DANTE DEVOR
Assim que entrei pela porta, encontrei Angélica no sofá, elegantemente vestida como sempre, com aquele ar de perfeição que ela fazia questão de manter. Ela se virou com um sorriso no rosto, o tipo de sorriso ensaiado que eu já havia aprendido a identificar. Não havia surpresa em vê-la ali. Angélica não tinha aparecido no hospital nem uma única vez, e eu sabia que ela não se incomodava de verdade com o meu estado. Para ela, eu era apenas um recurso, uma maneira de manter seu status e sua vida de luxo. E eu sabia disso. Na verdade, sempre soube.
Ela se levantou, caminhando até mim com aquele jeito gracioso que tantas vezes havia enganado os outros, mas nunca a mim.
-Estava preocupada com você, amor. — disse ela, envolta naquela voz doce, treinada para soar afetuosa.—
Preocupada? Não havia um traço de verdade naquela afirmação. Angélica era como um espelho que refletia o que os outros queriam ver. E eu jogava o mesmo jogo. Nós éramos perfeitos nisso. Fingi acreditar, coloquei um sorriso no rosto e me aproximei para abraçá-la. Nossos corpos se tocaram como duas peças de um quebra-cabeça perfeitamente encaixadas, mas era tudo vazio. Sem alma.
-Eu estou bem agora, deve ter ficado muito atarefada no trabalho, não é mesmo?— Respondi, segurando seu rosto entre minhas mãos e a beijando. O beijo era mecânico, parte de uma coreografia ensaiada, sem emoção, mas convincente. Como todo o resto da nossa relação.
Eu não a amava, nunca amei. Mas isso não importava. A função dela era me ajudar a consolidar o poder que eu almejava. O casamento com Angélica era uma aliança estratégica. Seu nome e sua família eram uma porta de entrada para a expansão que eu planejava, e ela não sabia disso, mesmo que fingisse que tudo era sobre "amor". O que ela realmente não sabia, e o que eu gostaria de manter assim, eu estava ciente de seu interesse material. Ela achava que escondia bem, que eu era mais um homem cego pelo charme e pela beleza dela, mas eu enxergava tudo com clareza.
-Pensei em fazermos algo mais leve hoje, já que você está se recuperando —Disse ela, puxando-me para o sofá.— Podemos assistir a algum filme e comer umas besteiras, o que acha?
Ela falava como se estivesse realmente preocupada com meu bem-estar, como se eu fosse a prioridade dela. Eu sabia que ela queria apenas manter as aparências, como sempre fez. Fingia ser a noiva carinhosa e atenciosa, enquanto na verdade só estava comigo pelo que eu podia proporcionar. Dormimos em quartos separados, ela quer manter sua virgindade para o casamento. Angélica tem muitos amigos homens e sei que ela é mais rodada que pneu de ônibus público, no entanto, eu não me importava, não quero foder com ela... Esse não é o meu objetivo. Eu também estava com ela, pelo que ela podia me oferecer: acesso ao poder da família dela, uma ferramenta essencial para os meus planos.
Assenti, fingindo que aquela ideia me agradava, e nos acomodamos no sofá. Ela trouxe pipoca, chocolates e refrigerante, como um casal comum. Rimos de algumas piadas nos filmes, trocamos olhares que, para qualquer pessoa de fora, pareceriam cheios de cumplicidade. Mas no fundo, estávamos apenas representando nossos papéis. Ela, a noiva devota, e eu, o noivo apaixonado.
Enquanto assistíamos à TV, com Angélica aconchegada ao meu lado, sua cabeça no meu peito, eu pensava em como essa vida de mentiras havia se tornado a norma para nós dois. Ela achava que tinha me enganado, que eu não percebia sua verdadeira natureza interesseira. Mas, na verdade, era eu quem mantinha o controle. Sabia de tudo. Sabia que, no fundo, ela não se importava comigo, assim como eu não me importava com ela. Mas enquanto nossos objetivos se alinhavam, fingíamos. Fingíamos muito bem.
O dia passou assim, em uma falsa sensação de normalidade. A cada risada, a cada beijo que trocávamos, eu sentia o quão distante estávamos daquilo que os outros chamariam de amor verdadeiro. Mas isso não me incomodava. No final das contas, o amor era apenas uma distração para aqueles que não tinham metas maiores.
Eu e Angélica éramos diferentes. Estávamos unidos pelo interesse mútuo, ainda que escondêssemos isso atrás de máscaras de afeto. E enquanto ela continuava a acreditar que sua farsa me iludia, eu a mantinha por perto, porque, no fundo, sabia que poder e controle eram as únicas coisas que importavam. O resto era apenas uma encenação.
Queria saber como Hanna estava... Queria poder observar de longe seus passos, banho, refeições e até mesmo quando ela está indo dormir.
Estou preocupado.
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Comments
Bega Maria
nunca vi uma pessoa amar alguém desse jeito sai fora
2024-10-26
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