...09/08/2009 Domingo; Meio-dia...
Dois dias haviam se passado desde a última operação da lua cheia.
A cidade seguia sua rotina, alheia ao fato de que, durante a vigésima quinta hora do dia, um grupo de estudantes do Colégio Gekkoukan lutava secretamente contra as shadows.
Mitsuru caminhava no meio da multidão do centro da cidade, carregando sua bolsa sob o braço.
Ela vestia uma camisa branca de gola alta sem mangas e uma calça preta, seus longos cabelos ruivos estavam presos em um rabo de cavalo, devido ao calor sufocante daquele verão.
Enquanto andava, seus olhos percorriam os resultados dos exames de ferimentos que Yukari e Minato sofreram durante a última operação.
Ela folheou as páginas até chegar na ficha de Yukari.
O médico havia determinado que, devido à exaustão extrema, Yukari deveria passar uma semana em repouso, sem se esforçar fisicamente.
"Eu devia ter agido melhor para proteger todos. Sem contar que ele quase morreu..." pensou Mitsuru, suspirando com preocupação.
De repente, a imagem do corpo de Hiro, caído no chão após ser atacado pela shadow arcana, surgiu em sua mente como um relâmpago.
Ela sacudiu a cabeça, afastando a lembrança. Fechou o documento com um movimento rápido e o guardou na bolsa.
"Calma, todos estão bem. Agora não é hora de se culpar." ela se disse, tentando manter a compostura enquanto continuava a caminhar.
Chegando à faixa de pedestres, Mitsuru parou, observando os carros que passavam apressados enquanto aguardava o sinal fechar.
Seus pensamentos ainda vagavam pelas memórias recentes, quando um carro preto e luxuoso, com vidros fumê escurecidos, parou ao seu lado.
No centro de cada roda, o brasão da letra "K" se destacava em vermelho, uma marca inconfundível.
A porta do motorista se abriu, e um homem alto de terno preto e óculos escuros saiu do carro.
Ele fez uma breve reverência para Mitsuru, a mão sobre o peito em sinal de respeito.
Ela o reconheceu imediatamente. Era Giyu, um dos guarda-costas de seu pai.
"Mitsuru-sama, é um total prazer vê-la novamente." disse ele, com a formalidade de sempre.
Mitsuru virou-se para ele, mantendo seu tom sério. "Giyu-kun, o que está fazendo aqui?"
Giyu endireitou-se, indicando o carro com um gesto elegante. "Não há com o que se preocupar, Mitsuru-sama. No entanto, Kirijo-san deseja vê-la."
O coração de Mitsuru deu um salto, misturando alegria e apreensão.
Seu pai raramente a chamava para conversas pessoais, a menos que algo importante estivesse em jogo.
"Meu pai quer me ver..." murmurou ela, surpresa.
Giyu caminhou até a porta traseira do carro e a abriu, sempre impecável em sua postura e gestos. "Sim, ele deseja encontrá-la pessoalmente."
Mitsuru entrou no carro, sentindo o frescor do ar condicionado contrastar com o calor lá fora.
Ao seu lado, Takeharu Kirijo, seu pai, estava ao telefone.
Ele era um homem de meia-idade, com cabelos pretos e olhos cinzentos, usando um tapa-olho sobre o olho direito.
Seu terno cinza e gravata vermelha transmitiam a austeridade de alguém acostumado a carregar grandes responsabilidades.
O olhar frio que ele exibia poderia intimidar qualquer um, mas Mitsuru já estava acostumada com a presença imponente de seu pai.
Takeharu estava no telefone quando Mitsuru entrou no carro, seu olhar rígido como sempre.
Ao notar a presença da filha, ele terminou a conversa rapidamente e guardou o celular no bolso do terno.
No banco à sua frente, ele pegou uma pasta vermelha com o emblema de um laboratório, que chamava a atenção.
Mitsuru se sentou ao lado dele, tentando esconder sua inquietação. "Oi, pai. Não esperava vê-lo tão cedo." disse ela, mantendo um tom respeitoso, mas calmo.
