Capítulo 13: A Rainha Leonora

Os dias estavam sendo exaustivos; eu passava horas dedicada ao treinamento, tentando aperfeiçoar minha magia, que ainda me parecia complexa e desafiadora, pois tudo era novo para mim. Enquanto isso, Adrian organizava e preparava alguns membros do exército imperial, garantindo que todos estivessem prontos para o momento em que partíssemos rumo ao primeiro ponto de concentração das feras corrompidas.

Eu já tinha visto uma prévia do plano quando Adrian nos mostrou, em um mapa, a localização dos pontos estratégicos. Um desses pontos, inclusive, ficava em seu próprio ducado. Ao todo, eram cinco pontos, todos bem distantes entre si, o que tornava impossível enfrentá-los todos de uma vez. Nossa ideia era fazer uma excursão e, com sorte, resolver o problema de forma eficiente, ponto a ponto.

Aurora e o príncipe estavam presentes enquanto traçávamos o plano. O príncipe não fazia outra coisa além de reclamar, insistindo que Aurora se cansaria e que seria muito arriscado para ela. Enquanto isso, Aurora mantinha uma expressão solene, esforçando-se para parecer altruísta e dizendo estar pronta para se sacrificar pelo reino, mas eu conseguia ver perfeitamente suas intenções e ela não parecia tão disposta a se arriscar.

Não tenho paciência para esse tipo de comportamento, e Liz, minha companheira inseparável, menos ainda. Se conseguissem vê-la, teriam que lidar com Liz e sua "mini fúria". Emboa ela sempre comentasse, frustrada, que não poderia ferir humanos diretamente, o que, às vezes, parecia deixá-la irritada.

Com todas essas interrupções, quase não conseguimos avançar em nossas pesquisas sobre o passado, algo que tanto Liz, Adrian e eu ansiávamos entender melhor.

Alguns dias antes, Adrian havia enviado uma mensagem por um falcão, instruindo seus melhores guerreiros a se reunirem no primeiro ponto. Ele explicou que o falcão não era uma ave comum, mas uma fera mágica, usada para entregas urgentes.

Bastava amarrar a carta ao falcão, recitar um feitiço simples de localização, e ele sabia exatamente onde entregá-la, encontrando o destinatário onde quer que estivesse.

No quinto dia de treinamento, busquei um momento de tranquilidade e fui até o jardim. Deitei-me em um banco e deixei que o cansaço tomasse conta de mim. Observei o céu escurecendo lentamente, enquanto fechava os olhos, apreciando o perfume das flores e o suave som da água da fonte. Aquele era meu refúgio, e estar ali era profundamente relaxante.

— Liora, você pode se levantar para eu me sentar com você? — escutei uma voz muito familiar.

— Já falei que é Lili, mamãe — murmurei, pensando que talvez estivesse sonhando com minha mãe. Mas, ao ouvir uma risada doce e suave, abri os olhos.

— Bobinha, eu não sou sua mãe; sou Leonora — disse a mulher, com um tom amistoso que me fez estremecer.

Levantei-me, ainda um pouco atordoada e quase cambaleando, e fiz uma reverência, um tanto exagerada, enquanto via Liz rir do meu embaraço.

— Desculpe, Vossa Majestade. Acho que estava sonhando com minha mãe — continuei a reverência, sem ousar olhá-la diretamente.

— Não se preocupe, minha jovem, e não precisa de tantas reverências — disse ela, tocando meu ombro com um gesto gentil.

Seu toque suave e acolhedor me fez encará-la, e fiquei encantada com sua beleza. Um sorriso tímido escapou ao notar seus longos cabelos negros e olhos azuis intensos. Seu rosto possuía traços delicados, quase intocados pelo tempo, e sua pele clara parecia iluminar ainda mais sua expressão serena.

— Vamos, sente-se comigo — pediu ela, segurando minha mão e me tirando do transe. — Edric me falou muito sobre você. Disse o quanto você tem se esforçado para aprender tudo antes de enfrentarem aquelas feras — completou, sorrindo gentilmente enquanto se sentava no banco.

— Estou dando o meu melhor — respondi, com um sorriso nervoso, e me sentei ao seu lado.

— Você parece ser uma jovem determinada; tenho certeza de que vai conseguir — disse a rainha Leonora, e eu senti a mesma conexão que tive com o rei Edric.

Na verdade, com ela, essa conexão parecia ainda mais intensa, mas achei que fosse apenas efeito do cansaço acumulado e tentei não pensar muito nisso.

