vou ao seu aniversário

Minha atenção estava presa nela desde o momento em que entrei. Não era a intenção, claro, mas algo em Isabella simplesmente capturou o olhar. Movia-se com leveza, rindo de uma piada casual de um cliente ou casualmente servindo outra bebida sem nem mesmo vacilar. Ela parecia tão à vontade ali que eu me perguntava o que, exatamente me fazia a encarar assim escancaradamente, se ela concluir o que esta fazendo no curso vai se sair muito bem.

Como alguém com seu brilho, sua resistência, sua insolência, poderia considerar aquilo um ambiente viável?

Era essa luta constante entre curiosidade e evidência que me fez não sair do lugar, apenas observando, analisando, tentando entender. Mas tudo isso sumiu no segundo em que a vi saindo do banheiro, logo foi abordada por um homem que mal conseguiu ficar em pé. A situação evoluiu em segundos, e antes que eu percebesse, fui caminhando até eles, com cada músculo no meu corpo em alerta.

Quando vi aquele infeliz se inclinando sobre ela, aproximando o rosto como se pudesse simplesmente invadir o espaço dela, minha visão escureceu de raiva.

Nem percebi quando o puxei com força, separando-o de Isabella e lançando-lhe um olhar que falava mais do que qualquer ameaça verbal poderia. Era inadmissível que alguém sequer tentasse algo assim com ela, como se ela estivesse à mercê desses… tipos.

__ Se encostar nela de novo, eu faço questão de te ensinar o que é diversão de verdade — murmurei, numa voz baixa e afiada. Vi o medo surgir em seus olhos, e isso me trouxe um prazer sombrio, após um segundo ele se ergueu e os seguranças que estavam ali próximos o levaram para rua quando dei o sinal, e eu só me senti mais condenado: o lugar não era para ela.

Quando olhei para Isabella, havia um lampejo de gratidão e surpresa no rosto dela, mas também percebi que estava contrariado pela intervenção. Ela era teimosa como uma rocha.

__ Eu não preciso da sua ajuda — murmurou, claramente incomodada, tivemos uma discussão breve que se apaziguou e combinamos a viagem para o outro dia, eu a levaria e estava sentindo uma ansiedade intensa em saber que passaria três dias ao seu lado.

Ela passou o rosto para mim, os olhos faiscando, e no lugar de agradecer, respondeu com a mesma obstinação de sempre. Ainda assim, eu só sinto uma satisfação crescente. Aquela viagem para o julgamento, uma oportunidade única, agora teria uma companhia inesperada e desafiante: Isabella. Uma estudante que não se curvava diante de nada.

E, embora eu estivesse ali por outros motivos, minha mente se ocuparia da imagem dela ao meu lado, absorvendo cada detalhe de julgamento. Era algo que a faria crescer, mas o melhor era que eu estaria ali para observar cada minuto disso.

Subi para o camarote e observei a cena de uma nova perspectiva. Isabella, lá embaixo, tentava se dedicar ao trabalho, mas seus olhos vez ou outra vagavam pela multidão, como se procurassem alguém. Um sorriso escapou enquanto observava sua inquietação. Era pensar curioso que ela poderia estar à espera de outro encontro, uma figura familiar, ou talvez... uma sombra que a vigiava de perto.

Enquanto terminava minha bebida, decidi encerrar a noite. A sensação de que tinha descoberto uma nova peça do quebra-cabeça chamada Isabella me trouxe uma satisfação quase viciante. Deixei o lugar e caminhei até o carro, pensando em como seria interessante tê-la um final de semana inteiro só para mim.... pela visão profissional é claro.

Liguei para minha mãe, esperando a animação do outro lado assim que ela atender. Ela não demorou, atendeu em menos de dois toques, com aquela voz sempre um tom acima, já transbordando emoção.

__ Adam! Finalmente, filho! Estou tão feliz que você esteja me ligando, vai me dizer que finalmente cedeu e vem? — falou ela.

__ É, mãe. Vou estar aí no sábado — confirmei, tentando manter um tom controlado — Vou chegar em Toronto por volta das 11 de amanhã e irei com uma acompanhante, assim que sair do aeroporto, sigo direto para o hotel, sabe que o julgamento do mafioso Cazerim será um verdadeiro espetáculo.

Ela riu baixinho, como se eu tivesse acabado de contar uma piada sem graça.

__ Hotel? Adam, você e sua acompanhante vão se hospedar aqui em casa! Já deixarei tudo preparado.

Dei uma pausa, incomodado, minha cabeça trouxe a lembrança do momento que meu tio transava com minha esposa na mesa de sinuca do meu pai — Mãe, eu realmente prefiro o hotel. Preciso de um pouco de privacidade, e tenho a Isabella, ela é minha aluna e vai me acompanhar, como um estudo de caso excelente para o futuro dela, vou ao julgamento logo depois do almoço. Preciso me concentrar antes.

__ Você acha que me sentirei como sabendo que você estará na cidade depois de dois anos e não se hospedará na minha casa, melhor nem dizer para seu pai isso, ele morrerá de desgosto — falou dramatizando.

Suspirei, sabendo que, a essa altura, argumentar só estenderia a conversa e eu queria muito dormir.

__ Tudo bem, mãe. A gente fica em sua casa, prepare dois quartos, Isabella é minha convidada e a quero tratada com muito respeito — falei e ela sorriu ao fundo depois falou:

Ah, Adam, sei que esse julgamento é importante para você, não consigo aceitar que tenha deixado nosso negócio para servir assim, mas prometo que não tocarei no assunto mais — falou ela, minha família é muito rica e eles não aceitam que queria servir na advocacia, acabei virando professor para entrar em um meio-termo e não acabar 100 % contra a minha família.

Não atuei para não ir contra vocês, sei que se dependesse de você e do meu pai eu atuava na organização, mas sabe que não vou ceder a isso — falei lembrando do negócio da família, eu sei que não há como fugir, mas enquanto conseguir tendo meu pai e meu tio aquele maldito lá no comando eu não precisarei me aproximar, e estando em outro lugar longe deles ninguém se aproximará de mim.

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