13

-Eu sei... Eu sei que ainda dói...-Confesso.-

Hanna tremia em meus braços, o corpo frágil e vulnerável, consumido pelo medo do pesadelo que acabara de vivenciar. Seu choro era silencioso, abafado contra meu peito, e eu podia sentir seu coração acelerado enquanto tentava se acalmar. A cada soluço, ela se aconchegava mais, buscando o conforto que, finalmente, eu podia dar. Meu braço envolvia seus ombros, mantendo-a próxima, protegida.

O ferimento na perna a enfraquecia ainda mais. O corte profundo que ela havia sofrido ao tentar escapar de algo nas rochas da ilha tornava difícil para ela se mover. Tínhamos ficado ilhados há dias, sem sinal de resgate, apenas o som incessante das ondas quebrando contra a costa. Eu sabia que a chance de sermos encontrados logo era mínima, mas isso não importava agora. Tudo que eu queria era que Hanna estivesse segura. Aqui, comigo.

Ela não tinha para onde correr. Não agora.

Passei a mão devagar por seus cabelos, fazendo carinho, e senti quando ela relaxou sob meu toque. Era como se, pela primeira vez, estivesse se permitindo desmoronar - se permitindo confiar em alguém, em mim. Eu era tudo o que ela tinha naquele momento. E ela era tudo para mim.

- Está tudo bem - sussurrei, a voz baixa e controlada. - Eu estou aqui. Não vou deixar nada acontecer com você.

Hanna apertou mais o rosto contra meu peito, e por um instante, senti uma satisfação escura crescer dentro de mim. Tantos anos à espreita, observando, desejando. E agora, ela estava aqui, nos meus braços, frágil e dependente. Ela finalmente me via como eu sempre quis: como alguém em quem ela podia confiar.

Acariciei seus cabelos com mais suavidade, sentindo os fios macios entre meus dedos, enquanto ela aproveitava o toque. Ela precisava de mim agora, de uma maneira que nunca precisou antes. E isso era tudo o que eu sempre quis.

- Vai ficar tudo bem, Hanna - murmurei. - Eu vou cuidar de você. Sempre.

-Senhor... -Murmurou ela levantando para me olhar.- de...mim?

-Hm... -Afirmei.-

Vê-la me olhando daquele jeito... não consegui resistir....

Levei minha mão direita até sua bochecha, então carinhosamente fiz uma pequena carícia em sua bochecha com o polegar, me aproximei mais, e então a beijei.

Ela tentou se afastar, mas a segurei firme encerrando o beijo.

-Senhor Devor...

Hanna me olhava surpresa.

Minhas mãos ansiavam em querer explorar todo seu corpo, mas agora, nessa situação, não era uma boa ideia. Queria vê-la bem, saudável. Hanna precisaria estar forte o suficiente para aguentar tudo o que planejei para nós em quatro paredes...

HANNA STARK

Como ele pode me beijar... depois de ver minhas cicatrizes?

As palavras ecoavam na minha mente enquanto eu o encarava, surpresa, sem entender o que acabara de acontecer. O calor dos lábios dele ainda estava presente nos meus, e a sensação era avassaladora, confusa. Minhas cicatrizes de queimaduras... sempre imaginei que elas fossem uma barreira entre mim e qualquer coisa parecida com intimidade. Elas eram feias, lisas, marcas de uma dor que nunca consegui apagar completamente.

E ainda assim... ele me beijou.

Meus olhos vagavam pelo seu rosto, procurando alguma pista, algum indício de nojo, de repulsa. Algo que confirmasse o que eu sempre soube: que ninguém poderia realmente me querer depois do que aconteceu. Mas não encontrei nada disso. Ele me olhava com uma intensidade que eu não conseguia decifrar, como se as cicatrizes não fossem nada além de mais uma parte de mim.

Ele não sente nojo?

O pensamento parecia absurdo, impossível. Como alguém poderia ver o que eu me tornei, essas marcas que eu carrego, e ainda assim me tocar dessa forma? Ele tinha acabado de me beijar, e agora me segurava no colo como se eu fosse algo precioso, algo que ele não queria perder. Eu não conseguia entender. Tudo dentro de mim gritava que isso não fazia sentido. Que ninguém poderia me amar ou me desejar assim.

E, no entanto, aqui estava eu, surpresa, ainda sentindo o gosto do beijo dele em meus lábios, enquanto tentava encontrar as palavras que não vinham.

Eu estava em seu colo, os braços dele me envolvendo com firmeza, mas sem pressão, como se temesse que eu pudesse me afastar a qualquer momento. E talvez eu devesse. A lógica dentro de mim me dizia para fugir, para me proteger. Tudo isso parecia errado. Como alguém poderia ignorar o que minhas cicatrizes representam? A dor, a feiura, a vulnerabilidade.

Eu o encarei de novo, buscando algo que justificasse o que ele fez. Uma explicação, um motivo que fizesse tudo se encaixar. Mas ele apenas me olhava de volta, os olhos profundos e cheios de uma certeza que eu não conseguia entender.

-Por quê...? — Minha voz saiu em um sussurro trêmulo, sem conseguir completar a frase. Eu queria perguntar como ele podia me tocar, me beijar, depois de ver o que sou. Depois de ver o que essas cicatrizes fizeram comigo, tanto por fora quanto por dentro. Mas as palavras ficaram presas na garganta.—

Ele suspirou, seus dedos roçando de leve o meu rosto, e pude sentir o calor de sua mão percorrendo a minha pele marcada. Ele não parecia hesitar. Não parecia sentir nojo.

— Hanna... — Ele falou suavemente, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando. — Eu não vejo suas cicatrizes da forma como você vê. Para mim, elas não mudam quem você é. Elas não te tornam menos... você.

Eu continuei o encarando, tentando processar aquelas palavras. Ele estava me dizendo que não via minhas cicatrizes como um obstáculo, que não sentia repulsa, mas... isso era impossível. Ninguém nunca me olhou assim antes. Ninguém jamais me tocou depois do que aconteceu sem desviar o olhar, sem deixar transparecer algum desconforto.

— Você... não sente nojo? — Perguntei finalmente, com a voz falhando.

Ele balançou a cabeça lentamente, os olhos presos nos meus, sem nenhuma sombra de dúvida.

— Não. Nunca. As cicatrizes não me afastam de você. Elas só me fazem querer cuidar de você ainda mais... Para falar a verdade... Elas me dão um tesão do caralho...

Aquelas palavras bateram fundo, abalando as barreiras que eu construí para me proteger. A incredulidade ainda estava lá, mas misturada com algo novo... uma faísca de esperança. Eu não sabia se podia acreditar nele. Eu não sabia se algum dia seria capaz de acreditar completamente que alguém pudesse me aceitar assim. Mas naquele momento, no colo dele, surpresa pelo que havia acabado de acontecer, eu senti pela primeira vez, em muito tempo, que talvez... talvez eu não fosse tão quebrada quanto pensava.

E com isso, antes que pudesse me controlar, relaxei em seus braços, deixando as dúvidas caírem, pelo menos por um momento.

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Comments

Roseli Rodrigues Bizerra

Roseli Rodrigues Bizerra

achei estranho isso sempre maltratou ela

2024-10-25

0

Rosangela Candial

Rosangela Candial

Ficou sem sentido,essa revelação desse amor desde jovens. Por que então esse escroto espancou ela?

2024-10-25

0

Iracema Rosa

Iracema Rosa

imagina se ele não amasse..misericórdia

2024-10-24

0

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