Conversamos um pouco sobre o jardim, que ela parecia realmente adorar. Fez várias perguntas sobre minha vida, demonstrando interesse em me conhecer melhor, e eu respondia a tudo com um sorriso sincero.

Liz também parecia gostar dela e, de vez em quando, comentava como Leonora era encantadora ao cobrir a boca ao rir. Quando percebi, já era noite, mas a conversa estava tão agradável que parecia não ter hora para acabar.

— Você é realmente adorável. Tentei conversar com Aurora, mas ela não teve muita paciência comigo. Parece que só pensa em agradar meu filho — comentou ela, sorrindo, embora com um olhar de desaprovação ao mencionar Aurora.

— A senhora é muito gentil; nem percebi o tempo passar — respondi sinceramente, segurando sua mão, e ela riu novamente, cobrindo a boca com a mão.

Nesse momento, Adrian apareceu no jardim, acompanhado do rei Edric. Ele fez uma reverência à rainha e lançou um sorriso discreto para mim.

— Vossa Majestade, Lili... — disse ele formalmente. — Vim buscá-la para o jantar, senhorita Lili.

— Por que não jantam conosco? — convidou a rainha Leonora. — Louis sempre traz Aurora.

— Acho uma excelente ideia! Por favor, venham — disse o rei Edric, soltando uma risada contagiante.

— Já que insistem, não posso recusar… — respondi, um pouco nervosa. — O que acha, Adrian?

— Irei aonde a senhorita for — respondeu Adrian calmamente.

Nossa relação tem evoluído rapidamente, mas ele só costuma demonstrar seus sentimentos quando estamos a sós. Com outras pessoas, mantém um tom formal, como no início.

A rainha lançou um olhar intrigado para nós dois, mas fingiu não perceber nossa conexão. Satisfeitos por termos aceitado o convite, fomos até o salão de refeições. Ao chegarmos, Louis e Aurora já estavam lá, ambos fazendo uma reverência respeitosa ao rei e à rainha.

Assim que nos sentamos, a conversa fluiu com suavidade, e a refeição começou de forma agradável. No entanto, Louis logo encontrou uma oportunidade para seus comentários provocadores.

— Então, Senhorita Liora — disse ele, com um sorriso irônico. — Está se divertindo no castelo? Imagino que um ambiente tão refinado deva ser bem... diferente do que você está acostumada.

— De fato, Príncipe Louis, é um lugar bem diferente do que estou acostumada, mas tenho aproveitado a experiência — respondi, tentando soar o mais diplomática possível.

Aurora, sentada ao lado dele, riu com um ar de cumplicidade, apoiando-se no braço dele.

— Pois eu não poderia me imaginar longe daqui — comentou ela, em tom leve, mas com um olhar que me desafiava. — Acho que seria muito difícil para mim me adaptar a um lugar mais... simples.

Adrian, ao meu lado, limpou a garganta, claramente incomodado com o rumo da conversa.

— Acho que você deveria medir suas palavras, príncipe Louis; se continuar tentando ofender a senhorita Lili, talvez eu não responda por mim — disse ele, lançando um olhar sério para Louis. — Tenho certeza de que Lili se adaptou muito bem; ela é até mais nobre que você — Completou, fazendo Louis lançar um olhar furioso para ele.

A rainha Leonora observava tudo com uma expressão tranquila, mas interveio suavemente.

— Sabe, Aurora, a verdadeira força de alguém está na capacidade de se adaptar aos ambientes mais variados — disse ela, sorrindo para mim. — E Liora tem provado ser uma pessoa forte e resiliente.

Aurora sorriu, mas não parecia completamente satisfeita com a resposta da rainha. Louis, por outro lado, apenas deu de ombros e voltou sua atenção para a refeição, aparentemente sem nada a acrescentar.

— Louis, não me faça perder a paciência, principalmente na frente de sua mãe — disse o rei Edric, lançando um olhar significativo ao filho. — Afinal, enfrentaremos muitos desafios fora do castelo, e a colaboração de todos será fundamental para vencermos o mal que nos ameaça.

Eu sorri e troquei um olhar de agradecimento com a rainha e o rei, sentindo que eles haviam me apoiado de forma sutil, mas poderosa. Enquanto a refeição continuava, Louis ainda soltou algumas alfinetadas discretas, mas consegui ignorá-lo, focando-me no apoio silencioso de Adrian e na presença acolhedora de Leonora. Confesso que eu estava curiosa para saber o motivo do príncipe não gostar de mim, mas não dei muita importância.

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