Persona 3 Arauto do Diabo
...Persona 3...
...Arauto do Diabo...
...Atenção, essa novel é fiel e segue a risca alguns dos eventos do jogo persona 3, caso não queira receber spoiler sobre o jogo e quer conhecer a história totalmente do zero. Recomendo que não leia esta novel para não prejudicar sua experiência quando for jogar....
...O aviso foi dado! Boa leitura....
...17/06/2006 Sábado; período da manhã...
O vento soprava suavemente contra as janelas da sala de aula, anunciando mais um período de provas no Colégio Gekkoukan.
Os corredores estavam agitados, com os alunos indo e vindo, dirigindo-se para suas respectivas salas.
Dentro da sala, Mitsuru Kirijo estava sentada à sua mesa, concentrada nas respostas da tarefa de japonês, enquanto esperava a aula começar.
De repente, a porta se abriu, e a professora entrou, acompanhada por um aluno desconhecido.
Ele tinha cabelos pretos, olhos da mesma cor, e uma estatura atlética e robusta.
Ao caminhar com a professora até o quadro, seu olhar se fixou diretamente em Mitsuru, que notou a intensidade em seus olhos.
Os dois pararam em frente ao quadro enquanto os demais alunos se acomodavam, preparando-se para o início da aula.
Um murmúrio discreto percorreu a sala, especialmente entre as meninas.
"Quem é esse?" uma aluna sussurrou para a amiga ao lado. "Ele é até que bem bonitinho."
"Deve ser o novo aluno transferido," a outra respondeu, com uma ponta de receio na voz. "Mas aquele olhar... me dá medo. Não parece ser uma boa pessoa."
A professora, percebendo o burburinho, bateu palmas para chamar a atenção de todos.
O murmúrio cessou imediatamente, e ela começou a falar com autoridade.
"Chega de cochichos, todos vocês. Como podem ver, temos um novo aluno transferido.”
Ela pegou um pedaço de giz e escreveu no quadro: "Hiro Mikoshi". Após colocar o giz de volta na mesa, apontou para o rapaz ao seu lado.
"Este é Hiro Mikoshi." ela anunciou. "Ele será nosso novo colega de classe. Agora, Kirijo!"
Mitsuru colocou o lápis sobre a mesa, levantando-se com um olhar respeitoso em direção à professora.
"Sim, sensei." respondeu Mitsuru com firmeza.
A professora assentiu, reconhecendo a postura impecável de Mitsuru. Em seguida, voltou-se para Hiro com um tom um tanto autoritário.
"Escolha um lugar para Mikoshi se sentar. Já perdi as contas de quantas vezes tive que reorganizar os lugares de vocês."
Mitsuru olhou ao redor e, com um gesto elegante, apontou para a mesa vazia ao lado dela.
"Por favor, sente-se aqui," disse ela, com um tom educado, mas firme.
Hiro começou a caminhar em direção à mesa vazia indicada por Mitsuru. Enquanto ele avançava, Mitsuru sentiu um desconforto repentino.
Uma pressão sutil se formou em sua cabeça, e uma voz começou a chamá-la incessantemente, repetindo seu nome sem parar.
Ela levou a mão à testa, tentando identificar a origem daquela voz que parecia ecoar em sua mente.
“Mitsuru... Mitsuru…” A voz continuava, insistente.
Fechando os olhos, ela tentou focar, tentando reconhecer de quem era aquela voz, mas a sensação era opressiva, como se estivesse presa em um nevoeiro denso.
...23/07/2009 Quinta-Feira; Tarde...
Quando finalmente abriu os olhos novamente, piscando para ajustar sua visão à luz da sala, percebeu um rapaz à sua frente, com a mão pousada em seu ombro.
Ele tinha cabelos prateados, curtos e bem arrumados, e olhos cinzentos que refletiam um ar de preocupação.
É Akihiko Sanada.
Seu uniforme bem ajustado revelava uma postura firme e atlética.
"Mitsuru, Mitsuru, você tá bem?" A voz familiar do rapaz a trouxe de volta à realidade.
Ela piscou mais uma vez e se encontrou sentada em uma poltrona, se ajusta na almofada com um bocejo cansado.
Akihiko, agora visível em sua totalidade, era um dos seus companheiros de equipe e um amigo próximo, conhecido por sua seriedade e força de vontade.
