A omelete logo ficou pronta, dourada e perfeitamente cozida. Teresa a colocou em um prato de porcelana e decorou com ervas frescas, observando o resultado com um olhar crítico, mas satisfeito. Ela se virou para a chef e disse: “Pode servir para Leonor. Certifique-se de que esteja quente e acompanhado do suco de laranja fresco.” A chef pegou o prato, fazendo mais uma reverência. “Sim, senhorita.”
Enquanto o prato era levado para Leonor, Teresa sentiu um breve alívio. Mas, mesmo ali, na tranquilidade da cozinha, o peso das antigas questões que o bilhete trouxe à tona ainda pairava sobre ela. Sabia que, após cuidar de Leonor, teria que enfrentar o mistério e as implicações daquele passado que, mais uma vez, ameaçava emergir.
Teresa encostou-se no batente da cozinha, soltando um leve suspiro. Seu corpo implorava por um banho, mas ela sabia que precisava conversar com seus funcionários antes. Observando uma empregada passar pelo corredor, chamou-a com um gesto.
“Sim, senhorita?” a empregada respondeu prontamente.
“Chame Olga para mim,” ordenou Teresa, com um tom tranquilo, mas autoritário. A empregada fez uma breve reverência e saiu rapidamente. Teresa permaneceu na cozinha por mais alguns minutos, o suficiente para recobrar o fôlego, até que sua governanta apareceu. Olga tinha uma aparência jovial apesar da idade, um contraste com a atmosfera normalmente séria da casa, e isso sempre deixava claro que ela era humana.
“Me chamou, senhorita Teresa?” perguntou Olga, mantendo o respeito em sua voz.
“Sim. Reúna todos na sala de estar, preciso falar com vocês,” disse Teresa, já voltando-se para pegar o paletó que havia deixado sobre uma cadeira. Olga assentiu em silêncio, compreendendo a urgência, e saiu para cumprir a ordem.Com isso resolvido, Teresa foi até o quarto de Leonor.
Ao entrar, viu que a filha já estava dormindo profundamente, com o prato vazio ao lado da cama, indicando que havia comido tudo. Teresa, apesar de seus séculos de vida, nunca foi talentosa na cozinha. Por essa razão, contratou os melhores chefs para garantir que Leonor sempre tivesse refeições de qualidade. Curiosamente, o prato favorito da filha era a omelete que Teresa sabia preparar – uma das poucas coisas que ela conseguia cozinhar com facilidade. Aproximando-se de Leonor, Teresa inclinou-se para dar um leve beijo em sua testa, observando por um momento a tranquilidade da filha adormecida.
Em seguida, deixou o quarto de Leonor em silêncio, fechando a porta com cuidado para não perturbá-la. Ao chegar em seu próprio quarto, Teresa foi diretamente ao banheiro. Lá, começou a se despir lentamente, revelando seu corpo definido, mas marcado por algumas cicatrizes.
Ela parou diante do espelho, encarando seu reflexo. Os músculos tensos sob a pele mostravam anos de resiliência, enquanto as cicatrizes contavam histórias que apenas ela conhecia. Teresa apoiou-se na pia, seus cabelos caindo sobre seus olhos, atrapalhando sua visão. Mas, no momento, isso não a incomodava.
Com um gesto automático, levou a mão até uma pequena cicatriz logo abaixo do umbigo. Era discreta, com cerca de 1,5 cm, no formato de uma fenda, mas carregava consigo memórias profundas. Teresa passou os dedos sobre a cicatriz, sentindo a textura ligeiramente diferente da pele ao redor. Por um instante, suas lembranças a puxaram para um passado distante, mas ela rapidamente recuperou o foco.
Depois de um suspiro pesado, afastou-se do espelho e entrou no chuveiro, deixando que a água quente lavasse não apenas seu corpo, mas também a tensão acumulada, pelo menos por um breve momento.
Depois de um suspiro pesado, Teresa se afastou do espelho e entrou no chuveiro, deixando que a água quente lavasse não apenas seu corpo, mas também a tensão acumulada, pelo menos por um breve momento.
Embora seu rosto refletisse calma, sua mente estava inquieta, vasculhando cada ângulo da situação em busca de respostas. Não importava quantas perspectivas tentasse considerar; sempre acabava retornando ao mesmo ponto — ao nada, a uma ausência de soluções que parecia envolvê-la como um vazio.
Assim que terminou o banho, Teresa se enrolou em uma toalha e foi até o closet, onde escolheu uma calça de moletom cinza e uma blusa preta. Vestida, as marcas em sua pele foram cuidadosamente cobertas pelo tecido suave. Ao se olhar no espelho, estudou a própria imagem: o cabelo ainda um pouco úmido, a expressão serena, mas com um olhar profundo, que escondia o turbilhão de emoções sob a superfície.
Seus devaneios foram interrompidos por um leve bater na porta do quarto.
“Sim,” disse Teresa, virando-se para a porta.
