Contos

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(As bruxas do bosque de Eldermoor)

Era uma noite obscura, marcada pela presença de uma lua vermelha que iluminava os bosques sombrios. Os ventos uivavam como almas penadas, e o céu parecia pulsar com inquietante energia que envolvia a pequena aldeia de Eldermoor. Acreditando nas lendas que cercavam suas origens, os moradores sempre evitavam falar sobre as bruxas que habitam a floresta. Contudo, algumas curiosidades jamais se conformaram com o silêncio.

Naquela aldeia, havia um grupo de jovens que, desafiando o medo ancestral, aventurou-se adentrar os limites proibidos do bosque. Eles ouviam os sussurros sombrios que ecoavam entre as árvores, histórias de rituais macabros realizados em noites como aquela. Impelidos pela ânsia de descobrir se as lendas eram reais, liderados por uma jovem chamada Clara, os meninos atravessaram o limiar entre o mundano e o desconhecido.

As sombras pareciam dançar ao sabor do vento, e a atmosfera tornou-se densa, como se a própria natureza estivesse ciente da presença dos intrusos. Olhos invisíveis os observavam, e uma sensação palpável de perigo permeava o ar. Aos poucos, o grupo sentia a coragem dissipar-se, mas a sede de conhecimento alimentava-os. Finalmente, chegaram a uma clareira onde, segundo histórias, uma antiga e muito poderosa bruxa realizava os seus feitiços.

No centro da clareira, um altar rudimentar feito de rochas e galhos secos se erguia, cercado por velas pretas e vermelhas que queimavam com uma luz espectral. Entre murmúrios incoerentes, Clara avançou, atraída pela energia que emanava do altar. Quando tocou em uma das velas, uma onda de frio percorreu o seu corpo todo, e um grito estridente ecoou na escuridão. Era como se as próprias bruxas estivessem despertando, invocando a sua presença para reclamar os seus domínios.

Os jovens, agora tomados pelo pânico, tentaram recuar, mas as sombras começaram a se agitar. Do fundo da clareira, figuras encapuzadas emergiam lentamente, seus rostos ocultos pela escuridão. Eram as bruxas de Eldermoor, e a cena se tornava cada vez mais aterradora. Com gestos precisos, elas formaram um círculo ao redor do altar, murmurando palavras antigas e profanas. A atmosfera tornou-se elétrica, e Clara, paralisada pelo medo, sentiu a força do ritual invadindo a clareira.

Uma das bruxas, de estatura baixa e olhos que reluziam como brasas, ergueu a mão. Fumaça negra começou a girar em torno do grupo, enquanto a bruxa entoava cânticos ancestrais.

— "Seja bem-vinda, filha da lua. Venha e junte-se a nós!"

As palavras reverberaram nas mentes dos jovens, fazendo-os sentir que não havia escapatória; as suas almas estavam agora interligadas àquelas entidades ancestrais.

Desesperados eles tentaram correr, mas seus corpos estavam imobilizados como se raízes invisíveis os prendesse ao solo. As bruxas se Aproximaram-se, e uma delas com um sorriso sinistro, ofereceu a Clara um cálice de prata com rubis cheio de um líquido negro e espesso.

— "Beba, e serás uma de nós, eternamente ligada ao poder da noite." — A proposta pairou no ar como uma maldição, e Clara, lutando contra o terror que a dominava, recusou.

Nesse momento, uma explosão de luz surgiu, iluminando a clareira e desconstruindo a escuridão que as envolvia. Um forte odor de enxofre tomou conta do ambiente, enquanto as bruxas urravam de raiva. A luz parecia ter vida própria, repelindo as criaturas que até então dominavam o espaço. Os jovens aproveitaram a chance e, num ato de coragem desesperada, correram em direção à saída da floresta.

A perseguição das bruxas foi implacável. Rios de risadas malignas ecoavam entre as árvores, enquanto sombras se lançavam contra eles. Clara, com o coração acelerado, não se atrevia a olhar para trás. Sabia que não poderiam permitir que as bruxas reclamassem as suas almas. Finalmente, após uma corrida quase sobrenatural, eles conseguiram sair do bosque e alcançar a segurança da aldeia.

