O som foi ensurdecedor, rasgando o silêncio da madrugada como um trovão inesperado. Acordei em um sobressalto, o coração disparado, sem entender o que estava acontecendo. Por um segundo, pensei que fosse outro pesadelo, mas então o barulho continuou, constante e alto, fazendo o chão tremer sob nós e a areia subir com força. O rotor do helicóptero girava acima de nossas cabeças, misturando-se ao vento que uivava lá fora.
Eu acordei de repente, meu rosto marcado pelo susto, com os olhos arregalados. Estávamos ambos confusos, tentando entender o que acontecia. Ainda meio sonolenta, me levantei devagar, segurando o braço de Dante para me equilibrar. O abrigo em que estávamos, improvisado com o que restava na ilha, parecia tremer com a proximidade da aeronave.
-Um helicóptero... —murmurei, ainda meio atordoada.—
Era a primeira vez em dias que qualquer coisa ou qualquer pessoa se aproximava de nós. Depois de tanto tempo isolados, era como se o mundo finalmente tivesse lembrado que estávamos ali.
Senhor Devor, que até então estava deitado em silêncio, saiu do abrigo com uma agilidade surpreendente. Ele se apressou, tropeçando na areia enquanto corria em direção à praia. Sabíamos que ele estava indo sinalizar que estávamos vivos, tentando de alguma forma chamar a atenção da tripulação.
-Aqui ! —Gritou ele.—
O helicóptero pairava baixo sobre nós, sua luz cortando o escuro da noite, e eu corri em direção ao Senhor Devor, que acenava freneticamente para o céu.
Eu me juntei a ele, levantando os braços, tentando aumentar as chances de sermos vistos. O barulho ensurdecedor do helicóptero parecia se intensificar, mas então, finalmente, a aeronave começou a descer mais lentamente, as hélices diminuindo a velocidade à medida que pousava na praia, levantando uma nuvem de areia ao redor.
O resgate havia chegado.
O helicóptero pousou com um estrondo, a areia rodopiando ao nosso redor, obscurecendo a visão por alguns segundos. O vento gerado pelas hélices era tão forte que parecia empurrar tudo para longe. Senhor Devor e eu continuamos acenando, e finalmente, vi as portas laterais se abrirem. Homens vestidos com trajes de resgate saltaram para fora, correndo em nossa direção com lanternas e equipamentos de primeiros socorros.
Eu ainda estava mancando por conta do ferimento na perna. Sinto que meu rosto estava pálido e marcado pelo cansaço, mas nos meus olhos havia algo novo: um brilho de esperança, ainda que tímido. Eu olhava para os homens do resgate como se tivesse dificuldade em acreditar que finalmente estavam ali.
Um dos socorristas veio diretamente até mim, colocando a mão gentilmente em meu ombro e começando a me examinar. Outro se aproximou do Senhor Devor, perguntando quantas pessoas estavam na ilha e se havia mais alguém precisando de ajuda urgente.
-Apenas nós dois —Respondeu ele, com a voz um pouco rouca de tanto gritar com o barulho das hélices.— Hanna está ferida, na perna, ajudem ela. —Ordenou ele se sentando.
-Ele está mais ferido, teve uma contusão, ajude ele primeiro.—Digo já sendo examinada.—
Ele acenou rapidamente e se aproximou de mim, enquanto outros dois homens começaram a preparar a maca para transportá-lo até o helicóptero. Quando olhei de volta para ele, seus olhos estavam fixos em mim, como se, de alguma forma, ele quisesse garantir que eu estivesse por perto. Eu caminhei até ele, ignorando a areia que ainda rodopiava ao nosso redor.
-Vai ficar tudo bem agora, Hanna — sussurrou ele, colocando a mão suavemente nos meus ombros enquanto os socorristas faziam o trabalho deles.—
Assenti, mas havia algo no seu olhar, algo que me fez perceber que, embora estivéssemos prestes a ser resgatados, uma parte de nós ainda estava presa àquela ilha. As cicatrizes emocionais, as memórias dos dias passados em isolamento, e tudo o que havia acontecido entre nós. Isso não desapareceria tão facilmente quanto as ondas que apagavam nossas pegadas na areia. Eu nunca me esquecerei disso...
Fomos cuidadosamente colocados na maca e levados para o helicóptero. E logo estávamos todos acomodados no interior da aeronave. As portas se fecharam com um estrondo, abafando o som ensurdecedor do mundo lá fora.
Enquanto o helicóptero começava a decolar, afastando-se da ilha que por tanto tempo nos manteve prisioneiros, eu olhei para Dante mais uma vez. Ele estava deitado, com olhos fechados, exausto, mas com uma expressão tranquila no rosto. O resgate finalmente nos tiraria dali. Mas, de alguma forma, eu sabia que aquilo era apenas o começo de algo muito mais profundo.
Eu só não sabia se estava preparada para o que viria depois.
↓↓↓
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Comments
Cristina Zanusso
estou adorando quero ler até o final. Parabéns
2024-10-24
0