capítulo 18

“Sim, senhorita. Você deseja vê-la?” questionou a mulher.

“Sim, estou indo agora,” respondeu Teresa, sem deixar espaço para mais perguntas, desligando a chamada com um movimento preciso. Com um último olhar para a cozinha, onde a rotina continuava a fluir como um rio sereno, ela se virou, seus passos silenciosos ecoando pelo piso de mármore.

Ao entrar na sala, avistou Leonor rindo diante da televisão, completamente alheia à tensão que pairava no ar. A chefe de cozinha, atenta, estava ao lado, assegurando que ela comesse o que tinha preparado. Teresa permitiu-se observar a filha por um breve momento, mas sem emoção aparente em seus olhos.

Sem fazer barulho, passou pela sala e atravessou a porta imponente da mansão. No pátio, avistou um dos seguranças postado na entrada. Sem alterar o ritmo, fez um gesto sutil, mas decidido, chamando-o.

“Traga meu carro,” disse, sua voz firme, com um tom frio e inquestionável.

O segurança inclinou a cabeça em concordância e saiu rapidamente. Teresa aguardou por poucos instantes, com a mesma postura impecável, sem pressa, mas também sem a mínima hesitação. Logo, o SUV preto deslizou suavemente até parar diante dela.

Ela entrou no carro com movimentos calculados, fechando a porta com um clique seco. O motor ronronou baixinho, ecoando no pátio silencioso, enquanto ela partia com uma determinação fria, o olhar fixo na estrada à frente. Atrás dela, a mansão permanecia quieta, imponente, como um refúgio inabalável, alheia ao turbilhão que se formava dentro de Teresa.

Lá dentro, a tranquilidade reinava. Leonor estava totalmente entretida com o desenho animado que passava na televisão, rindo inocentemente, sua atenção presa nas cores vibrantes da tela. A chefe de cozinha, vigilante, certificar-se de que a menina comesse cada pedaço da refeição cuidadosamente preparada.

Leonor olhou para a mulher ao seu lado e, com um sorriso travesso, bateu no assento vazio, indicando que queria companhia para sua maratona de desenhos. A mulher balançou a cabeça em uma recusa educada, mantendo sua postura profissional.

“Agora não, Leonor” respondeu suavemente.

Mas Leonor, determinada como sempre, voltou a bater no assento com mais insistência.

“Vamos, Ana, assista comigo,” disse a menina, os olhos brilhando de expectativa, como se soubesse que a mulher acabaria cedendo.

Ana hesitou por um momento, olhando para a criança com um leve sorriso nos lábios, sabendo que seria difícil resistir por muito mais tempo.

Ana se sentou ao lado de Leonor, que deu um sorriso vitorioso ao conseguir convencê-la. Voltou a focar no desenho, alternando sua atenção entre a televisão e as colheradas que levava à boca. Logo o prato estava vazio e o copo também, e Ana, a chefe de cozinha, retirou o prato do colo da menina.

“Ótimo,” disse Ana, se levantando e alisando o avental. “Quer mais?” perguntou gentilmente.

Leonor balançou a cabeça. “Não, a mamãe não está mais em casa.”

“Eu posso fazer mais pra você, se quiser,” disse Ana, tentando oferecer uma solução.

“Eu gosto mais dos que a mamãe faz,” respondeu Leonor, sem tirar os olhos da televisão.

Ana sorriu, confiante. “Eu te garanto que o meu vai ficar perfeito, igual ao dela.”

Leonor desviou o olhar da TV e encarou Ana com um sorriso singelo. “Esse é o problema,” disse ela, com uma sinceridade que fez Ana hesitar.

“O seu é perfeito demais,” continuou Leonor, balançando a cabeça levemente.

Intrigada, Ana voltou a se sentar ao lado da menina. “E qual é o problema de ser perfeito?” perguntou, inclinando-se levemente, genuinamente curiosa.

“O que a mamãe faz é diferente... não é perfeito, mas é especial,” explicou Leonor, com um olhar pensativo, como se estivesse refletindo sobre algo maior. “Ela sempre se esforça para agradar-me. Mesmo que às vezes ela queime um pouquinho ou erre o ponto, eu sinto o carinho dela em cada detalhe. Isso faz tudo ter um sabor único.”

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