O olhar de Takeharu se voltou para Mitsuru, sério como sempre, mas com uma ponta de preocupação velada.
"Recebi seu relatório." ele começou, folheando a pasta em suas mãos. "Parabéns por terem derrotado mais duas Shadows Arcana. Como você está?"
Mitsuru soltou um leve suspiro e desfez o rabo de cavalo que prendia seus cabelos, deixando-os cair suavemente sobre os ombros.
"Estou bem." respondeu ela, tentando parecer mais tranquila do que realmente estava. "Os ataques não me feriram muito. O novo traje absorveu a maior parte dos golpes."
Takeharu não demonstrou nenhuma emoção em sua expressão, mas por dentro, sentiu um enorme alívio ao ouvir isso.
"Ótimo." disse ele, mantendo o tom frio e voltando sua atenção para os documentos na pasta. "É bom ouvir isso."
Enquanto o carro se movia pelas ruas da cidade, Mitsuru olhava pela janela, observando os prédios passarem.
No entanto, sua mente estava longe, presa ao momento em que ela e Hiro quase se beijaram.
A proximidade física e emocional que compartilharam a preocupavam no sentido de proteger ele, assim como a constante preocupação com a segurança do grupo.
A culpa por quase perder um de seus membros ainda a corroía.
Ela apertou as mãos, tentando conter a ansiedade que se acumulava dentro dela.
Takeharu, sempre atento, notou o desconforto da filha.
"Algo está te incomodando, Mitsuru." ele disse, baixando a pasta e mantendo o olhar frio, mas com uma leve preocupação. "O que aconteceu?"
Mitsuru suspirou profundamente, aliviando um pouco da tensão acumulada.
Ela mexeu em seus cabelos, hesitante, antes de responder.
"É sobre o S.E.E.S... Eu posso ter sido a primeira a despertar um Persona, e fui escolhida para liderar o grupo, mas..." Ela hesitou, a voz baixa, "Estou começando a questionar se estou..."
Takeharu ouviu atentamente, seus olhos fixos em Mitsuru, enquanto ela lutava com suas inseguranças.
"Você está se perguntando se está fazendo o certo." disse ele, mais como uma afirmação do que uma pergunta.
Mitsuru assentiu, a frustração evidente em seu rosto. "Sim. Quase perdemos um dos nossos... E outra pessoa usou demais seu Persona, prejudicando seus pulmões. Eu não consigo parar de me culpar."
Ela massageou os olhos, um gesto raro de vulnerabilidade. "Principalmente o que quase morreu... eu podia ter parado ele antes dele avançar contra a Shadow Arcana da Justiça."
Tomado por um raro gesto de carinho, Takeharu estendeu a mão e afagou a cabeça de Mitsuru.
Ela ficou surpresa, sentindo-se repentinamente infantil diante do pai, mas o gesto a acalmou.
E pensou que ela realmente não tivesse feito nada de errado.
"Não se culpe, Mitsuru." disse Takeharu, retirando a mão e retomando seu tom sério, embora uma leve ternura fosse perceptível. "Lembre-se do que eu te disse: você não é culpada pelo que está acontecendo. Se há culpa, ela é minha... ou melhor, do nosso legado que colocou essa maldição em sua geração."
Mitsuru olhou para o pai, surpresa com suas palavras. "Pai..."
"Eu prometi a mim mesmo que destruiria o perigo que coloquei no seu caminho." continuou Takeharu, olhando pela janela enquanto os prédios passavam, sua voz firme.
"Não vou descansar até que aquela maldita torre esteja em ruínas, mesmo que isso custe minha vida."
Mitsuru se lembrou dessa promessa. Era esse o motivo pelo qual lutava como uma usuária de Persona.
Ela queria proteger seu pai, garantir que ele sobrevivesse para ver o futuro que ambos desejavam.