"Akihiko... não se preocupe." Mitsuru respondeu, ainda com a voz um pouco enfraquecida pelo cansaço.
Seus cabelos longos e ruivos caíam levemente sobre os ombros, destacando-se contra a luz suave do ambiente.
Seus olhos, vermelhos como rubis, normalmente expressivos, pareciam mais pesados, revelando o esgotamento que sentia.
"Eu tô bem. Só estou exausta... depois de ontem. Aquelas Shadows apareceram do nada, e fui a única que trouxe um Evoker.”
Akihiko sorriu levemente, cruzando os braços enquanto observava Mitsuru se levantar e caminhar em direção à bolsa que estava sobre a cama.
Seus movimentos eram graciosos, refletindo sua elegância natural, mesmo em momentos de cansaço.
Enquanto ela organizava seus pertences, Akihiko pegou o celular do bolso e verificou a hora. Eram 16:50.
"Bom, acho que tá na hora de irmos." disse Akihiko, ainda com um tom descontraído, mas firme. "O pessoal já tá no barco esperando. Só falta você. Então, eu vim te chamar.”
Mitsuru pegou a bolsa e o celular que estava em cima da cama.
Ao conferir as mensagens, ela deu um último olhar para Akihiko, seus olhos refletindo a determinação de sempre, apesar do cansaço evidente.
"Tudo bem, vamos." respondeu ela, colocando o celular no bolso e ajustando a alça da mala em seu ombro. "As pequenas férias em Yakushima terminaram. Hora de voltar para casa.”
...23/07/2009 Quinta-Feira; Por-do-sol...
Mitsuru e Akihiko caminharam em direção ao porto da Ilha de Yakushima, prontos para voltar ao continente.
O sol começava a descer no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados.
À medida que se aproximavam do cais, notaram um rapaz encostado em algumas caixas, de cabelos azuis desgrenhados e olhos da mesma cor, que pareciam perder-se no céu.
Ele estava ouvindo música, alheio ao movimento ao seu redor.
Quando percebeu a presença de Mitsuru e Akihiko se aproximando, o rapaz retirou os fones de ouvido e os encarou com uma expressão calma.
Akihiko, mantendo sua postura relaxada, cruzou os braços.
"Minato, o resto do pessoal já está no barco?" perguntou Akihiko, direto ao ponto.
Minato Arisato, o jovem de cabelos azuis, pausou a música, em um tocador MP3 em formato de cilindro e uma pequena presilha que simula um colar em volta de seu pescoço, e ele se aproximou de Akihiko com as mãos nos bolsos.
Sua expressão serena contrastava com a notícia que estava prestes a compartilhar.
"Sim, a gente só tava esperando vocês dois." respondeu Minato, com a voz baixa e tranquila. "Ah, o presidente Shuji vai conosco dessa vez."
Mitsuru arqueou uma sobrancelha, surpresa ao ouvir isso. Não era o que ela esperava.
"O presidente Shuji?" ela perguntou, confusa. "Arisato, o presidente não tinha dito que só voltaria amanhã?"
Minato deu de ombros casualmente, enquanto começava a caminhar em direção à rampa de acesso do barco.
"Sabe, eu me perguntei a mesma coisa." ele admitiu, olhando por cima do ombro.
"Mas ele mencionou algo que chamou a atenção de todos. Parece que ele encontrou um novo usuário de Persona e vai nos dar os detalhes durante a viagem."
As palavras de Minato fizeram Mitsuru e Akihiko se entreolharem, surpresos.
A ideia de um novo usuário de Persona, e possivelmente um novo membro para o grupo, era ao mesmo tempo intrigante e preocupante.
Enquanto Akihiko observava Minato se juntar a Junpei e Fuuka, que estavam conversando perto da rampa, ele vira para Mitsuru, ainda ponderando sobre a notícia.
"Mas já?" Akihiko perguntou, claramente intrigado. "A Aigis entrou no grupo antes de ontem, e agora já temos um rumor de outro usuário."
Mitsuru balançou a cabeça, refletindo sobre a situação. Seus olhos normalmente compostos revelavam uma ponta de preocupação.
"Eu também acho estranho." ela admitiu. "O número de usuários de Persona aumentou muito logo após o Arisato ter entrado. Por quê? Além disso, a síndrome da Apatia está começando a ter picos novamente."