“Estão te esperando, senhorita,” avisou a voz calma do outro lado.
Ela respirou fundo, ajustando a postura. “Já estou indo.”
Teresa calçou seu chinelo e saiu do quarto, encontrando Ouga à sua espera no corredor.
“Vamos, senhorita?” ele perguntou.
“Vamos” respondeu Teresa, dando um leve aceno de cabeça.
A caminhada pelo corredor foi breve, mas a expressão de Teresa era visivelmente pensativa, seus olhos fixos em um ponto à frente, como se estivesse absorvida em seus pensamentos. Quando chegaram ao topo da escada, ela pôde ver seus funcionários reunidos no saguão, conversando distraidamente. Ouga permaneceu ao lado dela, aguardando.
Com uma voz firme e imponente, ela chamou a atenção de todos: “Atenção!”
Imediatamente, os olhares se voltaram para o topo da escada, onde Teresa estava. Ela desceu alguns degraus, parando no meio do percurso, onde podia observar todos claramente e ser vista de forma imponente. Sua postura era firme, mas seus olhos demonstravam uma intensidade, passando de rosto em rosto como se estudasse cada um ali presente.
Teresa parou no meio da escadaria, onde todos os olhos estavam sobre ela. O silêncio era quase palpável, uma pressão invisível que fazia cada um ali conter a respiração. Teresa se movia com uma presença imponente, o olhar severo e cheio de uma intensidade que poucos ousariam encarar diretamente.
“Hoje à tarde,” começou ela, sua voz cortante e precisa como uma lâmina, “fui obrigada a enfrentar algo deplorável. Um ser... insignificante.” Ela pronunciou a última palavra com um desdém quase ácido, deixando claro o desprezo que sentia. Ela começou a andar de um lado para o outro, como se o próprio movimento a ajudasse a conter a raiva. “Esse ser patético,” disse ela, e a palavra “patético” soava como um veneno em seus lábios, “possui um complexo de grandeza insuportável, de um nível que poucos teriam a ousadia de demonstrar.”
Ela parou, o olhar agora fixo em seus funcionários, quase como se pudesse ver através deles. “Ela não veio me ameaçar diretamente. Não desafiou este império que construímos com tanto esforço, nem ousou questionar minha liderança.” Sua voz ganhou uma intensidade ainda mais cortante, enquanto cada palavra era pronunciada com uma frieza que fazia alguns estremecerem. “Não… ela foi além.”
Teresa deu um passo à frente, cada movimento carregado de uma autoridade quase esmagadora. “Esse ser irrelevante ousou algo que nem os mais fortes inimigos teriam a imprudência de tentar.” Ela respirou fundo, e quando continuou, a fúria em sua voz era impossível de esconder. “Ela ousou ameaçar o que tenho de mais precioso. A herdeira deste império. Minha filha.”
Seus olhos brilharam em um tom escarlate vívido, uma raiva quase sobrenatural que fez os presentes se encolherem levemente. Era como se o próprio ar ao redor dela tivesse se tornado denso e cortante. Ouga, ao lado, permaneceu imóvel, mas até ela parecia sentir o peso da tensão. Teresa escaneou cada rosto, cada expressão, certificando-se de que todos compreendiam o significado de suas palavras.
“A partir de hoje,” declarou Teresa, com uma voz firme que soava mais como uma promessa, “qualquer um que ouse ameaçar minha família enfrentará algo muito pior do que a morte.” Sua voz era baixa, mas cada palavra carregava um peso ameaçador. “Não se trata de capricho ou de poder; é porque ousaram tocar o que me é mais sagrado. Minha filha, o futuro deste império.”
Ela lançou um olhar afiado a cada um dos presentes, como se quisesse gravar seu rosto em suas memórias. “A partir de agora, tripliquem a vigilância,” ordenou com frieza. “Se alguém ameaçar nossa segurança, façam o que for necessário para eliminar o risco. Ninguém autorizado entrará nesta casa. Entendido?”
O ar no salão parecia se tornar mais denso, quase sufocante, e, apesar da tensão, todos responderam em uníssono, com uma determinação quase desesperada: “Sim!”
O silêncio que se seguiu era pesado, como se cada um ali tivesse consciência da seriedade da declaração. Teresa não precisou dizer mais; sua presença e suas palavras haviam cravado uma verdade inescapável: quem ousasse desafiar seu domínio pagaria um preço fatal.
Com uma calma que só tornava sua determinação ainda mais assustadora, Teresa começou a subir as escadas. No topo, ao lado de Ouga, ela parou por um instante, o olhar fixo e penetrante.
“Quero os melhores investigadores,” disse ela com voz firme, cada palavra um comando absoluto. “Revirem a cidade, se for preciso. Quero informações precisas, completas. Nada menos.”
Ela fez uma pausa, e sua voz se tornou ainda mais afiada. “E não só do submundo. Quero que investiguem cada canto, cada sombra. Precisamos saber exatamente quem ousou se levantar contra nós.”