"O que você está fazendo como líder é o seu melhor, Mitsuru. Mas ninguém é perfeito, e errar é humano, mesmo que isso signifique arriscar vidas." concluiu Takeharu, olhando diretamente nos olhos da filha.
Ela desviou o olhar, compreendendo o peso da responsabilidade, mas também sentindo o alívio que as palavras de seu pai trouxeram. "Você tem razão... Eu fiz o que pude."
Takeharu notou que a filha estava se recuperando emocionalmente e suspirou, sentindo-se resignado, mas satisfeito por tê-la ajudado a se recompor.
Pegou o celular novamente, e apos ler uma mensagem ele o desliga antes de voltar sua atenção para a pasta em suas mãos.
"Eu te ensinei bem, Mitsuru. Você sabe que não pode carregar o peso do mundo nos ombros." disse ele, desta vez com um tom mais calmo.
Mitsuru assentiu, finalmente acalmando sua mente. "Eu sei. Desculpe por me preocupar com isso."
Takeharu dá um raro sorriso sutil. "Não precisa se desculpar. Você é a líder do S.E.E.S. Seu papel de cuidar dos membros é essencial."
Um leve sorriso apareceu nos lábios de Mitsuru, e ela se sentiu mais aliviada. "Você está certo. Aliás, que pasta é essa?"
O semblante de Takeharu voltou a ficar sério enquanto ele abria a pasta novamente. "O Ikutsuki mandou um dos membros do S.E.E.S para fazer um exame de sangue. Se não me engano, era o novo membro. Qual era o nome dele mesmo?"
"Se é o novo membro, então é o Hiro Mikoshi." disse Mitsuru, intrigada. "Mas o que tem ele?"
Takeharu pareceu surpreso ao ouvir o nome, especialmente o sobrenome. "Mikoshi..."
Notando a expressão confusa do pai, Mitsuru se preocupou. "Pai, tudo bem?"
Takeharu teve um flash de memória, lembrando de um homem segurando um bebê enquanto gritava com Eiichiro Takeba e ele próprio.
A lembrança o perturbou, mas ele a afastou rapidamente. "Sim, estou bem. Apenas tive um déjà vu."
Ele voltou sua atenção para a pasta, focando nos resultados. "Os exames do Hiro mostraram que o Persona dele tem um certo 'defeito', se é que podemos chamar assim."
Mitsuru ficou alarmada. "Defeito? Como assim?"
Takeharu entregou a pasta para Mitsuru. "Não é algo para se preocupar, desde que você tome as decisões necessárias. Mas foi detectado que o cartucho Teurgia tem uma chance de quarenta por cento de descontrolar o Persona dele."
Os olhos de Mitsuru se arregalaram ao ler as tabelas na pasta.
A diferença nos níveis de energia entre a invocação normal e a com Teurgia era assustadora, representando um risco considerável à vida de Hiro.
Ela apertou a pasta, sentindo uma onda de preocupação e uma leve irritação.
As imagens do frenesi de Hiro, quando ele espancou a Shadow Arcana do Carro de Guerra, vieram à mente, deixando ela ainda mais inquieta.
"Não... não vou deixar aquilo acontecer de novo." murmurou ela.
Ela entregou a pasta de volta ao pai, refletindo sobre o que fazer. Tirar o cartucho de Teurgia poderia proteger Hiro, mas também significaria uma perda significativa de poder para o grupo.
Após alguns minutos, o carro para na frente do dormitório Iwatodai. Para deixar a Mitsuru.
Takeharu olhou para Mitsuru, sua expressão fria, mas os olhos carregavam algo mais profundo, uma preocupação que raramente mostrava.
"Você sabe o que fazer." disse ele, sua voz firme. "Tome a decisão que achar melhor, Mitsuru. E lembre-se, as Shadows estão ficando mais fortes."
Mitsuru assentiu silenciosamente, sua mão pousando na maçaneta da porta do carro.
"Eu vou." respondeu ela, a determinação evidente em sua voz. "Sei o que tenho que fazer. E pai..."
