A manhã em Saint Claire era suave, com o céu limpo e uma brisa leve atravessando as grandes janelas da cozinha da imponente mansão. O ambiente, inteiramente revestido de mármore e com armários de madeira escura, refletia o brilho frio da luz matinal. No centro desse cenário elegante, Teresa movia-se mecanicamente, como se estivesse no piloto automático, preparando ovos mexidos para Leonor. O cheiro da manteiga derretida e o som ritmado dos ovos batendo contra a frigideira preenchiam o espaço, mas não conseguiam trazer sua mente de volta para o presente.
Apesar de sua expressão serena, seus pensamentos estavam longe dali, presos nos detalhes inquietantes da situação que se desenrolava. Mesmo com o costume de compartilhar tudo com o marido, dessa vez, havia escolhido o silêncio. Algo a impedia de falar—uma combinação de cautela e um medo sutil que a rondava. Cozinhar tornava-se um refúgio momentâneo, uma distração que a mantinha ocupada enquanto o caos se aproximava, invisível, mas palpável.
Assim que os ovos estavam prontos, ela os serviu num prato e os colocou sobre o balcão de mármore com um gesto automático. Havia algo descompassado em seus movimentos, como se seu corpo funcionasse por hábito, mas sua alma estivesse em outra dimensão, tentando antecipar os próximos passos.
Ela caminhou até a geladeira, abrindo-a sem pressa. Seus olhos caíram sobre a jarra de suco de maracujá, o favorito de Leonor, e por um breve momento, uma leve onda de ternura passou por seu rosto, suavizando suas feições rígidas. Era um pequeno gesto de normalidade em meio ao turbilhão que a cercava.
“Pegue o copo preferido de Leonor,” disse Teresa, sua voz baixa, mas firme, dirigindo-se à chefe de cozinha. A mulher, conhecendo bem as peculiaridades da casa, caminhou até a copa e, com precisão, escolheu o copo certo: um simples copo rosa de plástico, que destoava dos cristais e porcelanas finas que preenchiam o armário, mas que carregava um significado especial para a criança.
Teresa observava a cena com um olhar distante, o copo rosa ao lado do prato sendo um pequeno detalhe que a mantinha conectada à realidade. A familiaridade daquele gesto trazia uma sensação de conforto, mas era algo superficial, incapaz de dissipar a inquietação que pairava como uma sombra na borda de sua consciência.
Encostada no balcão da cozinha, seu corpo estava presente, mas sua mente afundava lentamente em pensamentos. Sua expressão neutra, quase vazia, não revelava nada do turbilhão interno. Ela estava tão imersa em sua própria mente que não percebeu a aproximação da chefe de cozinha.
“Senhorita?” A voz da mulher soou, mas não houve resposta. Teresa continuava alheia ao movimento ao seu redor.
“Senhorita Teresa?” A chefe de cozinha insistiu, desta vez um pouco mais alto, tentando romper a barreira de silêncio que cercava Teresa.
Foi apenas então que Teresa piscou, lentamente voltando ao presente. Seus olhos focalizaram a mulher à sua frente, como se tivesse sido subitamente despertada de um sonho distante.
“Sim?” respondeu com um leve sobressalto, sua voz um pouco rouca, como se ainda estivesse ajustando-se à realidade ao seu redor.
A chefe de cozinha sorriu de forma compreensiva, inclinando a cabeça levemente. “Posso servir Leonor agora, senhorita?”
Teresa assentiu, ainda um pouco ausente, mas forçando-se a focar novamente. “Sim, claro. Sirva-a,” disse, com um tom de voz mais suave do que de costume. Mesmo de volta à realidade, a sensação de desconforto e preocupação permanecia, envolta em um silêncio que parecia apenas crescer.
“Espere,” disse Teresa, chamando a chef de cozinha que carregava uma bandeja. “Caso Leonor pergunte por mim, diga a ela que eu tive que sair e não sei a hora de voltar.” Ela sacou o celular do bolso, seu tom de voz frio e direto.
A mulher apenas assentiu antes de se afastar. Enquanto a chefe de cozinha desaparecia na direção da sala, Teresa respirou fundo e voltou sua atenção para o telefone. Navegou rapidamente pelos contatos até encontrar o nome “Assistente” e apertou.
A ligação foi atendida quase imediatamente. “Sim, senhorita Teresa,” respondeu a assistente, com um tom profissional.
“Nossa hóspede, Fiona, está confortável?” Teresa perguntou, mantendo a voz impassível.
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Atualizado até capítulo 51
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