“Senhor Dimitri?” disse uma mulher, um pouco atrás dele.
Dimitri suspirou e se virou. A alguns passos, uma mulher negra o observava.
“Sim,” respondeu ele, encarando-a.
A mulher se aproximou, exibindo um distintivo com as iniciais “ADPES.”
“Agência de Pacto Entre Seres,” disse ela, diminuindo a distância. “Podemos conversar?”
Dimitri manteve a porta do táxi aberta, os olhos fixos na mulher. Havia algo na postura dela que o deixava em alerta, mas ele não demonstrou. Com um leve movimento de cabeça, sinalizou para o taxista esperar.
“Sobre o quê?” ele perguntou, sua voz baixa, mas carregada de curiosidade controlada.
A mulher esboçou um leve sorriso, mas seus olhos permaneceram sérios. “Sobre a sua recente... movimentação. Sabemos que você fez algo que não estava nos acordos.” Ela parou, esperando sua reação, mas Dimitri apenas arqueou uma sobrancelha, mantendo-se em silêncio.
Ela prosseguiu: “A ADPES está aqui para manter a paz entre humanos e seres. E você, senhor Dimitri, está caminhando na linha tênue que pode quebrar esse equilíbrio.”
Dimitri respirou fundo, disfarçando o incômodo. “Se isso for uma acusação, vou precisar de mais do que insinuações.”
A mulher deu um passo à frente. “Não estamos aqui para acusá-lo... ainda. Mas você sabe tão bem quanto nós que certas ações têm consequências. Vamos precisar que nos acompanhe para uma conversa mais... detalhada.”
Dimitri olhou para o táxi por um breve segundo, ponderando suas opções. Ele sabia que não seria uma saída fácil. Então, fechando a porta do carro.
“Tudo bem. Vamos conversar.” Dimitri suspirou, enquanto o táxi partia, deixando-os a sós. A mulher, com um gesto tranquilo, apontou para um banco mais à frente e começou a caminhar em direção a ele. Dimitri a seguiu, sua expressão levemente entediada.
Ao chegarem, eles se sentaram lado a lado, com a mulher acomodando-se à direita de Dimitri.
“Vamos, fale o que você quer,” disse ele, olhando ao redor, atento aos detalhes do ambiente.
“Não precisa se preocupar, senhor Dimitri, estamos a sós,” respondeu a mulher com calma, o olhar fixo nele.
“Sim, e eu sou o Papai Noel,” retrucou Dimitri, virando-se para frente, impaciente. “Agora diga o que realmente quer de mim.”
“Ficamos curiosos quando recebemos uma ligação do departamento de polícia. Parece que Dimitri Demir estava... como posso dizer? Espancando três pessoas,” disse ela, seu tom carregado de ironia.
Dimitri soltou uma risada curta. “Bom, tecnicamente eu não os espanquei... só deixei uma pessoa desacordada,” respondeu ele, desdenhoso.
A mulher puxou um celular e, sem perder a compostura, mostrou as imagens de uma câmera de segurança. “As filmagens que eu tenho aqui mostram que você lidou com eles de uma maneira bem... espalhafatosa.”
Dimitri observou as gravações, e um sorriso despreocupado se formou em seus lábios. “Me manda uma cópia depois?”
Ela arqueou uma sobrancelha, claramente surpresa. “Você realmente não se importa, não é?”
“Eu só fiz o que precisava ser feito,” disse Dimitri, com uma firmeza natural. “Agora, você vai me dizer por que isso é problema da ADPES, ou vou ter que adivinhar?”
“”Bom,” começou a mulher, fazendo aspas com os dedos, “nós sempre ficamos de olho nos ‘Ferreira’, se é que você me entende.”
Dimitri esboçou um sorriso irônico. “Senhorita, cujo nome eu ainda não sei, avise seus superiores para prestarem mais atenção ao redor deles. Estão deixando passar muita coisa.”
A mulher manteve o olhar sereno, mas uma tensão sutil pairava no ar. “Estamos atentos, Dimitri. Sabemos mais do que você imagina.”