Mas a paz era ilusória. Desde aquela noite fatídica, a lua sangrenta nunca mais deixaria suas memórias. Clara e seus amigos, embora fisicamente salvos, carregavam consigo uma marca indelével. A presença das bruxas estava viva em seus pesadelos e sussurros.

Nos dias que se seguiram, estranhas ocorrências começaram a assolar Eldermoor. Animais desapareciam diariamente, os rios murmuravam segredos incompreensíveis e uma sombra pairava sobre a aldeia. Clara, atormentada pela lembrança do ritual, decidiu consultar a velha sábia da aldeia, uma mulher que conhecia as histórias e as tradições que os mais jovens ignoravam.

A sábia revelou um receio profundo:

— "As bruxas não perdoam. Elas esperam uma oportunidade para recuperar o que julgam como sendo seus. A lua sangrenta não é apenas um sinal; é um portal que se abre para aqueles que desafiam o seu domínio."

Clara compreendeu que, para proteger sua aldeia, era necessário enfrentar o mal que haviam despertado. Em união com os amigos, ela planejou uma forma de selar o portal. Armados com conhecimento ancestral, prepararam um contra-ritual. Todas as noites, sob a luz resplandecente da lua, eles se reuniam no velho altar da floresta, repetindo as antigas invocações que aprenderam com a sábia.

O tempo passava, e a tensão aumentava. As bruxas, conscientes da resistência, começaram a agir de maneira mais agressiva. Os habitantes acordaram com pesadelos, vendo figuras encapuzadas flutuar em frente as suas janelas. Gritos ecoavam nas noites silenciosas, e o medo se instalava e consumia a todos.

Finalmente, na noite do clímax, os jovens se encontraram novamente na clareira. A lua estava mais vermelha do que nunca, como se estivesse assistindo ao desenrolar de um drama trágico. Clara, determinada, liderou o grupo em um último esforço.

Com cada palavra proferida, a clareira pulsava com energia, e a presença das bruxas manifestava-se, flutuando nas sombras. As bruxas começaram a rir, as suas risadas cortavam o ar como lâminas afiadas. Clara, no entanto, não hesitou e, com um grito de determinação, lançou o que havia aprendido num encantamento de proteção.

As bruxas reagiram, um vendaval de poder as envolveu, tentando romper a barreira que se formava ao redor do grupo. Clara, porém continuou firme, graças à força unida dos seus amigos. Uma explosão de luz irrompeu ao redor deles e Clara sentiu as suas energias convergindo num único ponto.

— "Pela luz que nos guia, pela terra que nos abriga, selamos este portal!" Ela gritou, e a energia irrompeu como um raio, colidindo com as bruxas e dispersando-as na escuridão. O barulho foi ensurdecedor, e a clareira, antes repleta de trevas, foi inundada por uma luz radiante.

As bruxas foram banidas, seus gritos se transformando em ecos distantes. A lua, agora pálida, observou em silêncio, como se reconhecesse a bravura dos jovens. O grupo, exaustos mas aliviados, sentiram que a paz agora voltara à reinar em sua aldeia.

Contudo, Clara sabia que aquela vitória não seria definitiva. As bruxas poderiam retornar, e o medo poderia ressurgir. Mesmo assim, naquele momento, a sensação de triunfo superava qualquer dúvida. Todos entenderam que a verdadeira força não residia apenas no poder mágico, mas na valentia de enfrentar o desconhecido.

Eldermoor, marcada por histórias de bruxas e encantamentos, agora honrava seus defensores. As lendas, reforçadas pelos ecos de uma batalha esquecida, uniam a aldeia de forma irrevogável. Os jovens, eternamente ligados, tornaram-se os guardiões do legado, prontos para proteger sua casa contra a escuridão que poderia, um dia, voltar a ameaçá-los.

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Comments

Marcia Da cunha

Marcia Da cunha

Adoro esses contos!!

2024-11-08

2

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