Chegando em casa depois de um dia que parecia não ter fim e do confronto que tive com a afrontosa de olhos verde e boca carnuda me joguei no sofá, tentando relaxar, mas antes que eu pudesse realmente respirar, meu celular começou a vibrar no bolso. O nome "Mãe" apareceu na tela, e eu sabia que, se ignorasse, a conversa apenas seria adiada para o próximo dia. Respirei fundo e atendo.
__ Adam, querido! — A voz calorosa dela me deu uma pontada de nostalgia — Como você está?
__ Bem, mãe — respondi com o tom mais leve que pude.
Ela hesitou por um momento, e eu já sabia o que viria a seguir:
__ Eu queria saber se você vem para o meu aniversário no próximo fim de semana. Vai ser especial, Adam, com a família toda...
Balancei a cabeça, sabendo que essa era a deixa para eu perguntar o que realmente estava no jogo.
__ Família toda, mãe? — Eu perguntei, mantendo a voz firme. Ela suspirou, um som familiar de quando ela sabia que uma conversa estava se aproximando de uma área delicada.
__ Sim, Adam. Seu tio... ele também vai estar lá.
A palavra “tio” foi suficiente para eu fazer uma repetição. Lembranças daquela traição e do orgulho ferido vieram à tona.
__ Mãe, você sabe minha posição. A última coisa que eu quero é estar no mesmo ambiente que ele.
__ Filho, por favor — A voz dela parecia mais suave, quase suplicante — Já passou um ano… será que não pode deixar isso para trás por mim? Um dia. Só por um dia.
Fechei os olhos, segurando a resposta que queria dar. Para ela, era apenas uma questão de família, uma reconciliação. Mas, para mim, a traição era uma praga que não podia ser varrida para debaixo do tapete.
Depois de desligar a ligação com minha mãe, o conflito ainda borbulhava dentro de mim. Ir ao aniversário dela era um dilema. De um lado, sabia que ela ficaria profundamente magoada se eu não fosse, mas como enfrentar a cara do homem que por anos substituiu meu pai e simplesmente ficou com minha mulher.
Decidi enviar uma mensagem curta: “Não conte comigo este ano, mãe.” Tão seco quanto eu poderia ser. Sabia que não a deixaria satisfeita, mas era o melhor que eu conseguia hoje, eles sabem que não me relaciono com ninguém e meu tio vai levar mais uma das suas belas namoradas, para mim não tem relacionamento que importe, mas isso para eles é status, o sucesso é definido pela família que formamos.
Logo depois, já trocando de roupa, uma ideia diferente tomou forma na minha cabeça. Em vez de lidar com essa pressão familiar, poderia me dar um pouco de paz à maneira. Dirigir até uma boate confortável me parecia uma distração suficientemente interessante para afogar o turbilhão de estresse. Afinal, lidar com família sempre me deixa com um gosto amargo, mas essa noite o problema vai ficar embaixo da calcinha de alguma mulher.
Estacionei em frente ao local, suas luzes discretas e decoração opulenta oferecendo o tipo de refúgio que eu buscava. No momento em que entrei, o som baixo da música e o perfume forte não ar já começaram a embotar meus sentidos. Senti meu celular vibrar, provavelmente mais uma tentativa da minha mãe, e sem hesitar desliguei o aparelho e fiquei ali bebendo e olhando a movimentação.
Uma jovem passou por entre as mesas acompanhada de outra moça e de um dos funcionários e por um segundo achei que estava imaginando coisas. A postura, o jeito de andar, até mesmo o cabelo, tudo nela gritava algo familiar.
Pisquei, achando improvável que fosse quem pensava, mas a figura parou na área ao lado, trocando algumas palavras com outra garota e, para minha completa surpresa, era ela. Isabela. Minha aluna desbocada e audaciosa. O que, diabos, ela estava fazendo aqui?
Observei, com um interesse que crescia a cada segundo. Ela parecia tranquila demais para alguém que não alcançava o ambiente, e isso me deixou intrigado. E mais, ela claramente não tinha percebido minha presença, o que me deu a chance de analisar-la sem aquele fogo desafiando nossos olhos, aquele que reservava exclusivamente para mim nas discussões em sala.
Mas aqui, de onde eu observava, ela não era a mesma. E, mesmo que eu detestasse admitir, um tipo estranho de curiosidade me tomou. Qual seria a razão dela estar num lugar como este, onde as meninas estavam aqui para... entreter? A ideia de que talvez estivesse aqui para ganhar algum dinheiro me incomodou de um jeito que eu nem entendia bem.
Aproximei o copo da boca, sentindo a bebida quente na garganta, mas com a mente externa para uma pergunta que martelava insistentemente: o que minha aluna tão insolente estava fazendo aqui?
Quando um homem se aproxima de Isabella, algo em mim se acendeu de forma impulsiva e irracional. Era ridículo; eu sabia disso. Mas, movido pela tensão e pelo fogo que parecia incendiar minhas veias, me levantei e fui até eles. Não pensei, apenas agi.
__ Desculpe, mas ela está comigo — falei e ele deu um passo para trás.
Isabella se virou para mim, os olhos arregalados, a boca aberta. Ela parecia em choque, como se não pudesse acreditar no que via. O silêncio entre nós se tornou pesado até que ela o cortou.
__ O que você está fazendo aqui, professor? — ela disparou, as palavras impregnadas de descrição e desafio — E, mais importante, por que está se intrometendo nos meus assuntos?
Eu a encarei, sentindo meu próprio sangue pulsar mais forte. Ela realmente tinha coragem.
__ Me questionei a mesma coisa — devolvi, minha voz mais baixa e controlada — Uma estudante minha, frequentando um lugar assim.
Ela bufou, cruzando os braços e me encarando com aquele olhar que eu já conhecia tão bem.
__ Ah, claro, porque o que eu faço fora da faculdade é problema seu, não é? — Sua voz foi compartilhada de sarcasmo, e o desafio era claro.
Ela não se intimidava, e, honestamente, isso me irritava e me fascinava em igual medida. Eu deveria apenas seguir meu caminho, mas como ignorar sua presença sendo que parecemos explodir quando estamos frente a frente.
Ela deu um passo para se afastar, mas sem pensar, eu segurei seu braço, o suficiente para fazê-la parar e me olhar. Os olhos dela, que antes exibiam uma raiva fervente, agora brilhavam com algo mais intenso, uma mistura de orgulho ferido e incredulidade.
__ Existem outras formas de ganhar dinheiro, Isabella — murmurei, mantendo o tom firme — Você não precisa—
Antes que eu pudesse terminar, senti o estalo ardido de sua mão no meu rosto. O tapa foi rápido, mas o impacto ficou. A expressão dela refletia um orgulho ferido, e sua voz saiu baixa, mas repleta de desprezo.
__ Eu não pedi sua ajuda, professor — ela sibilou, os olhos faiscando — Muito menos o seu julgamento.
Fiquei ali, sem saber se estava mais furioso ou impressionado. Eu não podia dizer exatamente por que tinha me metido nisso, mas o jeito com que ela havia me desafiado me deixou sem palavras. Ela me lançou um último olhar e saiu pisando firme e para mim a noite tinha acabado também.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 72
Comments
Andréa Debossan
Caraca! Isso que dá ficar julgando sem saber o que acontece! Tá louquinho por ela
2025-03-17
4
Sueli Silva
Ele já está apaixonado por ela ❤️😍
2025-03-13
0
linda
começando agora a história mais parece ser muito boa
2025-03-27
0