sinal de que ele não ia facilitar as coisas — Aguardo ansiosamente o seu trabalho, Isabella. E não se esqueça de que estarei avaliando não apenas o conteúdo, mas sua dedicação a ele.

Saí da sala com a sensação de que as paredes estavam se fechando ao meu redor. O peso do que ele havia pedido estava esmagador. Eu tinha um emprego para tentar, contas a pagar e um futuro a construir. Agora, tinha que provar para Adam Blake que eu era mais do que apenas uma aluna bolsista, mais do que uma menina tentando se encontrar em um mundo que parecia conspirar contra mim.

E, ao mesmo tempo, uma parte de mim não conseguia ignorar a eletricidade que havia se instalado entre nós. Cada palavra, cada olhar que trocamos, me deixava intrigada e desafiada. Adam era um enigma, e, mesmo enquanto lutava contra o medo de não dar conta do trabalho, eu sabia que havia algo mais nesse jogo do que apenas um simples desafio acadêmico. Havia uma atração palpável que tornava tudo isso ainda mais complicado.

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