“Você vai amar a surpresa.” Essas palavras, simples e diretas, reverberaram em sua mente, causando um desconforto imediato. Ele franziu a testa, sentindo que algo estava errado. Lentamente, retirou a tampa do primeiro prato à esquerda. Debaixo dela, encontrou um bilhete dobrado e amarelado nas bordas. Sem hesitar, abriu-o.
“Culpado, culpado, culpado. Sua família terá o mesmo destino daqueles que você um dia chamou de irmãos. E farei você assistir sem poder fazer nada.”
A ameaça foi como um golpe direto. O sangue gelou em suas veias, mas, rapidamente, a raiva fervente substituiu o choque. Nada no mundo era mais importante para ele do que sua família. E a ideia de vê-los em perigo despertava algo primordial e incontrolável em seu interior.
Ele esmagou o bilhete na palma da mão, com tanta força que o papel quase se desfazia. Seus olhos, normalmente de um castanho sereno, agora estavam tingidos de um vermelho ameaçador, reflexo de uma ira que crescia a cada segundo.
Com respiração pesada, ele se virou para o prato à direita, com os músculos tensos e prontos para o pior. Ao abrir a tampa, seu olhar foi imediatamente atraído para uma foto. Era Teresa, usando óculos escuros, calça jeans azul e uma blusa preta, esperando em uma faixa de pedestres. Ao lado dela, Leonor, de mãos dadas com a mãe, sorria alheia a qualquer perigo.
Era uma cena tão comum e inocente — um passeio de mãe e filha. Mas o contexto transformava aquele momento em algo sinistro. Alguém estava observando sua família de perto, o tempo todo, transformando momentos de ternura em ferramentas de terror. O simples fato de saber que Teresa e Leonor estavam sendo vigiadas fazia seu sangue ferver.
Por um breve momento, enquanto ele segurava a foto à luz da luminária iluminou atrás da foto, algo chamou sua atenção. Um texto revelava-se na parte de trás da foto, quase imperceptível, mas nítido o suficiente para que ele o visse.
Imediatamente, ele virou a foto, revelando o bilhete escrito com uma caligrafia fria e calculada:
“Pobre Leonor... Será que uma criança consegue sobreviver à decepção? Quantos anos ela tem, seis? Seis anos de ilusão... Sabemos o que ela é, e em breve, ela não existirá mais.”
Seu corpo enrijeceu, a raiva que antes o consumia agora transformava-se em uma fúria gelada, cada palavra do bilhete ressoando em sua mente. A ameaça contra sua filha era direta e cruel. A raiva dentro dele não era mais um mero fogo passageiro — era um ódio profundo e crescente, uma força que ele mal conseguia conter.
Ele segurou a foto por mais alguns segundos, os olhos focados nas figuras de Teresa e Leonor. Queria destruir o pedaço de papel, assim como fizera com o bilhete anterior, mas seus dedos se recusaram a esmagar a imagem de sua esposa e filha. Havia um respeito profundo, quase reverente, naquele gesto. Com um suspiro pesado, ele colocou a foto de volta sobre o prato, o cuidado com o qual o fez contrastando com a tormenta que fervilhava dentro de si.
Por fim, ele dirigiu o olhar para o prato do meio. Sem hesitar, retirou a tampa, revelando um pingente, um bilhete e mais uma foto. O pingente trazia um símbolo que ele conhecia muito bem — uma fênix habilmente esculpida na tampa.
Ele pegou o pingente e o abriu, revelando o brasão de sua antiga família, os Demir: uma fênix com asas abertas em pleno voo, cercada por correntes quebradas. O símbolo, que representava o renascimento e a imortalidade dos Demir, trouxe à tona memórias sombrias de traições e vitórias amargas. A fênix, com suas penas vermelho-escuras contrastando com o brilho prateado das correntes, parecia pulsar com o poder ancestral que ele conhecia tão bem.
Ele então abriu o bilhete: “Você pagará caro por ter tomado o que é meu por direito. Prepare-se, Dimitri Demir. A sua hora está chegando.” As palavras pesavam, e ele sabia que a ameaça não era vazia, ainda mais com o nome de sua antiga família ali presente — quem quer que fosse, sabia exatamente quem ele era.
Ao pegar a foto, viu a imagem de um sarcófago de ferro, enferrujado e marcado pelo tempo, trazendo consigo um presságio sombrio. Seus olhos fixaram-se na imagem, e, de cima para baixo, sua expressão mudou, passando de confusão para uma ansiedade crescente. Era algo que ele havia jurado esquecer, mas ali estava, o passado à sua frente.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Isabel Garcia
apreensiva, coração aos saltos
2024-10-30
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