“É...” disse Dimitri, já se levantando. “Chame logo o cara que está atrás daquela árvore. O cheiro dele é bem forte, está me incomodando.” Ele apontou para uma árvore a alguns metros de distância.
A mulher soltou um suspiro resignado, o peso da situação evidente em seus ombros. “Pode sair, Josh,” disse ela, com uma calma que contrastava com a tensão latente no ar. Um homem alto, cerca de 1,80m, pele clara e cabelos escuros, emergiu das sombras por trás de uma árvore próxima. Sua expressão não mostrava surpresa; ele sabia que havia sido descoberto desde o início.
Dimitri lançou-lhe um olhar de desprezo, um sorriso enviesado curvando seus lábios. “Eu poderia reconhecer o cheiro de uma criatura dessas a quilômetros,” murmurou, o tom carregado de uma quase diversão, como se estivesse testando a paciência do outro. Josh imediatamente ficou rígido, seus punhos cerrando-se ao lado do corpo, mas ainda assim, lutava para manter a compostura.
“A criatura aqui tem nome,” retrucou Josh, sua voz saindo um pouco mais alta do que pretendia, as palavras cheias de indignação. Ele estava à beira de perder a paciência, e Dimitri, percebendo isso, apenas deixou escapar uma risada abafada, o divertimento dançando em seus olhos. Para ele, Josh não passava de uma distração irritante, uma formiga tentando desafiar um gigante.
Se Teresa estivesse ali, já teria acabado com a insolência com um simples olhar. Mas Dimitri, diferente dela, se divertia com o jogo. Ele gostava de testar os limites dos outros, de ver até onde iam antes de se quebrarem. No entanto, antes que pudesse provocar ainda mais, a mulher interveio.
“Já chega,” disse ela, levantando-se. Sua voz tinha uma autoridade fria, o tipo de comando que não aceitava resistência. “A mulher que você viu no hotel? Estamos atrás dela.” Seus olhos penetrantes estavam fixos em Dimitri, a urgência se refletindo nas linhas tensas de seu rosto. Mas ele apenas sorriu, indiferente ao desespero dela.
“É, eu também estou atrás dela. Se a encontrarem, me avisem,” respondeu Dimitri, casualmente, como se o assunto fosse trivial. Ele já havia começado a se afastar, arrastando sua mala de couro gasto pelo tempo, quando as próximas palavras da mulher o fizeram parar no meio do passo.
“Essas pessoas podem estar envolvidas com Lecia.” A simples menção do nome congelou Dimitri no lugar. Seus músculos ficaram rígidos, o sorriso desaparecendo de seu rosto. Ele se virou lentamente, e seus olhos, agora cheios de uma raiva fria e controlada, estavam fixos nela.
“Como?” Ele exigiu, sua voz carregada de uma intensidade perigosa. “Ela está morta. Eu mesmo fiz isso.” Havia algo de feroz em seu olhar, como se desafiasse a mulher a contradizê-lo.
“E não foi só isso. Você quase levou a humanidade à extinção,” acrescentou Josh, sua voz pesada de julgamento, o que fez Dimitri apertar os punhos, os nós dos dedos ficando brancos. Ele queria, mais do que tudo, calar a boca daquele homem arrogante. Mas manteve o controle, apenas porque a mulher ainda estava ali.
“Fique quieto, Josh,” a mulher o repreendeu rapidamente, sem tirar os olhos de Dimitri. O ambiente ao redor parecia encolher, a tensão entre os três agora quase tangível.
“Por tudo o que sabemos, não há provas conclusivas de que ela esteja morta,” a mulher continuou, sua voz tentando manter a calma, mesmo enquanto o ambiente se tornava mais sufocante.
“Impossível,” murmurou Dimitri, sua expressão agora uma mistura de confusão e negação. Seu olhar se perdeu brevemente, como se estivesse remexendo nas memórias antigas, tentando encontrar alguma falha nos eventos que ele achava que havia encerrado para sempre.
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Atualizado até capítulo 51
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