Takeharu, que já havia tirado o celular do bolso do terno, olhou para a filha. "Sim?"
Mitsuru encontrou os olhos do pai e, com um sorriso suave aparecendo em seus lábios, disse: "Eu... amo você. Cuidado por aí."
Ela abriu a porta do carro e saiu, seus passos firmes enquanto se dirigia ao dormitório.
Takeharu, por um momento, ficou surpreso com as palavras da filha.
Uma faísca de preocupação acendeu em seu coração, uma emoção que ele havia suprimido durante tanto tempo.
Ele pressionou o botão para abaixar a janela do carro e chamou: "Mitsuru!"
Ela parou diante da porta do dormitório e se virou, surpresa ao ver o pai saindo do carro.
Ele caminhou rapidamente até ela, sua postura rígida dando lugar a uma suavidade inesperada.
Sem dizer mais nada, Takeharu a puxou suavemente para um abraço.
Mitsuru ficou surpresa, seus olhos se arregalaram brevemente antes de se entregarem ao calor do gesto.
Seu pai nunca havia sido do tipo que demonstrava afeto físico, e sentir esse abraço agora, após tantos anos, fez com que um calor há muito adormecido despertasse em seu peito.
"Mitsuru." a voz de Takeharu soava mais suave, carregando a preocupação de um pai que raramente deixava suas emoções transparecerem. "Tenha cuidado quando for para o Tartarus. Entendeu?"
Ela retribuiu o abraço, sentindo um raro conforto nas palavras dele. "Não se preocupe, vou tomar cuidado."
Takeharu se afastou, seu olhar sério mas suavizado pelo breve sorriso que conseguiu esboçar.
Ele voltou ao carro, fechando a porta atrás de si.
Mitsuru ficou ali, observando o carro se afastar, uma nova determinação crescendo em seu coração.
Ela olhou para o céu, vendo as nuvens se movendo lentamente, como se o tempo estivesse dando a ela um breve momento de paz.
"Eu vou destruir a Dark Hour." murmurou para si mesma, um sorriso confiante surgindo em seus lábios. "Não se preocupe, pai."
...09/08/2009 Domingo; Tarde...
O calor sufocante transformava o térreo do dormitório Iwatodai em um verdadeiro forno.
O ventilador lutava inutilmente contra o ar pesado, enquanto Junpei, Yukari, e Minato tentavam resistir ao calor, largados no sofá.
Minato, esvaziando sua terceira garrafa de refrigerante, suspirou. "Jesus... que calor é esse?"
Yukari, puxando a gola da camisa para aliviar o calor, soltou um gemido. "Parece que o Japão tá virando uma chapa. Como eu queria um sorvete agora..."
Ela lançou um olhar afiado para Junpei, uma faísca de irritação em seus olhos. "Talvez eu ainda teria um se alguém não tivesse comido."
Junpei, visivelmente envergonhado, tentou se justificar. "Eu já falei que não sabia que o sorvete era seu... era o meu sabor favorito, e eu não consegui resistir."
Yukari bufou e se encostou no sofá, irritada. "Minha nossa... da próxima vez, pergunta antes se tem dono."
De repente, um grito furioso ecoou do andar de cima, o som abafado da voz de Hiro reclamando. "Seu filho da puta! Decidiu quebrar agora?!"
Yukari se sobressaltou com o grito, preocupação evidente em seu rosto.
Minato, por outro lado, manteve a calma. "O ar-condicionado do Hiro quebrou ontem. Não é nada sério."
Nesse momento, Akihiko entrou no dormitório, ainda ofegante após sua corrida.
Ele usava shorts esportivos brancos e uma regata vermelha, o suor escorrendo pelo rosto e seus cabelos prateados estavam molhados por ele ter jogado um pouco de agua em si mesmo.
Ele dá goles grandes no restante da agua em sua garrafa. "Hoje foi uma bela corrida." disse ele, satisfeito. "Consegui bater três quilômetros em uma hora. Se não fosse esse calor sufocante, teria feito mais."
