Em um hotel na Alemanha, às 20h, o som constante do chuveiro preenchia o ambiente, sinalizando que alguém estava no banho. Na sala de estar do quarto, sobre a mesa de centro, um celular começou a vibrar e tocar, rompendo o silêncio. A luz da tela piscava no ritmo da chamada, e o nome Querida brilhava no visor.
Pouco depois, o som da água cessou. Um homem saiu do banheiro, uma toalha enrolada na cintura, e seus passos ecoaram pelo piso do quarto enquanto ele se aproximava da mesa. Seu olhar pousou no celular, e, ao ver o nome na tela, uma leve surpresa passou por seu rosto. Sem hesitar, pegou o aparelho e atendeu.
“Querida?” Sua voz grave carregava uma curiosidade calma, mas do outro lado havia apenas silêncio. Ele franziu a testa, afastando o celular da orelha para verificar se a ligação ainda estava ativa — e estava. Colocou o aparelho de volta no ouvido.
“Querida? Aconteceu algo?” A pergunta veio com um tom de leve preocupação, mas sua postura permaneceu tranquila, embora ele notasse a hesitação incomum no silêncio.
A resposta veio logo em seguida. “Sim,” disse Teresa, a voz dela firme, mas com uma leve tremulação. Ele arqueou as sobrancelhas, sentindo algo diferente. Algo está errado, pensou.
“Oi... como você está?” A voz de Teresa não parecia como de costume. Algo estava fora de lugar, e ele podia sentir isso claramente.
“Você está bem?” Ele insistiu, mantendo o tom sereno, mas atento aos detalhes. Se havia algo acontecendo, ele precisava saber.
“Não, só... me deu saudades de você.” As palavras o pegaram desprevenido, mas ele manteve a expressão neutra. Teresa raramente falava desse jeito, e isso o fez prestar ainda mais atenção.
Ele soltou uma breve risada, tentando suavizar o clima. “Você me ligando para dizer que está com saudades? Isso é novidade. Geralmente, Teresa Ferreira não deixa escapar nada desse tipo.” Apesar de tentar manter as coisas leves, ele sabia que a ligação tinha um peso maior do que parecia.
Do outro lado, ela respondeu com um pequeno sorriso perceptível em sua voz. “É, bom... talvez eu precise de você mais do que gosto de admitir.” A confissão o fez pensar, mas ele não deixou transparecer. Teresa não era de admitir fraqueza, e isso o intrigava.
“Vou voltar o mais rápido possível,” ele respondeu, sem se demorar na análise do momento. “Leonor também deve estar sentindo minha falta, não é?”
“Sim, ela pergunta de você o tempo todo,” Teresa respondeu, a voz mais suave agora. Ele assentiu, embora ela não pudesse vê-lo, processando o que estava por trás dessas palavras.
“E eu também.” Ele percebeu a tensão diminuindo um pouco na voz dela, mas ainda havia algo ali, subjacente, que o deixava atento.
“Eu sinto muito por estar longe por tanto tempo. Já são duas semanas. Mas estarei de volta logo, eu prometo. Até lá, tente manter tudo sob controle.” Sua voz era firme, mas não excessivamente emocional. Ele sabia que ela não precisava de mais preocupações.
“Eu vou tentar. Só... não demore, tá?” O pedido, tão raro vindo dela, o fez tomar nota, mas ele manteve a calma.
“Não vou,” ele respondeu de forma direta. “Fique bem, Teresa. Eu te amo.”
“Eu também te amo,” ela respondeu, encerrando a ligação logo depois. Ele ficou em silêncio por alguns segundos, deixando o celular de lado e refletindo sobre o breve diálogo. Algo está acontecendo, ele pensou, enquanto um leve desconforto começava a se formar.
Seus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta.
“Sim?” Ele respondeu, colocando o celular de volta sobre a mesa.
“Serviço de quarto,” uma voz feminina falou em alemão do outro lado da porta.
Ele franziu a testa. Ele não havia pedido nada.
“Já vou,” disse em alemão.
Ele foi até a cama onde sua mala estava. Ainda não havia tirado nada de lá, já que tinha chegado ao hotel apenas naquele dia após uma maratona de reuniões. Pegou uma calça de moletom, vestiu-se rapidamente e foi até a porta.
“Sim,” disse ao abrir, revelando uma mulher branca com um carrinho de serviço de quarto, onde três bandejas de comida estavam dispostas.
“Serviço de quarto,” repetiu a mulher com um leve aceno.
“Você deve estar enganada,” disse ele, confuso. “Eu não pedi nada.”
Ela puxou um papel com os números dos quartos e mostrou para ele. “Aqui está,” disse, apontando para o quarto dele listado.
Ele pegou o papel, verificou e confirmou que, de fato, seu número estava ali. Suspirando, deixou que ela empurrasse o carrinho para dentro do quarto. Assim que terminou, a mulher ficou de pé, estendendo a mão, esperando que ele devolvesse o papel.
“Tem multa por não comer nada?” perguntou ele, com um sorriso de canto, enquanto devolvia o papel.
A mulher sorriu ironicamente e respondeu: “Se tivesse, eu já estaria milionária. Mas fique tranquilo, o desperdício aqui é tão grande que você não faria diferença.”
“Bom apetite... ou não,” acrescentou com uma leve provocação, antes de se virar e sair do quarto.
Ele suspirou, fechando a porta com um leve toque. Quando seus olhos caíram sobre o carrinho de serviço, ele notou um pequeno papel dobrado em cima de uma das bandejas. Movido pela curiosidade, pegou o bilhete e o desdobrou.
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Atualizado até capítulo 51
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