Com esses pensamentos em mente, tanto Mitsuru quanto Akihiko começaram a subir a rampa de entrada do barco.
Mitsuru, ainda confusa e refletindo sobre os recentes acontecimentos, falou em um tom pensativo.
"Às vezes me pergunto se estamos no caminho certo... até onde as Shadows e a Dark Hour irão nos perturbar?"
Akihiko colocou a mão no ombro de Mitsuru, seu toque firme e a expressão tranquilizadora no rosto transmitindo apoio.
Ele sorriu, tentando aliviar a tensão visível em Mitsuru.
"Claro que estamos no caminho certo." disse ele, com uma confiança que parecia contagiar o ambiente. "Afinal, conseguimos diminuir os picos da síndrome da Apatia nesses últimos meses, sem contar as pessoas que salvamos de dentro do Tartarus."
Mitsuru, com um leve sorriso nos lábios, assentiu. "Você tem razão. Vamos ver o que o presidente Shuji tem a dizer."
...23/07/2009 Quinta-Feira; Noite...
Enquanto o barco se afastava da ilha de Yakushima, as ondas batiam suavemente contra o casco, criando um som constante que preenchia o ar.
No convés de convívio, Yukari Takeba, Fuuka Yamagishi, Junpei Iori e Aigis estavam aguardando o restante do grupo.
Yukari, com seus cabelos castanhos claros presos em um rabo de cavalo e olhos expressivos, estava encostada na grade, observando o mar, enquanto Fuuka, uma garota de cabelos verdes curtos e olhos cinzas meio acastanhados, que realçavam seus traços delicados, parecia perdida em pensamentos.
Junpei, com seu boné inseparável e expressão descontraída, estava sentado ao lado, jogando conversa fora.
Aigis, com sua figura androide perfeitamente moldada, estava parada ao centro, monitorando a situação com seus olhos azuis e expressão serena.
A porta do convés se abriu, e Minato entrou, seguido por Akihiko.
Junpei levantou o olhar para Minato, a confusão evidente em seu rosto.
"Já era hora." comentou Junpei, franzindo a testa. "A Mitsuru tá bem?"
"Sim, ela tá." respondeu Akihiko, com uma tranquilidade reconfortante. "Ela só estava no quarto dela cochilando. Nada demais."
Fuuka, sempre atenta e preocupada com os outros, comentou com um tom suave: "A Kirijo-senpai não parou um pouco nessas nossas férias. Um momento ela estava falando com o pai, no outro, cuidando de nós."
Aigis deu um passo à frente, sua voz robótica soando clara e precisa. "A Mitsuru-san é uma ótima pessoa. Afinal, é o papel dela como líder do SEES."
Yukari deu um pequeno suspiro e olhou para Aigis, corrigindo-a gentilmente: "Não é exatamente isso que estamos dizendo, Aigis."
Nesse momento, a porta se abriu novamente, e Mitsuru entrou, seguida pelo presidente Shuji, um homem mais velho, de expressão severa, mas com uma presença que exalava autoridade.
Mitsuru olhou para todos, seus olhos refletindo um cansaço.
"Peço desculpas por ter preocupado vocês todos." disse Mitsuru, sua voz carregada de sinceridade. "Mesmo que nossa vinda para Yakushima tenha sido para as férias, eu não descansei direito."
Junpei, com um largo sorriso no rosto, tentou aliviar o clima: "Não se preocupe, senpai. Era esperado que você dormisse em algum lugar."
Fuuka, sempre gentil, acrescentou: "Você faz o seu melhor, Kirijo-senpai. Às vezes, um descanso faz bem para a mente."
O presidente Shuji, um homem de meia-idade com uma presença acolhedor e um sorriso largo, observou a conversa animada do grupo.
Com um gesto enérgico, ele bateu as mãos e se aproximou de uma poltrona, acomodando-se nela com confiança.
"Muito bem, muito bem." disse ele, satisfeito com o que via. "Vejo que todos estão bem. Agora, que tal falarmos sobre o que descobri sobre o novo usuário?"
Todos assentiram, curiosos, e se acomodaram nos sofás ao redor, prontos para ouvir o que o presidente tinha a dizer.