Ouga assentiu em silêncio, captando a gravidade da ordem. Teresa estreitou os olhos, reforçando a seriedade do pedido. “Nada deve ser deixado de lado. Nenhuma pista, nenhuma possibilidade. Cada detalhe deve ser descoberto.”
Ouga fez um gesto de compreensão e respondeu com um aceno respeitoso. Ele sabia que, para Teresa, falhar não era uma opção — e agora, sua lealdade e atenção ao menor dos detalhes seriam testadas ao limite.
“Amanhã, você se encontrará com Maria. Quero que compartilhem todas as informações que tiverem.” continuou Teresa, a voz firme.
“Sim, senhorita,” respondeu Ouga, sem hesitar. Teresa verificou o relógio em seu pulso; já passava da meia-noite, quase uma da manhã. “Podem voltar aos seus afazeres,” ela ordenou, a voz fria e autoritária.
Em seguida, virou-se e começou a subir as escadas novamente, mas foi interrompida por Ouga.
“Devo contratar investigadores humanos também?” A governanta perguntou, a voz levemente cautelosa.
“Contrate apenas aqueles que já sabem da existência de outros seres,” respondeu Teresa, sem olhar para trás. A maioria de seus empregados eram sobrenaturais, apenas alguns poucos humanos faziam parte de sua equipe, e Ouga era um deles.
Ouga se retirou sem dizer mais nada, deixando Teresa sozinha para subir o restante da escada. Quando chegou ao topo, fez uma pausa, observando o corredor silencioso. Os pensamentos ainda fervilhavam em sua mente, mas ela se forçou a focar no que era mais importante. Seus passos a guiaram pelo corredor até a porta do quarto de Leonor, onde parou por um instante, respirando fundo antes de entrar. A segurança de sua filha era sua prioridade absoluta, e nada poderia ameaçar isso.
Teresa abriu a porta lentamente e entrou no quarto da filha, fechando-a atrás de si com cuidado para não fazer barulho. O ambiente estava envolto em uma suave penumbra, mas as cores vibrantes do quarto ainda eram visíveis, destacando-se na escuridão. Tons de rosa, amarelo e vermelho se misturavam nas paredes, criando um espaço alegre e cheio de vida. Embora Teresa não fosse fã dessas cores tão intensas, havia algo naquele quarto que sempre a fazia sorrir, e ela sabia exatamente o porquê.
Ela caminhou pelo ambiente, suas lembranças a levando de volta ao dia em que pintaram o quarto. Ela e seu marido haviam decidido contratar um pintor para o quarto, mas Leonor, insistiu que fossem seus pais a pintar o quarto. “Vocês que têm que pintar o quarto da sua filha,” ela dissera, com a determinação inocente de uma criança. Mesmo podendo contratar o melhor pintor do país, Teresa e o marido cederam ao desejo da filha.
Teresa sorriu ao recordar a cena – Leonor correndo de um lado para o outro, brincando e rindo enquanto eles se esforçavam para completar a pintura. O quarto se tornara um reflexo daquela alegria, um espaço onde a energia da filha parecia se manifestar em cada cor.
Com passos leves, Teresa se aproximou da cama. Observou Leonor ressonando suavemente, mergulhada em um sono profundo e tranquilo.
Teresa se deitou com delicadeza ao lado da filha, sentindo o calor do pequeno corpo adormecido ao seu lado. Leonor se moveu ligeiramente, oscilando entre o sono profundo e a consciência. Instintivamente, Teresa passou a mão com suavidade sobre os cabelos da filha, fazendo um leve cafuné. O toque gentil pareceu acalmar Leonor, que logo parou de se mexer e afundou ainda mais no sono tranquilo.
Enquanto o quarto mergulhava em um silêncio acolhedor, Teresa continuou acariciando a cabeça de Leonor, seus dedos deslizando suavemente pelos cabelos da filha. A repetição do gesto, quase automática, permitia que ela se conectasse com uma paz interior que raramente encontrava.
Ao mesmo tempo, a presença da filha a mantinha ancorada no que era mais importante para ela naquele momento, reforçando seu compromisso de proteger Leonor a qualquer custo. O corpo dela relaxava aos poucos, mas sua mente permanecia alerta.
No silêncio do quarto, a escuridão parecia se misturar com seus pensamentos, trazendo à tona um juramento silencioso.
“Ninguém vai machucá-la...”, murmurou, com uma voz firme, quase fria. Uma promessa que não era apenas um desejo, mas uma certeza. “Eu moverei céus e terra se precisar. Não importa o que aconteça, não importa quem se oponha, ninguém ousará tocar na minha filha.”
Seus olhos cintilaram com uma intensidade feroz. Era um juramento inabalável, um aviso para qualquer um que ousasse desafiar a segurança de Leonor. Teresa estava pronta para tudo, e qualquer ameaça seria enfrentada com a força implacável que só uma mãe pode ter.
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Atualizado até capítulo 51
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