Hanna dormia calmamente, seu cachorro estava no banheiro destruindo todos os rolos de papéis higiênicos, após me aliviar me direcionei para a pia, e lavei a mão, o espelho do banheiro era daquele antigos que se abriam revelando um compartimento para guardar itens.
A escova de Hanna estava dentro de um copo, juntamente com o creme dental, só lado haviam diversos cremes e pomadas para queimaduras, todas com preços e embalagens, também haviam antidepressivos e remédios para dormir. Fechei o compartimento angustiado, Hanna teve uma adolescência terrível.
Limpei a bagunça de seu cachorro e iria aproveitar para fazer seu café da manhã.
Na cozinha abri sua dispensa, vazia, não havia muitas coisas, apenas pão velho, algumas latas de feijões e um saco de ração de uma qualidade mediana.
Sua geladeira estava vazia, apenas tinha água e uma lata aberta de feijão. Respirei fundo, ver que Hanna não vivia e sim sobrevivia, me deixava magoado e furioso com Angélica. Por culpa dela Hanna abdicou de seus sonhos pra fugir do seu passado, de seu trauma, e inutilmente não havia superado.
Peguei meu celular e fiz uma ligação, queria ter certeza de que Hanna nunca mais passaria fome ou dificuldades na vida.
Hanna não tem psicológico para sair sozinha do buraco de onde foi jogada.
[...]
Eu observava o caos controlado se desenrolar ao meu redor enquanto a casa de Hanna se enchia de pessoas. Entregadores carregavam caixas de comida, funcionários da minha equipe instalavam novas câmeras discretamente em pontos estratégicos do apartamento, e outros traziam equipamentos para a pequena reforma que eu havia ordenado. O apartamento dela, até então vazio e triste, ganhava vida. Cada movimento, cada objeto que entrava naquele espaço, era um passo para garantir que Hanna nunca mais tivesse que enfrentar dificuldades.
Minha atenção foi momentaneamente desviada quando um dos trabalhadores me perguntou onde deveria colocar o fogão.
-Ao lado da geladeira. — respondi, apontando. Eles rapidamente começaram a instalar o novo eletrodoméstico.—
A dispensa, antes vazia, estava sendo preenchida com sacolas de alimentos de alta qualidade, e a geladeira já não era mais aquele espaço desolado de antes. Produtos frescos, prontos para serem usados, enchiam cada prateleira. Senti uma pontada de satisfação ao ver tudo aquilo se transformar, mas havia uma parte de mim que ainda não estava completamente em paz.
Eu sabia que o que mais atormentava Hanna não era a falta de comida ou a falta de conforto. Não. O que a consumia vinha de muito mais fundo. As cicatrizes que cobriam seu corpo, o trauma que ela carregava em silêncio, o pesadelo que havia marcado sua vida... essas eram as feridas mais profundas.
Enquanto supervisionava a instalação das câmeras, bem escondidas, quase invisíveis, uma parte de mim sabia que isso também era para meu próprio conforto. Eu precisava garantir que Hanna estivesse sempre segura, mas também... que eu pudesse continuar a observá-la. Velar por ela de perto, protegê-la do mundo e, quem sabe, de si mesma.
Ouvi vozes atrás de mim. As enfermeiras que eu havia contratado para ajudar com os cuidados dermatológicos dela já haviam chegado. Elas estavam no corredor, discutindo os melhores cremes e pomadas para amenizar as coceiras e melhorar a aparência das cicatrizes de Hanna. Eu as escolhi a dedo, as melhores especialistas para tratar de sua pele. Sabia que não seria uma cura completa, mas era o mínimo que eu poderia fazer.
Meu coração apertava cada vez que eu pensava no que ela passou por causa de Angélica, do que ela tinha perdido, do futuro brilhante que foi manchado pelo ódio e pela crueldade. Ela havia sacrificado tanto, e por tanto tempo, que isso não podia continuar. Eu faria de tudo para garantir que o mundo dela, agora, fosse diferente. Seguro. Controlado.
Foi então que ouvi a voz de Hanna, ainda sonolenta, mas claramente alarmada.
-Dante! — Ela apareceu na porta do quarto, os olhos arregalados de surpresa. — Quem são essas pessoas?!
Me virei e caminhei até ela, com um sorriso calmo no rosto, tentando suavizar o choque que ela sentia.
-Pelo jeito, as enfermeiras te acordaram — brinquei, embora sua expressão continuasse preocupada. — Não se preocupe, estou cuidando de tudo.
Ela olhava para mim, depois para a movimentação na casa. Não parecia confortável com tudo aquilo, mas também não conseguia encontrar as palavras para protestar. Eu sabia que Hanna não estava acostumada a aceitar ajuda, muito menos a ter pessoas em sua casa, fazendo coisas para ela. Isso era novo, talvez até invasivo. Mas não havia outra maneira.
-Dante... você não precisava fazer isso — ela começou, hesitante, olhando em volta para os trabalhadores e as enfermeiras. — Eu posso... eu consigo...
-Eu sei que consegue — a interrompi com gentileza. — Mas você não precisa fazer isso sozinha. Não mais. Eu só quero que você tenha o que merece, Hanna. Só quero garantir que você nunca mais passe por dificuldades.
Ela me olhou com olhos que misturavam confusão e talvez um pouco de alívio, mas ainda havia algo dentro dela que resistia. Sabia que não seria fácil para ela aceitar tudo isso, mas eu estava disposto a persistir.
Os entregadores começaram a sair, a casa finalmente começava a tomar forma. Com a instalação do fogão e a nova geladeira em funcionamento, a cozinha estava quase completa.
-O que você está fazendo, Dante? — ela perguntou, ainda tentando processar o que estava acontecendo.—
-Estou cuidando de você, Hanna. — Respondi firme, mas com suavidade. — E vou continuar fazendo isso.
Ela suspirou, sua resistência começando a se desfazer aos poucos.
-Ah... Jogarei sua cama fora, é muito dura para mim, a cabou com a minha coluna jovial —Brinquei segurando sua cintura e dando um beijo em sua testa.— O café tá pronto, tudo quentinho e feito na hora. Você tem um fogão agora, não precisa usar sempre o microondas.
-Eu não gosto das chamas... Dante... Eu não gosto —Disse ela preocupada.—
-Eu sei, meu amor. Por isso pedi para instalarem um elétrico, não tem chamas. Pode cozinha sem medo. E sobre o vapor em sua pele sensível, fiz questão de escolher os melhores dermatologistas na hora só para indicar-me pomadas para calor. São trinta e duas variedades, teste todas, a que você mais gostar me diga, comprarei caixas e mais caixas delas para você. —Digo beijando seu pescoço.—
-Dante... São muito caras... Meu deus tudo isso é caro, você praticamente reformou meu apartamento em umas duas horas.
-Dinheiro nunca é problema, não se preocupe com isso... Eu só peço que você viva. —Apertei sua cintura ao lembrar de seus antidepressivos.—
-Dante... —Seus olhos estavam marejados, Hanna sorriu. Seu sorriso era encantador como sempre, adorável.—
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