Minato, com seu olhar sereno mas atento, foi o primeiro a quebrar o silêncio.
"Então, o que você descobriu, presidente?" perguntou ele, observando Shuji, que agora segurava uma prancheta em suas mãos.
O presidente Shuji ajustou os óculos, um gesto que já se tornara um hábito quando estava prestes a compartilhar informações importantes.
"Bom." começou ele, com a voz firme, "Os agentes da família da Mitsuru foram enviados para analisar as leituras que o computador do dormitório detectou algumas semanas atrás. Pensávamos que era uma Shadow que estava se tornando um risco. Porém..."
Ele virou uma página na prancheta e a colocou na mesa no centro da sala, revelando os resultados da análise.
"Como podem ver, os resultados foram totalmente diferentes do esperado. Não é uma Shadow, sendo na verdade..."
Akihiko, atento aos detalhes, pegou a prancheta para examinar mais de perto. Seus olhos mostram uma centelha de interesse.
"Um usuário de Persona..." disse ele, absorvendo a informação. "Um bem forte."
O presidente Shuji assentiu, satisfeito com a reação. "Exatamente. E, para nossa sorte, ele também é um aluno da Gekkoukan. Isso facilitará o contato com ele."
Mitsuru, que havia observado a conversa em silêncio até então, desviou o olhar para a prancheta nas mãos de Akihiko, que estava ao seu lado.
"Isso é algo bom de se ouvir." disse ela, sua voz mostrando uma mistura de alívio e curiosidade. "Por acaso sabemos o nome dele?"
"Sim, sabemos a identidade dele." respondeu o presidente Shuji, estendendo a mão para que Akihiko lhe devolvesse a prancheta.
Akihiko devolve, e o presidente virou algumas páginas até encontrar o que procurava.
"Muito obrigado. Onde está... ah, encontrei." Ele mostrou a imagem do registro do aluno no colégio Gekkoukan.
"Hiro Mikoshi. É o nome dele." anunciou o presidente Shuji, com um tom de quem já tinha estudado o aluno.
"Admito que o vi várias vezes nos corredores do colégio. Um sujeito interessante, para dizer o mínimo."
Mitsuru se surpreendeu ao ouvir o nome e ficou olhando fixamente para a foto na prancheta que o presidente segurava.
Yukari, percebendo a confusão no rosto de Mitsuru, não conseguiu deixar de perguntar.
"Mitsuru-senpai, tá tudo bem com você?"
Mitsuru levou a mão à testa, como se estivesse tentando processar a informação. "Eu sei quem ele é. Ele faz parte da minha sala desde o nono ano."
Todos se entreolharam, surpresos com essa revelação.
Fuuka, sempre atenciosa e preocupada com os outros, olhou para Mitsuru e perguntou, com um tom suave.
"Mas, Kirijo-senpai, já que você o conhece, viu algo de diferente nele?"
Mitsuru cruzou os braços e recostou-se no sofá, seus olhos fixos em um ponto distante. "Não, ele é apenas mais um aluno no colégio. Embora seja muito reservado, muitos alunos têm medo dele... por causa do olhar dele."
Junpei, que até então estava calado, olhou mais atentamente para a foto e finalmente reconheceu o rapaz.
Com um tom meio tenso, comentou: "Ah, então esse é o nome desse cara. Eu já o vi algumas vezes no corredor. Os olhos dele dão um calafrio só de você olhar."
Mitsuru refletiu por um momento antes de continuar. "Das vezes que conversei com ele, não pareceu que ele é uma má pessoa. Deve ser porque ele é bastante reservado. Até mesmo na aula ele só fala comigo para perguntar sobre o assunto de japonês."
O presidente Shuji, observando a conversa e ponderando sobre as melhores opções, chegou a uma conclusão.
"Muito bem, por ele ser do terceiro ano e da mesma sala da Kirijo-san, isso facilita a comunicação. Deixem que eu cuido disso. Vou convencê-lo a se mudar para o dormitório. Por agora, descansem bem. Afinal, a viagem é longa."
Com essa declaração, o presidente Shuji se levantou e saiu da sala, deixando o grupo para digerir as novas informações.
Enquanto todos continuavam conversando sobre o que tinham acabado de ouvir, Mitsuru permaneceu quieta, seus olhos fixos na prancheta sobre a mesa, onde a imagem de Hiro ainda estava à vista.
