Capítulo 10: Uma quase Tentativa

Enquanto passeava com Saphira, encontrei Henrique e Amanda. Conversamos um pouco, e fiquei feliz por eles. Estavam reconstruindo suas vidas e seriam pais, a vida perfeita que ela sempre quis. Por mais que Henrique tenha conquistado o amor dela, eu não conseguia sentir raiva. Na verdade, era difícil dizer se eu sentia alguma coisa. Naquele momento, agia com total racionalidade, mantendo meus sentimentos e meu coração protegidos.

Levo Saphira para casa após um dia inteiro de passeios, pois Jeniffer disse que iria buscá-la lá depois de sair do shopping. Ela estava cansada e acabou dormindo em seu quarto. Embora não more mais aqui, mantenho o quarto exatamente como ela gosta. Quando Jennifer chega, aviso que vou acordar Saphira para irem embora.

— Espera, não seja malvado, deixe-a dormir mais um pouco — disse ela, segurando minha mão. — Enquanto isso, podemos tomar um vinho e pedir algo para comer, estou com um pouco de fome.

— Não quero beber, mas você pode pedir algo, também estou com fome — respondi, tentando forçar um sorriso.

— Isso é porque você é um papai coruja, tenho certeza de que encheu a Saphira de comida e esqueceu de comer — comentou ela, entrelaçando os braços em meu pescoço. — Vamos beber um pouco, não faz mal — completou, beijando meu pescoço.

— Tudo bem, só um pouco — respiro fundo, tentando controlar meus instintos. Afinal, sou homem e ela é uma mulher muito bonita. — Peça a comida, vou pegar o vinho e as taças — concluo, afastando-me e indo até a adega.

Vejo-a sorrindo, tentando me provocar, e por um segundo penso no que Joshua me disse sobre dar uma chance para Jennifer. Pergunto-me se seria capaz de esquecer suas mentiras só para ficar ao lado da minha filha. Nem minha mente, nem meu coração queriam isso. Fico alguns minutos refletindo, mas sem chegar a uma decisão, volto com as taças e a garrafa de vinho.

Sirvo as taças e começamos a beber, sentados no sofá. Poucos minutos depois, o serviço de entrega chega, e vou fazer o pagamento. Saio até o portão e vejo o entregador descendo da moto. Rapidamente pago a ele e volto com a comida. Começamos a comer, enquanto ela fala sobre a semana de Saphira na escolinha. Tenho certeza de que só faz isso para amolecer meu coração, já que ela nunca se importou com esses assuntos.

— Sabia que sinto muita saudade de você? — perguntou, colocando a comida na mesa de centro e se aproximando de mim, como um gato pedindo carinho.

— O que você está fazendo? Você colocou algo na minha bebida? — perguntei, sentindo-me tonto e com o corpo quente.

Bebi no máximo três taças, e não deveria estar me sentindo assim. Pergunto-me o que ela quer com isso, mas certamente não é nada bom.

— Do que você está falando, meu bem? Você deve ter ficado fraco para bebidas — disse ela, me beijando suavemente.

Coloco minha comida na mesa e me viro para afastá-la, confirmando que ela realmente colocou algo na minha bebida. Meus movimentos estavam lentos e imprecisos, e comecei a alucinar, vendo Clarisse em vez de Jennifer.

— Você voltou, Clarisse? — perguntei, tentando tocar seu rosto. — Voltou porque me ama?

Naquele momento, já me sentia em um sonho, esquecendo completamente o que havia acontecido segundos antes. Quando a vejo confirmar, a beijo intensamente, demonstrando toda a saudade que tentava suprimir. Com o beijo se intensificando, a deito no sofá, tomando seu corpo com urgência, como se nada mais importasse.

Começo a tirar sua blusa, mas um barulho alto de algo caindo me traz de volta à realidade, e percebo que estava me enganando. Queria algo que não podia ter, e Jennifer estava me enganando de novo.

— Algo caiu lá fora? — perguntei, olhando para a porta, que estava aberta. — Por que a porta está aberta? Achei que a tinha fechado — questionei, tentando me levantar para verificar.

— Deve ter sido um gato, vamos continuar, estava tão bom — disse Jennifer, me puxando para perto.

Com toda a minha força de vontade, afasto-a e me levanto.

— Sabe, eu estava pensando seriamente em ter algo com você de novo, mas você me enganou outra vez. Esqueça, nunca vai acontecer nada entre nós — disse com firmeza, embora soubesse que não conseguia mante a força na voz.

Vou até a porta, olho para fora, mas só vejo a lata de lixo caída. Penso que realmente deve ter sido algum animal, então fecho a porta, ignorando Jennifer, que tentava me persuadir, embora eu mal entendesse suas palavras, ainda tonto.

Me esforço para subir as escadas e vou até o quarto de Saphira, deitando-me ao seu lado. Não sabia o que Jennifer queria, mas sabia que ela não faria nada enquanto eu estivesse com a filha dela. Então apaguei, confiando nessa suposição.

Foi um engano. Quando acordei no dia seguinte, além de uma forte dor de cabeça, encontrei Jennifer deitada sobre meu peito, pintando o quadro de uma linda família ao acordar. Saphira abriu os olhos e nos viu abraçados.

— Papai, você vai namorar a mamãe de novo? — perguntou Saphira, com os olhos brilhando.

— Não, o papai e a mamãe só estavam cansados e acabamos dormindo depois de te colocar para dormir — respondi, sorrindo, enquanto tentava me afastar de Jennifer.

— É verdade, mamãe? — perguntou ela para Jennifer, que me abraçou e beijou minha bochecha.

— É verdade, mas quem sabe no futuro?! — disse Jennifer, sorrindo.

— Isso nunca vai acontecer — respondi rispidamente, empurrando-a para longe.

— Por que não, papai? — perguntou Saphira, inocentemente.

— Porque não. Você faz muitas perguntas, garotinha — disse, começando a fazer cócegas em sua barriga. — Vamos descer, vou te preparar o café da manhã.

Levantei-me da cama e a peguei no colo para descer até a cozinha. Jennifer, toda colaborativa, disse estar ansiosa para tomar café da manhã conosco e nos seguiu. Infelizmente, tenho que aguentar sua presença pelo bem de Saphira, e não quero brigar na frente dela. Tomamos café juntos e, logo depois, as duas foram para casa, me deixando só com meus pensamentos e minha dor de cabeça.

Tomei um banho, me arrumei e, após tomar um remédio, fui para o trabalho, para mais um dia monótono e chato. Geralmente, as coisas mudam quando Joshua vem organizar tudo para a abertura da minha agência, e penso que talvez deva começar a me dedicar totalmente a isso, já que será meu futuro. Até acho interessante e divertido planejar tudo.

Saphira

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