HANNA STARK
A luz suave do hospital banhava o quarto, e o cheiro estéril de medicamentos e desinfetantes dominava o ambiente. O som dos monitores de batimentos cardíacos era ritmado, quase reconfortante em sua monotonia. Pisquei lentamente, meus olhos estavam se ajustando à claridade. Tudo parecia distante, como se eu estivesse presa entre o sono e a realidade. Eu ainda sentia a leve dormência da anestesia, mas uma dor surda começava a pulsar em sua perna.
Eu me mexi com cuidado, sentindo o peso do curativo que envolvia minha perna ferida. As memórias vieram em ondas: a infecção que havia piorado rapidamente, o risco de perder a perna... mas agora, a dor, embora intensa, era um lembrete de que ela ainda estava ali. A cirurgia foi um sucesso. Os médicos haviam feito o possível, e a minha perna estava salva, mas eu estava preocupada com Dante Devor.
[...]
As enfermeiras me explicaram tudo o que ocorreu.
Ao meu lado, Dante estava deitado em outra maca, também recuperando-se lentamente. Ele havia passado por exames após o resgate, e os médicos haviam constatado que ele tinha sofrido apenas uma leve contusão. Nada grave. Ele estava bem, apesar do cansaço visível no rosto. O olhar dele vagava pelo quarto, até se fixar em mim, que começava a despertar.
-Hanna... — Devor murmurou, a voz ainda rouca. — Como você está se sentindo?
-Eu estou bem... Descanse, nós estamos salvos, senhor. —Respondi ainda sonolenta.—
Ele me olhou, piscando algumas vezes enquanto assimilava minha resposta. Sua mente ainda estava nebulosa, mas a presença dele ao meu lado me confortava de certa forma. Depois de tudo o que havíamos passado, ele ainda estava ali, ao meu lado.
-Para você... é Dante... — Disse ele, a voz saindo fraca, quase um sussurro. — Gosto de como meu nome soa... De sua boca...—Disse ele fechando os olhos, ainda estava grogue da anestesia.—
Olhei para o teto, deixando as palavras dele ecoarem em minha mente. Havia uma mistura de confusão e interesse em seu peito, também uma dúvida: porque ele está agindo assim?
Eu nunca imaginei que minha vida chegaria a esse ponto. Dias isolada, ferida, com a constante sombra do perigo pairando sobre mim. E agora, aqui estou eu, segura, mas ainda marcada pelas cicatrizes, tanto as novas quanto as antigas.
Soltei um suspiro, tentando relaxar no colchão macio da cama hospitalar. Minha mente estava cansada, assim como seu corpo, mas uma parte de mim sabia que aquilo era o começo de uma longa jornada de recuperação. Tanto física quanto emocional.
— Obrigada, Devor... por tudo — Murmurei o vendo dormir. — Não sei como teria sobrevivido sem você...
[...]
Assim que deixei o hospital, a realidade de estar finalmente livre, fora daquele ambiente branco e estéril, me atingiu com força. Mas, apesar de tudo o que havia acontecido, meus pensamentos estavam concentrados em uma única coisa: Loki, meu filhote. Eu sentia uma saudade esmagadora, um vazio no peito que só ele poderia preencher. Durante todo o tempo na ilha e no hospital, o que me manteve sã foi a imagem dele, suas orelhas caídas, os olhos brilhantes e aquele rabo que balançava freneticamente sempre que me via.
No carro, enquanto me levavam de volta para casa, as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto sem que eu conseguisse controlar. Era uma mistura de alívio e ansiedade, como se todos os dias de medo e dor agora estivessem convergindo para esse momento. Eu ia rever meu Loki. Ele era minha âncora, a única coisa que me conectava à ideia de normalidade. Abracei o travesseiro no banco de trás com força, tentando conter a enxurrada de sentimentos, mas não adiantou. Eu chorei o caminho inteiro, as lágrimas caindo silenciosamente enquanto a paisagem passava pela janela.
Quando finalmente chegamos ao meu bairro, o coração acelerou ainda mais. Minha vizinha, dona Nina, havia ficado com Loki enquanto eu estava no hospital. Ela foi uma boa amiga, sempre cuidando dele com carinho, mas eu precisava abraçá-lo. Precisava senti-lo em meus braços novamente, como uma forma de provar a mim mesma que tudo aquilo tinha acabado, que eu estava realmente em casa.
Desci do carro quase correndo, ignorando a leve dor na perna que ainda latejava após a cirurgia. Cheguei à porta de dona Nina, mal conseguindo respirar de tanta expectativa. Antes mesmo que eu pudesse bater, a porta se abriu, e lá estava ele: Loki, com o mesmo olhar esperançoso, as orelhas levantadas e o rabo balançando freneticamente, como se soubesse que aquele era o momento em que eu finalmente voltava para ele.
-Loki! —Eu gritei, a voz embargada de emoção, enquanto me abaixava para pegá-lo.—
Ele correu na minha direção, e eu o puxei para os braços, sentindo seu corpo quente e macio contra o meu peito. As lágrimas voltaram com força total, enquanto eu o abraçava, afundando o rosto em seu pêlo. O cheiro familiar, o jeito como ele se aninhava em mim, como se também tivesse sentido minha falta, tudo isso me trouxe uma paz que eu não sentia há muito tempo. Loki lambia meu rosto sem parar, como se quisesse me confortar e dizer que, sim, tudo estava bem agora.
Dona Nina sorriu ao ver a cena, claramente emocionada também. Ela sabia o quanto aquele cachorro significava para mim, o quanto eu precisava dele.
-Ele sentiu sua falta, Hanna. Não parava de esperar na porta, como se soubesse que você ia voltar. —Disse ela, com uma voz suave, observando-nos com carinho.—
Eu mal conseguia responder, as lágrimas misturadas com os beijos desajeitados de Loki. Sentei-me no chão da varanda, sem me importar com nada, apenas o abraçando com toda a força que tinha. Era como se, naquele momento, tudo o que eu tinha segurado nos últimos dias finalmente pudesse ser liberado. O medo, a dor, a solidão... tudo desaparecia com ele nos meus braços.
-Eu senti tanto a sua falta, Loki... —Sussurrei, beijando o topo de sua cabeça, enquanto ele continuava a me lamber, seu rabo ainda abanando sem parar.—
A sensação de tê-lo novamente comigo era indescritível. Era como se, finalmente, eu estivesse de volta ao lugar ao qual pertencia. Com Loki em meus braços, eu sabia que poderia enfrentar qualquer coisa, que, de alguma forma, o pior havia passado. Ele era meu lar, meu conforto, e eu finalmente estava onde deveria estar.
Naquele momento, nada mais importava.
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