"Hiro Mikoshi..." pensou Mitsuru, suas palavras silenciosas ecoando em sua mente. "Não esperava que você também seria um de nós."
...23/07/2009 Quinta-Feira; Dark Hour...
O ponteiro do relógio bate à meia-noite. Mais uma vez, sem perceber, as pessoas nas ruas pararam, congeladas no tempo, enquanto um caixão se formava ao redor de cada uma delas.
Hiro estava em seu quarto, em casa, revirando-se na cama, inquieto.
Em um sonho perturbador, ele se viu em uma plataforma desolada, segurando um grande machado de guerra.
Seu olhar se elevava para o céu, agora tingido de um verde inquietante, onde uma figura gigantesca e negra rugia, fitando-o com olhos vazios. Uma voz angustiante ecoou na vastidão daquele pesadelo.
"Loipón, poia eínai i apófasí sas? O proángelos tou diavólou."
Hiro acordou bruscamente, caindo da cama com um baque surdo.
O impacto reverberou por seus ossos, arrancando-lhe um gemido de dor.
"Aí... merda. Que sonho foi esse?" murmurou, ainda atordoado, enquanto se levantava devagar.
Seus olhos se voltaram para a janela. Uma luz verde penetrava pelas cortinas, espalhando um brilho sobrenatural pelo quarto.
Confuso, ele estendeu a mão para pegar seu celular na cabeceira. Mas, ao tentar ligá-lo, a tela permaneceu escura. O aparelho parecia morto, apesar de estar conectado ao carregador.
"O que? Porque ele não tá pegando? Liga, seu desgraçado!" bufou irritado, apertando o botão repetidamente, sem sucesso.
Frustrado, Hiro caminhou até a janela e afastou a cortina, revelando um céu de um verde brilhante, em nada parecido com o habitual azul escuro da madrugada.
Ele piscou várias vezes, tentando entender o que via.
"O céu... ele não deveria estar assim..." disse, sua voz embargada pela confusão.
De repente, o som de algo caindo na sala de estar ecoou pela casa.
Hiro se sobressaltou e, sem hesitar, pegou um bastão que mantinha atrás da porta do quarto.
Seu coração batia acelerado enquanto ele se movia devagar pelo corredor, os sentidos em alerta.
"Quem tá aí? Apareça!" sua voz ecoou no silêncio, mas não recebeu resposta.
Cauteloso, Hiro chegou à sala de estar. Seus olhos se voltaram para o relógio na parede, cujos ponteiros estavam parados, marcando exatamente meia-noite.
Ele se aproximou do relógio, ainda mais confuso.
"Eu comprei esse relógio semana passada. Ele não tá quebrado, e é impossível ele estar sem bateria." disse a si mesmo, tentando racionalizar o que estava acontecendo.
Então, algo à distância chamou sua atenção. Através da janela, Hiro avistou uma torre colossal que parecia ter surgido do nada. Ele se aproximou da janela, assombrado pelo que via.
"Mas o que? O que diabos é aquilo?" exclamou, a voz trêmula de medo e incredulidade.
A torre era composta de blocos irregulares, empilhados de forma caótica.
Sua arquitetura bizarra e distorcida desafiava todas as leis da física, com partes da estrutura aparentemente flutuando ou desconectadas do todo.
Relógios gigantes adornavam as paredes da torre, funcionando de forma sinistra em uma contagem regressiva.
Quando os ponteiros alcançaram novamente a meia-noite, um sino ecoou, anunciando o fim de algo desconhecido.
Em um piscar de olhos, o céu começou a retomar sua cor habitual, e o relógio na parede voltou a funcionar, os ponteiros marcando o tempo normalmente.
Hiro piscou várias vezes, incapaz de acreditar que a imensa torre desapareceu tão rápido.
O celular em sua mão vibrou, arrancando-o de seus pensamentos.
Ele olhou para a tela e viu que o aparelho estava em perfeito estado, com 95% de bateria.
Uma mensagem promocional havia chegado:
"Venha aproveitar o nosso desconto de fim de semana! Ferramentas elétricas, de 23.000¥ por apenas 10.000¥. Não perca!"
Hiro apagou a mensagem com um suspiro exasperado e voltou a olhar pela janela, tentando encontrar respostas.
