Quando entramos na propriedade, foi como se o peso de todos os anos de distância e tensão com a família tivesse sido substituído, por alguns segundos, por uma nostalgia agridoce.
A casa estava exatamente como eu lembrava, cada detalhe meticulosamente preservado, mas hoje havia algo mais… talvez fosse Isabella, percorrendo cada canto com um brilho curioso nos olhos, absorvendo tudo ao redor com um fascínio palpável.
Me perguntei, quase sem querer, se ela veria a Obsidian com os mesmos olhos quando estivesse comigo.
Meus pais estavam na porta. Minha mãe, de braços abertos, veio com aquela saudade que só as mães têm, me abraçando com intensidade, como se eu fosse o mesmo garoto que saíra dali anos atrás. Meu pai, ao lado dela, parecia comovido, embora mantivesse sua postura firme de sempre. Surpreendentemente, ambos mostraram uma gentileza genuína a Isabella, que a fez sorrir, se sentindo acolhida.
__ Adam — ela exclamou, estendendo os braços. — É tão bom te ver, filho! E é essa a linda jovem que você trouxe?
__ Esta é Isabella — respondi, tentando manter a voz neutra. — a aluna que veio comigo para acompanhar o julgamento, aluna minha.
__ Isabella, prazer em conhecê-la — disse minha mãe, puxando-a para perto e olhando-a nos olhos. — Você é tão bonita. Adam sempre teve bom gosto.
__ Obrigada, senhora Blake, mas não temos nada, acho até que seu filho me odeia — Isabella respondeu, um pouco tímida, mas sorrindo. A situação parecia melhorar um pouco, até que meu pai, com seu jeito descontraído, decidiu fazer uma pergunta que não ajudou em nada.
__ E como estão os estudos, Isabella? Adam está sendo um bom professor para você? — Ele sorriu de forma calorosa, mas eu percebi o jeito como ele olhava para ela, com um brilho que me deixou inquieto.
__ Sim, está sendo muito útil, senhor Blake — Isabella respondeu, mantendo a educação, mas eu pude sentir que ela estava se segurando para não deixar transparecer o quão desconfortável estava. — Estou aprendendo bastante, na verdade.
__ Ótimo! A educação é a chave para o sucesso — minha mãe disse\, com um sorriso que iluminava seu rosto. __ Adam sempre foi um aluno exemplar. Fico feliz em saber que ele está passando adiante esse conhecimento\, mesmo que ele tenha abandonado nosso império para isso.
Finalizamos ali e entramos, mas minha visão ficou preta quando na sala avistei meu tio sentado, ele é irmão da minha mãe e eu sabia que viria, mas não esperava que fosse cedo assim.
Bastou um instante após cruzar o saguão principal para que o encanto acabasse. Meu tio estava ali.
Assim que entramos, o olhar dele repousou em Isabella com uma intensidade que me incomodou de imediato. Era um olhar cheio de malícia disfarçada, como se estivesse avaliando algo que lhe pertencia, como um colecionador diante de uma nova peça rara. Ele estendeu a mão com uma calma exagerada, um leve sorriso no rosto, e Isabella, sem perceber o jogo, apertou-a.
__ Então, essa é a sua aluna, Adam? — perguntou ele, o tom de voz carregado de uma familiaridade que eu detestava — Interessante como as coisas são, não é? Alguns limites que são intransponíveis para uns, podem ser contornados por outros…
Isabella lançou-me um olhar de dúvida, sem entender a tensão implícita. Apertei os punhos, meu autocontrole pendendo por um fio.
__ Não tenho a menor dúvida de que a senhorita tem bom senso para evitar… contornos inapropriados — respondi, forçando um tom frio — não se aproxime e nem nos dirija a palavra.
Meu tio apenas sorriu, os olhos ainda fixos em Isabella.
__ Claro, claro. Apenas uma observação de um homem que sabe apreciar… novidades — Ele piscou para ela, e uma expressão de diversão perversa atravessou seu rosto.
Segurei o braço de Isabella antes que ela pudesse responder, interrompendo qualquer oportunidade para ele prolongar aquela interação. __ Isabella, vamos — falei, deixando claro que a conversa tinha terminado. Conduzi-a rapidamente até o andar de cima, e ela ainda me olhava confusa, mas quieta, sentindo a tensão no ar.