Yukari olhou para ele, incrédula. "Sanada-senpai... como você consegue correr nesse calor?"
Akihiko deu de ombros enquanto caminhava em direção à cozinha. "É questão de costume. Só não consigo correr quando tá nevando. Eu odeio o frio."
Pouco depois, Aigis apareceu, descendo as escadas e indo diretamente até Minato.
Ela abriu um compartimento em seu braço, revelando um esparadrapo. "Minato-san, posso ver o ferimento em seu tórax?"
Minato, um pouco surpreso, levantou a camisa, revelando o peitoral. Yukari corou e desviou o olhar.
Aigis examinou o arranhão, já cicatrizado, no peito de Minato, e guardou o esparadrapo.
"O ferimento está se recuperando bem. Fico feliz."
Yukari, ainda ruborizada, gaguejou. "Aig... Ai... Aigis! Você não pode simplesmente pedir para a pessoa tirar a roupa assim!"
Aigis piscou, confusa, pois por ela ser uma androide, ela não entende alguns sentimentos humanos. "Como assim Yukari-san? O jeito certo de tratar os ferimentos não é observar diretamente o machucado?"
Yukari assentiu, tentando explicar. "Sim, mas... o que eu quero dizer é..."
Nesse momento o Akihiko saiu da cozinha, carregando um pote de curry instantâneo.
Ele havia escutado a conversa e se sentou ao lado de Yukari. "O que a Yukari quer dizer, Aigis, é que tirar a roupa de alguém na frente de outras pessoas pode ser constrangedor."
Aigis ficou processando as palavras de Akihiko, tentando entender o conceito de privacidade e constrangimento, enquanto novas perguntas surgiam em sua mente.
...09/08/2009 Domingo; Por do sol...
O sol começava a se esconder no horizonte, tingindo o céu com tons laranja e rosa, enquanto a Yukari treinava sozinha no terraço do dormitório Iwatodai.
Ela estava concentrada, o arco firmemente em suas mãos, seus olhos fixos no alvo à sua frente.
Flechas já cravavam no centro do alvo, evidência de sua precisão, mas também de sua obstinação.
Ela puxou a corda do arco mais uma vez, mirou e soltou a flecha, que cortou o ar em uma linha reta e atingiu o centro do alvo com um estalo seco.
Yukari suspirou, mas a satisfação de mais um tiro certeiro logo deu lugar a uma dor aguda em seu peito.
Ela sentiu uma pontada que a fez vacilar, um lembrete cruel de que seu corpo ainda estava frágil.
Apesar disso, ela teimou, pegando outra flecha da aljava.
A dor intensificou-se, forçando ela a parar. Yukari começou a tossir sem parar, um gosto metálico preenchendo sua boca.
Suas mãos tremiam enquanto ela cobria a boca, percebendo o sangue que manchava seus dedos.
Enquanto isso, Mitsuru subia as escadas para o terraço, carregando seu florete.
Ela pretendia treinar um pouco, mas os sons abafados da tosse de Yukari a fizeram acelerar o passo.
Preocupação estampava seu rosto quando ela empurrou a porta do terraço e viu Yukari de joelhos, tossindo violentamente.
Mitsuru correu até ela, preocupada ela se ajoelha perto da Yukari. "Takeba, o médico disse que você não pode se esforçar. Por que você tá aqui treinando?"
Yukari olhou para a mão manchada de sangue e suspirou, derrotada. "Eu sei... Desculpa. Mas eu quero ficar mais forte pra acabar com a Dark Hour, para que meu pai possa descansar em paz."
Mitsuru colocou o florete no chão e segurou os ombros de Yukari com firmeza, mas com gentileza. "Eu entendo, mas morrer antes da hora não vai ajudar em nada. Vamos, deixa eu ajudar você a se sentar."
Com a ajuda de Mitsuru, Yukari se levantou e foi levada até o parapeito, onde se sentou com um suspiro aliviado, encostando no metal frio.