"O que tá acontecendo aqui?" murmurou para si mesmo, ainda imerso na confusão.
...??/??/2009 A Velvet Room...
Uma melodia melancólica ressoa em notas graves de piano, ecoando em uma sala que parece subir infinitamente, como um elevador que nunca alcança seu destino.
A sala é pintada em um azul índigo profundo, dando a tudo um ar etéreo e misterioso.
Um relógio imenso, com ponteiros que giram sem cessar, ocupa uma das paredes, reforçando a sensação de que o tempo, ali, é uma ilusão.
No centro da sala, repousa uma poltrona imponente, onde se senta uma figura peculiar.
O homem é baixo, com uma estatura quase desproporcional à grandeza da sala.
Ao lado de uma mulher, de cabelos prateados curtos, olhos dourados, vestindo um uniforme que se assemelha a de uma aeromoça, ela segura um enorme livro com uma capa metálica, destacando-se um enorme "V" no meio.
O homem sentado está de olhos fechados. Seu nariz é longo e pontudo, quase caricatural, e ele veste um terno formal que se ajusta perfeitamente à sua figura.
Suas mãos estão juntas, apoiando o queixo, e um sorriso enigmático, que se estende de uma ponta a outra de sua boca, completa sua expressão.
Ele olha fixamente para outra cadeira, onde uma figura indistinta e vazia está sentada.
A presença dessa figura, ainda que indefinida, é tangível no ar pesado da sala.
O sorriso do homem se alarga, como se estivesse aguardando esse encontro há muito tempo.
"Bem-vindo à Velvet Room. Este lugar existe entre o sonho e a realidade, entre a mente e a matéria." diz o homem, sua voz grave e carregada de uma sabedoria que transcende o tempo. "Eu sou Igor, o mestre deste lugar."
Com um estalar de dedos, várias cartas de tarô aparecem ao redor de Igor, flutuando no ar em um movimento circular, como se obedecessem a uma força invisível.
As cartas dançam ao redor da poltrona, criando uma aura ainda mais enigmática ao seu redor.
Igor continua, "Nesta sala, todos os convidados que assinam nosso contrato recebem nossos auxílios para alcançar o seu destino. Mas isso não significa que você está aqui para usufruir de nossos serviços."
As cartas, obedecendo a um comando silencioso, começam a pousar suavemente sobre a mesa diante de Igor, organizando-se na ordem dos Arcanos Maiores.
Do Arcano 0 até o Arcano 22, todas se alinham, exceto a carta 0, que flutua acima das outras.
Igor aponta para a carta que permanece no ar. "O Arcano do Louco, a carta que representa enfrentar o que o destino tem a oferecer, sem temer o que lhe espera no final do abismo. Pode morrer? Sim. Pode haver algo que amortecerá sua queda e o fará sobreviver. Observe a imagem."
Na carta, a figura de um homem caminha despreocupadamente em direção a um precipício, confiante de que o destino o salvará.
Ao seu lado, um cachorro morde sua calça, tentando segurá-lo, como se implorasse para que ele não saltasse.
Igor volta seu olhar para a figura indistinta. "O contrato já foi assinado para o Salvador. Ele já está no processo de criar novos laços com seus aliados, tornando-se mais poderoso a cada passo."
De repente, Igor parece escutar algo que está além da percepção comum.
Seu sorriso não desaparece, mas seus olhos se fecham, como se estivesse absorvendo uma mensagem do próprio universo.
Quando os abre novamente, suas pupilas estão cheias de melancolia, animação e uma determinação que transparece em seu olhar profundo.
"O nosso tempo está se esgotando." ele diz, com uma suavidade que contrasta com a gravidade de suas palavras. "Mas permita-me fazer uma última pergunta antes de você partir."
A sala começa a se desfazer ao redor da figura, como se estivesse sendo sugada por uma força invisível.
Igor estende a mão na direção da figura, seu sorriso alargando-se ainda mais, enquanto a sala desaparece aos poucos.
"Você acreditaria se eu te contasse que o dia tem mais de 24 horas?" pergunta Igor, sua voz ecoando enquanto tudo ao redor se dissolve na escuridão.
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Atualizado até capítulo 26
Comments
Phillip Shakespeare
muito bom cara gostei do começo parabéns e sucesso pelo projeto
2024-10-21
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