Assim que chegamos ao quarto, soltei o braço dela e passei a mão pelo rosto, tentando esfriar a raiva. Ela finalmente quebrou o silêncio:
__ O que foi isso, Adam?
Olhei para ela, minha voz carregada de seriedade.
__ Ele não é uma pessoa segura para você, Isabella. Prometa que não vai dar a ele qualquer abertura.
__ Me explica o motivo, não estou entendendo nada, e sei me cuidar — reclamou ela.
A fúria subiu como um incêndio incontrolável dentro de mim. Aquela presença indesejada me tirou qualquer resquício de paz que o reencontro poderia ter trazido.
Assim que fechamos a porta, olhei diretamente em seus olhos, ciente de que precisava ser firme.
__ Escuta bem, Isabella, você não deve em hipótese alguma se aproximar daquele homem. Ele não é alguém em quem se possa confiar. E qualquer tentativa de aproximação dele, ou alguém quero que você me avise imediatamente.
Ela ficou me olhando, surpresa e irritada.
__ Adam, você nem sequer me disse o motivo dessa ordem. Eu não sou sua propriedade, e não vou aceitar que me diga o que fazer sem qualquer explicação!
Suspirei, controlando a raiva que ainda fervia em mim.
__ Não é uma questão de querer te controlar. Eu só preciso que confie em mim nisso. Ele é um problema, e eu não quero que ele interfira na sua estadia aqui.
— Isabella, eu prometo que vou te contar tudo — eu disse, tentando acalmar a tensão entre nós. Ela me olhou com uma mistura de curiosidade e desconfiança. Eu sabia que, de alguma forma, as peças desse quebra-cabeça estavam se juntando para ela, mas não estava pronto para revelar tudo ainda — Só não agora. Confie em mim, pelo menos uma vez.
Ela hesitou, mas finalmente assentiu, o olhar dela suavizando um pouco. Eu sabia que a situação com meu tio estava pesando em sua mente. Havia uma história entre nós que ainda não havíamos compartilhado, e eu queria que ela estivesse pronta para isso.
— Está bem, Adam. Eu confio em você — ela respondeu, a determinação em sua voz quase me surpreendendo. Havia algo de sincero na maneira como ela falava, e isso me fez sentir um peso a menos.
— Ótimo. Vou ficar no quarto ao lado do meu. Se precisar de algo, não hesite em me chamar — eu disse, tentando transmitir segurança — Podemos nos preparar e depois almoçar antes de seguirmos para o julgamento. Será um dia longo.
Ela assentiu novamente, parecendo mais relaxada com a ideia.
— Tudo bem. Vou me arrumar então — disse Isabella, olhando ao redor do quarto. Eu percebi que ela estava tentando se habituar à grandeza do lugar, o que só tornava o momento mais surreal.
— Fique à vontade — respondi, dando-lhe um pequeno sorriso — Estarei por aqui.
Com isso, ela se virou para o banheiro, e eu não pude deixar de observar sua figura enquanto ela se afastava. Algo dentro de mim estava se movendo, e não apenas por causa da situação em que nos encontramos. Havia uma conexão crescente entre nós que eu ainda não conseguia definir completamente, mas que se tornava mais intensa a cada momento.
Eu respirei fundo e fui até a janela, observando o exterior da mansão. O dia estava lindo, mas a tensão estava prestes a aumentar quando o julgamento começasse. E, em meio a tudo isso, Isabella era uma constante que me intrigava e preocupava ao mesmo tempo.
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Atualizado até capítulo 72
Comments
Rose Gandarillas
Estranho demais os pais dele aceitarem a presença desse tio, mesmo que ele seja irmão da mãe dele, mostrou que não tem respeito,é um canalha...aliás mostrou ao se aproximar da acompanhante do sobrinho. Porque do comportamento dos pais assim, omissa?
2025-03-05
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Graça Lobo Sales
coitado do Abner tem que ficar no mesmo ambiente com a ex-mulher e com o tio que traiu ele e os pais dele aceitar isso eu que não aceitaria uma nora que traiu meu filho ainda mais com meu irmão
2025-03-24
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Márcia Jungken
mesmo esse tio do Adam sendo irmão da mãe dele, não dá para entender os pais dele aceitando esse canalha e a vagaba da Vivian na casa, sabendo que os dois traíram o filho deles 🤔🤔🤔
2025-03-23
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