"Pode pegar minha garrafa?" pediu Yukari, ainda ofegante.
"Claro. Onde ela tá?" perguntou Mitsuru, já se levantando.
Yukari apontou para um banco próximo ao alvo, onde uma garrafa preta repousava ao lado do celular.
Mitsuru caminhou até lá, mas algo na expressão da Mitsuru chamou a atenção de Yukari.
"Kirijo-senpai, tá tudo bem? Você parece preocupada."
A pergunta pegou Mitsuru de surpresa. Por um breve momento, flashes de lembranças tomaram conta de sua mente; a imagem de Hiro caído no chão, Yukari quase sendo atingida pelo ataque da Shadow Arcana do Carro de Guerra.
Mitsuru pegou a garrafa, tentando esconder a inquietação que a assombrava.
"Sim... estou bem." respondeu Mitsuru, entregando a garrafa para Yukari. "Apenas preocupada com todos vocês."
"Como assim?" Yukari perguntou, curiosa.
Mitsuru se encostou no parapeito ao lado de Yukari. "Vocês todos estão se ferindo muito. E, para ser sincera, não consigo deixar de pensar nas vezes em que coloquei vocês em risco por não ter prestado atenção."
Yukari abriu a garrafa e bebeu a água, sentindo o alívio imediato, enquanto a dor em seu peito diminuía.
Ela ouviu atentamente as palavras de Mitsuru, percebendo o peso que ela carregava.
"Eu sei que não é culpa minha." continuou Mitsuru, o olhar perdido no horizonte. "Mas isso não impede que eu me preocupe. Cada um de vocês tem uma vida pela frente, uma história a construir. Eu não quero que nenhum de vocês perca essa chance, que morram antes de poderem viver uma vida normal."
O coração de Yukari apertou ao ouvir isso.
Ela sabia que Mitsuru fazia de tudo para proteger o grupo, agindo como uma líder que prioriza o bem-estar de cada membro.
E, no fundo, Mitsuru era como uma mãe para todos ali.
"Sabe..." Yukari disse, sorrindo suavemente, "você não precisa se preocupar tanto com isso."
"Hã?" Mitsuru respondeu, surpresa.
"Como você mesma disse, lutar contra as Shadows é um grande risco. Mas todos nós sabemos disso, e é exatamente por isso que continuamos." Yukari explicou, sua voz cheia de convicção.
Mitsuru sentiu um orgulho crescente ao ouvir aquelas palavras, embora seu rosto ainda mostrasse surpresa. Ela não esperava ouvir isso de Yukari.
"Antes de entrarmos no S.E.E.S, tanto você quanto o Presidente Shuji disseram que não éramos obrigados a participar. Se quiséssemos continuar nossas vidas normais, poderíamos." Yukari continuou, seu olhar agora voltado para o céu.
"Voce tem razão." Mitsuru respondeu, um sorriso começando a se formar em seus lábios.
A Yukari da uma uma risadinha e continua. "Nós escolhemos entrar porque queremos salvar a humanidade. Eu entrei porque meu pai, antes de morrer, me enviou uma carta pedindo para eu te procurar. Mas, além disso, quero destruir a Dark Hour para que meu pai possa finalmente descansar em paz, sabendo que o inferno que ele ajudou a criar foi destruído."
Mitsuru olhou para o céu, as palavras de Yukari ecoando em sua mente. "Sim, eu também preciso destruir a Dark Hour, para livrar minha família do fardo que ela impôs."
"Esse é o espírito." Yukari respondeu, agora sem a luva de arquearia, terminando de beber a água da garrafa.
A Yukari tem um breve flash de memória, lembrando de quando todos estavam em Yakushima, antes de Hiro entrar para o S.E.E.S, foi lá que ela e Minato tiveram sua primeira conversa sobre suas vidas antes de entrarem no grupo.
Foi também o único momento em que Minato se abriu, revelando a dor interna que carregava.
