O julgamento começou e a sala logo se encheu de murmúrios. Sentado na primeira fila, ao lado de Isabella, observei como a tensão no ar se transformava em um espetáculo.
O juiz entrou, e a sala silenciou, e a gravidade da situação se estabeleceu, mesmo sabendo que muitos deles são comprados, ali ainda era um tribunal.
Eu sabia que este era apenas o início de uma exibição de poder, uma peça de teatro encenada para os olhares do público.
Voltei meu olhar para Isabella, que parecia completamente absorvida pelo que estava prestes a acontecer.
Ela precisava entender que aquilo não era apenas uma questão de justiça; era um jogo complexo onde as regras eram determinadas pelos poderosos. Quando o advogado de defesa começou a falar, sua voz cheia de convicção, não pude deixar de pensar em como a verdade era frequentemente distorcida nesse ambiente.
__ Isabella — comecei, baixando a voz para que apenas ela pudesse ouvir — Você vai perceber rapidamente que a justiça, aqui, é uma ilusão. Cazerin, o mafioso italiano que está preso ali, é uma figura central em um jogo muito maior.
Ela me olhou, confusa, e eu continuei:
__ Este julgamento não é sobre justiça, mas sim sobre poder. Cazerin pode estar atrás das grades, mas ele não está completamente preso. Ele é, na verdade, o dono da Itália. Sua influência é imensa, e esse processo é apenas uma fachada para manter a aparência de que a lei está sendo cumprida.
__ Mas como isso pode ser possível? Ele não foi pego fazendo coisas erradas? Ele está aqui, sendo julgado, por que não seria condenado? — Isabella questionou, a incredulidade evidente em seu tom.
__ É exatamente isso — respondi, mantendo meu olhar fixo na cena à frente — Ele pode ser acusado, mas não é um homem impotente, Cazerin se mantém preso, mas isso não significa que ele não tenha liberdade. É tudo uma questão de manter a imagem, de mostrar ao mundo que a justiça está sendo feita. Os verdadeiros jogos de poder acontecem nos bastidores, onde o dinheiro e a influência se entrelaçam.
Ela ficou em silêncio, absorvendo minhas palavras, enquanto o julgamento prosseguia. A defesa era clara, e as acusações eram desmentidas de maneira convincente.
Mas por trás de cada palavra, eu podia ver a manipulação, o teatro encenado para o público. Era uma dança de marionetes, onde todos tinham um papel a desempenhar, cada júri aqui presente chamado exclusivamente para um papel e o mafioso cruel se transformará em uma vítima do estado.
A cada testemunho, percebi que Isabella se tornava mais ciente da complexidade do que estava acontecendo. Eu esperava que, ao final do dia, ela entendesse que o mundo da lei e da justiça não era tão simples quanto parecia. Às vezes, as pessoas mais perigosas eram aquelas que pareciam estar nas sombras, controlando cada movimento com um sorriso no rosto e uma mão firme em suas marionetes.
Isabella se inclinou para perto, seu olhar indignado, enquanto murmurava para que apenas eu ouvisse.
__ Se ele for absolvido, isso é uma afronta à justiça, Adam. Isso não é certo — reclamou furiosa.
Soltei uma leve risada, mas meu tom era sério.
__ Isabella, a justiça, como você imagina, é um conceito bonito e utópico. Mas, na realidade, o dever de um advogado é defender, seja o cliente inocente ou culpado. E o poder... bem, ele é o verdadeiro motor do mundo.
Ela franziu o cenho, os olhos questionadores e cheios de uma frustração que eu lembrava de já ter sentido, muitos anos atrás.
__ Então, você está dizendo que advogar para alguém como Cazerin... é aceitável?
__ Não é uma questão de aceitar ou não, mas de saber onde você está no tabuleiro — rebati, mantendo o olhar firme — O sistema, Isabella, não é puro. Nunca foi. Existem nuances que a ética e a moralidade nem sempre alcançam. Escolher o lado do jogo é uma habilidade e muitas vezes, a sobrevivência depende dela."
Ela cruzou os braços, absorvendo o impacto das minhas palavras, mas não sem uma expressão de descontentamento. Eu sabia que ela provavelmente discordava. Havia uma pureza em sua visão que, por mais frustrante que fosse, eu admirava. Mas também sabia que, um dia, essa pureza seria testada.
O julgamento foi longo e exaustivo, e o desfecho, embora previsível para mim, fez Isabella soltar um suspiro de indignação que quase a fez levantar da cadeira. Cazerin foi inocentado, e sua expressão exasperada demonstrava tudo o que ela pensava sobre isso.
Após o veredito, eu a guiei para fora da sala, levando-a comigo até os bastidores.
__ Espere aqui um instante — pedi, percebendo a frustração ainda vívida em seu rosto. Ela mal reagiu, o olhar fixo na porta, talvez tentando entender como a justiça que ela imaginava como sólida e intransponível acabara de falhar diante de seus olhos.
No corredor, o juiz me cumprimentou com um aperto de mão firme, trocamos poucas palavras. Depois, caminhei entre alguns homens presentes, encontrando rostos conhecidos da antiga rede de negócios da família. Quando passei por Cazerin, seu olhar se encontrou com o meu, e ele apenas fez um breve aceno de cabeça, como se reconhecesse o peso do nome Blake e o que ele significava, uma aliança nunca declarada, mas sempre respeitada.
Voltei para onde Isabella estava, ainda com um semblante firme, talvez esperando por alguma explicação que eu sabia que não a deixaria satisfeita. Ela me olhou, olhos atentos e críticos, e pude ver que estava a ponto de explodir em perguntas.
Tem alguma pergunta? — questionei vendo em seus olhos que apesar do seu silêncio sua cabeça estava um turbilhão.
Não, pergunta não, só não quero ser uma menina mimada que não entende nada, o que eu vi aqui hoje me fez pela primeira vez questionar a minha vida acadêmica, para que servir na advocacia se no fim terei que fazer parte desse jogo de poder — esbravejou furiosa e me vi sorrindo para sua forma pura de ver a vida.
__ Não se questione, você leva jeito, mas advogar é defender, você escolhe o lado, vamos indo? Quero te levar para comprar uma roupa para a festa de amanhã — falei e ela assentiu.
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Atualizado até capítulo 72
Comments
Silvia Barbosa
Ai ai. Eu queria tanto ser uma mafiosa....Já imagino quem seria o primeiro a sofrer as consequências .
2025-03-23
0
Andréa Debossan
com o tempo Isa vai ver que os mafiosos não são tão ruins, eles só fazem justiça com as próprias mãos só matam e torturam quem merece
2025-03-17
1
Tania Cassia
espero que ele seja honesto e a Isa não desista de ser uma bela advogada
2025-03-09
2