( O Lobisomem do Vale das Sombras )

Nas profundezas de uma floresta densa e sombria, havia um vilarejo esquecido pelo tempo, chamado Vale das Sombras. Seus habitantes viviam em constante temor, pois contavam histórias antigas sobre um lobisomem que vagueava nas noites de lua cheia, alimentando-se da carne e do sangue de pessoas impuras. Diziam que a criatura era uma maldição, resultado dos pecados  acumulados por gerações.

Entre os moradores, existia uma jovem chamada Isadora, cujos olhos reluziam como estrelas e cujo coração pulsava com a força da curiosidade. Ela era conhecida por sua bondade inabalável, sempre ajudando aqueles que mais necessitavam, mas também alimentava dentro de si uma inquieta sede por conhecimento. Isadora apesar de não acreditar nas lendas, sonhava em descobrir a verdade por trás da criatura aterrorizante.

Certa noite, enquanto a lua cheia iluminava o céu no seu pico mais alto, Isadora decidiu explorar a floresta, certa de que poderia encontrar pistas que desmistificassem a história do lobisomem. Armou-se de coragem, vestiu seu manto mais quente e, guiada pela luz prateada da lua, adentrou a escuridão.

A medida que caminhava, sentia uma presença imponente ao seu redor, como se as árvores a observassem com olhos invisíveis. O vento sussurrava segredos ancestrais, e Isadora, mesmo assustada, continuava sua busca. Ela parou ao ouvir um rosnado baixo, semelhante ao eco de um pesadelo. De repente, uma sombra emergiu entre os arbustos, um corpo coberto por uma pelagem negra e brilhante, músculos definidos, e olhos que ardiam com a sabedoria de eras.

— "Você não deveria estar aqui, Isadora!" — disse a criatura, a sua voz grave e monstruosa ressoando na escuridão."

— "Está floresta é palco de conflitos que você não compreenderia!"

Isadora, embora temerosa, encarou o lobisomem e disse:

— "Eu busco a verdade! As pessoas dizem que você se alimenta de impuros, mas o que isso significa? Quem define a impureza?"

O lobisomem hesitou, como se refletisse sobre a pergunta.

— "A impureza não está apenas nos atos, mas na intenção que reside no coração. Aqueles que se afastam da luz e se entregam à escuridão são os meus pratos principais."

Intrigada, Isadora questionou:

— "Mas e se alguém se arrepender? E se a luz ainda puder brilhar dentro deles?"

Com um olhar penetrante, o lobisomem respondeu:

— "A redenção é um caminho árduo e muitas vezes solitário. Mas existe sim, uma chance. — ele fez uma pausa e apontou para o céu."

— "As estrelas brilham mais intensamente em noites escuras, assim como a esperança pode surgir em corações perdidos! — continuou."

Isadora percebeu que a criatura não era pura maldade, mas um guardião de um equilíbrio quebrado. Ele carregava as dores do mundo e a responsabilidade por aqueles que se perdem na escuridão. Com isso em mente, uma idéia surgiu. Se pudesse ajudar a comunidade a se redimir dos seus pecados, talvez pudesse libertar tanto o lobisomem quanto os moradores do medo que os aprisionava.

Determinada, Isadora convidou o lobisomem a se reunir com ela no vilarejo. Para sua surpresa, ele aceitou, sob a condição de que todos os moradores estivessem abertos a ouvir a verdade.

Naquela noite, o vilarejo reuniu-se na praça central, lanternas acesas e corações nervosos. Isadora começou a contar a sua experiência na floresta, revelando a verdadeira natureza do lobisomem e a necessidade de aceitar a própria escuridão para encontrar a redenção.

Os aldeões, inicialmente céticos, começaram a ver reflexos das suas próprias vidas nas palavras dela. Uma a um, começaram a compartilhar os seus medos, suas falhas e, acima de tudo as suas esperanças. O lobisomem escutou pacientemente, e cada revelação parecia aliviar o seu fardo, trazendo um pouco mais de luz à sua alma atormentada.

À medida que a noite avançava, algo já havia mudado. A energia da praça tornou-se palpável, como se uma corrente de transformação estivesse fluindo entre todos. O lobisomem, agora menos uma sombra e mais um símbolo de superação, percebeu que o seu papel não era apenas o de predador, mas também de guia.

No final daquela noite mágica, a lua cheia começou a se esconder atrás das nuvens, e a criatura partiu, prometendo voltar um dia, não como um caçador, mas como um protetor. Isadora, com um sorriso no rosto e um novo entendimento sobre a luz e a escuridão, sentiu que a maldição do lobisomem havia se transformado e uma oportunidade de crescimento e união.

A partir daquela noite, o vale das sombras floresceu, não mais apenas um lugar de medo, mas um espaço onde as pessoas aprendiam a confrontar as suas próprias sombras e buscar a luz. É assim, o lobisomem tornou-se parte das suas histórias, não mais como um monstro, mas como um guardião eterno das almas em busca de redenção.

E cada vez que a lua cheia surgia, a comunidade não esquecia de acender uma fogueira, celebrando a jornada da escuridão à luz, repleta de compreensão e esperança.

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Comments

Valentina Valente

Valentina Valente

Que parágrafo lindo, autora! Amando!

2025-02-18

0

Valentina Valente

Valentina Valente

Isso chama-se arrependimento

2025-02-18

1

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