"Takeba?" Mitsuru chamou, notando a mente distante de Yukari.
Yukari balançou a cabeça, voltando à realidade, e deu uma risadinha enquanto coçava a cabeça. "Foi mal, acho que minha cabeça foi parar na lua."
Mitsuru sorriu, aliviada. "Ainda bem. Agora, vá descansar. Nem pense em treinar mais até semana que vem. Você precisa se recuperar."
"Tá bom, tá bom... eu vou." Yukari respondeu, assentindo. "E se quiser desabafar, pode vir falar comigo, ok?"
Mitsuru assentiu com a cabeça, observando Yukari pegar suas coisas e sair do terraço, deixando ela sozinha com seus pensamentos.
Sozinha, Mitsuru olhou para o céu mais uma vez. "Tenho que parar de me preocupar tanto com eles. Afinal, eles estão nessa luta por vontade própria."
...09/08/2009 Domingo; Noite...
As ruas estavam estranhamente calmas naquela noite.
O vento soprava pelos becos vazios, e as luzes dos postes iluminavam fracamente o asfalto, criando sombras dançantes nas paredes dos prédios.
A maioria das pessoas já estava em casa, desfrutando da segurança de seus lares, alheias ao que ocorria durante a Dark Hour.
Dentro do restaurante de ramen, Hiro e Shinjiro estavam terminando sua refeição.
O ambiente acolhedor contrastava com a inquietação que ambos sentiam, ainda que em silêncio.
Shinjiro segurava a tigela com as duas mãos, saboreando os últimos goles do caldo quente.
A cada gole, ele sentia um alívio que parecia percorrer todo o seu corpo.
"Ufa, tava precisando disso." suspirou Shinjiro, deixando a tigela sobre a mesa com um olhar de satisfação.
Hiro, que também acabou de terminar seu ramen, imitou o gesto de Shinjiro, suspirando em alívio. "Nem me fale... mesmo nesse calor, um ramen é refrescante demais."
Shinjiro puxou a manga do sobretudo e retirou do bolso interno um dos seus inibidores.
Com um movimento experiente, ele injetou a substância em seu pulso, sentindo o efeito imediato acalmar o Kastor, seu Persona, que constantemente quer acabar com o Shinjiro.
"Então, vocês conseguiram acabar com outra dessas Shadow Arcana. Mas vocês têm certeza de que matar todas vai destruir a Dark Hour?" perguntou Shinjiro, o tom de sua voz levemente cético, enquanto guardava a seringa de volta no sobretudo.
Hiro coçou a cabeça, relembrando as explicações que Shuji havia dado ao grupo. "Bom, foi o que o presidente Shuji disse. Com a morte de todas as doze Arcanas, o nascimento do décimo terceiro Arcano não vai acontecer e a Dark Hour vai sumir. Mas tenho certeza de que as próximas vão ser casca-grossa."
Shinjiro apenas grunhiu em resposta, ainda sentindo o leve desconforto do inibidor fazendo efeito em seu corpo.
Ele observava o movimento no restaurante, mas seus pensamentos estavam distantes.
Hiro pegou seu copo de água, bebendo um gole antes de continuar. "Faltam quatro Arcanas para a gente eliminar. Mas, Shinjiro..."
"Hmm?" respondeu Shinjiro, levantando o olhar.
Hiro hesitou por um momento, tentando encontrar as palavras certas.
Ele quer convencer Shinjiro a voltar ao S.E.E.S, e não era só para fortalecer o grupo, mas também porque, de alguma forma, ele sentia que poderia se aproximar mais de Shinjiro, compreender melhor a dor que ele carregava.
"Por que você não volta?" Hiro finalmente perguntou, a seriedade em sua voz era palpável.
Shinjiro suspirou irritado, desviando o olhar. "Até você? Já não basta o Akihiko ficar no meu pé..."
Hiro, percebendo a tensão, suavizou sua expressão, mas manteve um olhar firme. "Mas eu sei que você quer voltar. Da primeira vez que eu vim aqui com você, você me perguntou se deveria voltar."
