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DANTE DEVOR

Alguns anos atrás...

Hanna...

O nome dela ecoava na minha mente desde o primeiro dia de aula. Baixa, com um sorriso que iluminava o ambiente ao seu redor, e um jeito descuidado que só aumentava o meu fascínio. Eu a via todos os dias, mas nunca trocamos uma palavra. Na verdade, nunca quis que isso acontecesse de verdade. Esbarrar nela propositalmente no corredor já era o suficiente. Sentir o toque rápido, ouvir sua voz baixa murmurando desculpas antes de seguir em frente, completamente alheia à minha existência.

Eu seguia Hanna para casa quase todos os dias. Ela morava a alguns quarteirões da escola, e o caminho era fácil. Seus passos eram leves, despreocupados. Sempre achei curioso o quanto ela confiava no mundo ao seu redor. Sua confiança era meu passe livre. À noite, quando a escuridão caía, eu me aproximava de sua casa e, para minha sorte — ou destino, talvez —, ela sempre deixava a janela de seu quarto aberta. A cortina balançava com a brisa, e de onde eu me escondia, conseguia ver Hanna adormecer. O som de sua respiração lenta me acalmava, como se eu estivesse conectado a ela de uma forma que ninguém mais estava. Ela era minha, mesmo que ela nunca soubesse.

Tudo corria bem até que, meses atrás, fui obrigado a viajar. Um funeral de uma tia distante. Oito dias de pura agonia, longe de Hanna. Sem vê-la. Sem seguir seus passos, sem espiar por sua janela. O vazio que sentia era esmagador, e cada segundo longe dela era uma tortura. Quando finalmente voltei, cheio de antecipação, algo estava errado. Hanna não estava em lugar nenhum. Eu andei pela escola, procurei por ela nos lugares de sempre, mas nada. Apenas cochichos pelos corredores. Diziam que ela havia se acidentado. Ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido, e os detalhes eram sempre vagos.

Eu odiava a sensação de não saber. O que tinha acontecido com ela? Onde estava minha Hanna?

Quando ela finalmente voltou à escola, algo estava diferente. Roupas largas, moletons e calças que escondiam seu corpo. Seu sorriso brilhante havia desaparecido, substituído por uma expressão apagada. Ela estava mais quieta, quase invisível. Não era mais a garota que eu conhecia. Algo tinha mudado nela, e eu não sabia o que era. Mas sentia que algo — ou alguém — tinha feito isso com ela.

Então, alguns dias depois, a vi com Oliver. No almoxarifado da escola, em um canto escuro. Ele a tocava, sussurrava algo em seu ouvido, e ela parecia distante, porém gostava dos toques dele, mas quase ausente. Oliver, o maldito Oliver. Filho de pais ricos, arrogante, sempre agindo como se o mundo fosse dele.

Irônico, talvez, considerando que também venho de uma família rica. Mas meu ódio por ele era algo que queimava de forma incontrolável. Ele não merecia Hanna. Ninguém merecia. Ela era minha. E eu não ia deixar que ele a tirasse de mim.

Eu a observei de longe, esperando. Sabia que em breve, muito em breve, faria algo a respeito.

Alguns meses atrás...

Oliver se foi. Ele finalmente saiu de cena, deixando Hanna sozinha na cidade. Aquele verme arrogante se mudou para fazer faculdade, e eu achei que tudo ficaria mais fácil sem ele por perto. Eu pensei que agora, sem ele atrapalhando, eu poderia finalmente voltar a focar em Hanna. Mas logo percebi que as coisas não seriam tão simples.

Certa noite, escondido, como tantas outras vezes, ouvi uma conversa entre Hanna e seus pais. As palavras me atingiram como um golpe: a situação financeira deles estava piorando. Eles falavam sobre contas atrasadas, dificuldades para manter a casa. Hanna... ela estava comendo apenas duas vezes ao dia. A imagem dela, tão radiante no passado, agora parecia cada vez mais frágil. E, por mais que eu quisesse ajudar, ela não me conhecia. Nós nunca havíamos trocado mais do que olhares fugazes no corredor da escola, e qualquer gesto de ajuda da minha parte seria estranho, invasivo.

Eu pensei em doações anônimas, mas não sabia por onde começar. Então, comecei a deixar dinheiro em seu caminho para casa, algumas notas espalhadas na calçada. Queria que ela encontrasse, que fizesse diferença. Mas não era suficiente. Nunca era.

Foi então que, naquela noite, escutei o que mais temia. Hanna teria que se mudar para Endiburgo. A conversa se perdeu em detalhes quando saí antes de ouvir o resto, já em pânico, minha mente correndo a mil. Eu não podia perder Hanna. Não podia deixá-la sumir da minha vida assim, sem mais nem menos. Então, decidi. Eu faria o que fosse necessário para estar onde ela estivesse.

Quando meus pais finalmente se aposentaram e a empresa passou para as minhas mãos, fiz o impensável. Mudei todas as operações para Endiburgo. Era um movimento arriscado, mas necessário. Eu precisava estar lá, comandar de perto, para garantir que não perderia Hanna de vista. Vendi parte das ações, reformulei a estrutura da companhia, e logo estava com o prédio principal na cidade onde sabia que ela estaria.

Passei dias, semanas, meses procurando por ela. Nada. Nenhum sinal. Estava prestes a perder as esperanças quando, um dia, vi algo que fez meu coração disparar: o currículo de Hanna, entre outros tantos que chegavam ao meu escritório. Não importava que houvesse candidatos mais qualificados. Isso não importava para mim. Dispensei todos. Inclusive minha secretária pessoal, com quem tinha anos de convivência. Não havia espaço para distrações. Eu queria Hanna.

Era a oportunidade perfeita para tê-la perto. Eu sabia que não poderia ser o mesmo garoto do colégio, aquele que a seguia nas sombras. Eu precisava ser alguém novo, alguém que ela pudesse confiar.

Mas, enquanto orquestrava essa aproximação, as coisas tomaram um rumo inesperado. Angélica, filha dos donos de uma empresa rival, se tornou uma peça no meu jogo. Um noivado por conveniência. Eu precisava disso para derrubar os pais dela e consolidar meu império. Mas com Hanna de volta à minha vida, todos os meus planos começaram a se desviar.

Ela mudava tudo. Eu estava prestes a me casar com alguém que não amava, por um objetivo que antes parecia vital, mas agora, com Hanna por perto, meu foco se dissolvia. Eu precisava rever meus próximos passos. Afinal, minha verdadeira prioridade sempre foi, e sempre seria, Hanna. Ela nunca poderia saber o quanto eu estive à espreita. Nunca.

Agora na ilha...

Hanna estava fraca, e o medo de a perder era imenso... E eu estava apavorado e fodido, me sentia um merda por ter nos colocado nessa situação. Agora entendo o porquê dela ter mudado seu visual, era as queimaduras, e eu não faço ideia de como isso aconteceu... Mas isso não a faz menos bonita ou atraente, Hanna continua a mesma gostosa de antes, meus olhos sempre brilham ao vê-la.

Embora eu tenha a machucado, tudo faria parte do meu plano, e sei que fui um merda por isso... Mas tudo por algo maior, eu não amo Angélica, mas sempre estou afirmando isso em minha cabeça, para não perder o foco.

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Comments

Lullu Melo

Lullu Melo

nossa, mas se gosta tanto dela, pq a agrediu daquela forma?! 🤔

2024-10-31

0

Wessia Belarmino

Wessia Belarmino

eita!!que amor é esse?

2024-10-24

0

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