As palavras de Hiro atingiram Shinjiro em cheio.
Ele se lembrou daquele momento, do conflito interno que enfrentava desde então.
Parte dele queria voltar, ajudar Akihiko e Mitsuru, mas a culpa pelo passado ainda pesava sobre ele
Hiro colocou uma mão reconfortante no ombro de Shinjiro. "Olha, cara, sei que é difícil. Mas... na última operação da lua cheia, a surra que a gente levou não tá no gibi. Eu quase morri, e a maioria do pessoal saiu se arrastando pra voltar pro dormitório."
Shinjiro olhou para o copo à sua frente, vendo seu reflexo distorcido no líquido.
Ele pensou nas palavras de Hiro, e um flash de memória o transportou para os primeiros dias do S.E.E.S, quando tudo começou com ele, Akihiko e Mitsuru.
E também o seu tempo está contando. Talvez esta fosse sua última chance de fazer a coisa certa.
"Vou voltar..." murmurou Shinjiro, sua voz quase inaudível.
Hiro não ouviu as palavras, mas notou a mudança na expressão de Shinjiro, que havia passado de um semblante duro para algo mais pensativo, talvez até vulnerável.
"Amanhã..." disse Shinjiro, agora decidido.
"Hã?" Hiro respondeu, surpreso.
"Vou voltar ao dormitório amanhã. Acho que tá na hora de parar de fugir." declarou Shinjiro, seus olhos encontrando os de Hiro com uma firmeza.
Hiro sorriu, satisfeito com a decisão de Shinjiro.
Um membro do S.E.E.S vai voltar, e ele sabia que tanto Akihiko quanto Mitsuru ficariam felizes ao ouvir essa notícia.
"Quer que eu avise a Mitsuru?" ofereceu Hiro.
Shinjiro balançou a cabeça, negando. "Não, deixe que eu mesmo falo com ela e com o Akihiko amanhã. E Hiro..."
Um sorriso sutil apareceu no rosto de Shinjiro, carregando uma mistura de gratidão e resignação.
Embora a culpa pelo incidente do passado ainda pesasse em sua consciência, ele finalmente percebeu que Akihiko e Mitsuru ainda precisavam dele.
"Obrigado. Às vezes, eu te vejo como um irmão mais novo, mesmo que a gente tenha a mesma idade."
As palavras de Shinjiro tocaram profundamente Hiro, que sentiu uma conexão surgir entre eles, uma irmandade nascida pela confiança mútua.
Pela primeira vez, Hiro sentiu que era importante para alguém, algo que ele nunca havia experimentado antes.
"De nada." respondeu Hiro, sorrindo de forma genuína.
Shinjiro levantou, colocando a mão na cabeça de Hiro em um gesto de afeto fraternal. "Tô devendo essa pra você. Pode contar comigo. Até mais."
Hiro observou Shinjiro sair do restaurante, o som da porta se fechando ecoando em seus ouvidos.
Ele pegou seu celular e abriu uma foto, uma imagem de uma mulher de cabelos pretos.
"Eu acho que tô no caminho certo, mãe." disse Hiro, sorrindo suavemente, uma mistura de tristeza e esperança em sua voz.
Ele desligou o celular, colocou uma nota de 10.000¥ sobre a mesa e se levantou, pronto para voltar ao dormitório.
Ele sai pro lado de fora do restaurante, e olha para a lua, sentindo a brisa fresca balançar seus cabelos pretos. "Parece que a minha maré de desgraça finalmente terminou."
...[Pensamentos]...
...Desde que o Kastor matou aquela mulher, eu queria fugir de mim mesmo. Eu matei ela, mesmo que sem querer. Fugi de mim mesmo, mas agora....
...Agora eu mesmo vou encarar as consequências das minhas ações. Chega de fugir!...
...Arcano do Hierofante; Shinjiro Aragaki...
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Atualizado até capítulo 33
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