Uma Família para o Advogado Arrogante

Uma Família para o Advogado Arrogante

Capítulo 1: Cicatrizes do Passado

JÚLIO...

"Você nunca será pai!"

Acordo suando frio, e essa frase não sai dos meus pensamentos. É um pesadelo que sempre retorna quando penso que superei o fato de não conseguir ser pai. Talvez eu tenha sido egoísta, talvez eu tenha esse desejo pelo fato de não ter tido uma boa relação com meu pai, mas era algo que eu desejava com todas as minhas forças.

Desde que eu era bem pequeno, lembro do meu pai chegando bêbado. Ele batia em mim e na minha mãe, depois pedia desculpas e voltava a agir como se nada houvesse acontecido. Minha mãe, iludida, sempre acreditava em suas promessas e o perdoava. Eu, ao contrário, estava sempre pedindo para ela me levar embora daquela casa. Por mais difícil que fosse, qualquer lugar seria melhor que ali.

Porém, ela nunca atendeu aos meus pedidos, por mais que eu implorasse. Mas até que posso dizer que ele fez algo de bom por mim, por mais que eu não gostasse de seus métodos. Estudei incansavelmente para ter uma vida diferente e ir embora sozinho, já que eu não podia contar com minha mãe.

O que aconteceu até mais cedo do que eu imaginava. Eu já havia passado no curso de direito e tinha começado a procurar empregos de meio período para poder alugar um apartamento pequeno ou até mesmo um quarto e ter o básico para sobreviver até terminar meu curso.

Por sorte, ter passado em primeiro lugar me garantiu alguns benefícios, como usar o dormitório no campus da faculdade e refeições de graça no refeitório. Então, eu só precisaria de dinheiro para comprar roupas, entre outros itens, para ter uma vida minimamente confortável.

No entanto, um mês antes de começar as aulas, meu pai chegou novamente embriagado e tentou me bater. Entretanto, já com 18 anos, eu não iria deixar ele encostar um dedo sequer em mim. Tentei não ser agressivo e apenas contê-lo, mas ele não me deixou escolha, e acabei revidando. No final, talvez eu tenha pegado um pouco pesado demais. Não me orgulho disso, principalmente por não querer ser igual a ele. Todavia, não me senti nem um pouco culpado por tê-lo feito parar no hospital.

— Mãe, por favor, vamos embora. Eu vou terminar meus estudos e te dar uma vida melhor — pedi, depois que a ambulância levou meu pai, mantendo uma pequena fagulha de esperança, desejando que ela aceitasse vir comigo.

— Do que você está falando, meu filho? Você precisa pedir perdão para o seu pai. Olha o pecado que você cometeu! Jamais um filho deve levantar a mão para um pai — disse ela chorando, e me sinto fraco diante daquela situação.

— Eu jamais vou pedir perdão a ele, não tenho motivos para isso — disse com um misto de raiva e decepção.

— Então pegue suas coisas e vá embora. Eu te amo muito, mas preciso cuidar de seu pai — disse ela com a voz firme. — Espero que Deus te perdoe e que você possa ver o erro que está cometendo.

— Já que você quer assim, mamãe, já que você escolheu continuar nessa vida de merda ao lado do meu pai, esqueça que sou seu filho, e eu vou esquecer tudo que vivi nessa casa — disse, subindo para o meu quarto para arrumar minhas malas.

Eu sei que falei algo que um filho não deveria dizer para uma mãe, mas eu estava com o coração partido. Por mais que ela aceitasse o que meu pai fazia, eu jamais imaginei que ela fosse dizer isso para mim. Ela diz que me ama, mas suas ações não demonstram isso.

— Que Deus te abençoe, meu filho. Eu vou falar com seu pai e convencê-lo a não dar queixa, ok? — disse ela quando voltei com a minha mala.

Ela continua me colocando como culpado. Ela não viu que eu também fiquei machucado na briga? Ela não viu o quanto sofri durante todos esses anos? E se viu, será que se importa o suficiente com as cicatrizes que carrego? Eu tentava encontrar respostas para essas perguntas, mas não conseguia. Por fim, segurei para que nenhuma lágrima caísse, dei um beijo em sua testa e fui embora. Se ela quer isso para a vida dela, não serei eu a impedir.

Saio andando sem rumo. Graças ao meu pai, eu acreditava não ter ninguém para me apoiar. Ele me mantinha trancado no quarto por dias, forçando-me a estudar, e nunca permitia que eu interagisse com outras crianças. Na escola, era ainda pior.

Como ele era o zelador da escola, estava sempre me vigiando, certificando-se de que eu estivesse estudando e impedindo qualquer interação com os outros alunos, exceto quando se tratava de estudos. As únicas crianças com quem tive algum contato foram Amanda e seus irmãos, e isso aconteceu apenas uma vez.

Entretanto, após aquela breve diversão, apanhei tanto que as marcas levaram semanas para desaparecer. Quando Amanda passava em frente à minha casa, eu a via pela janela, e ela acenava com um sorriso. Nesses breves instantes, parecia que ela era o próprio sol brilhando só para mim.

Sento em um banco da praça e coloco minha pequena mala no chão. Não tinha muitas coisas, e ainda eram velhas. Fico um tempo lá, olhando para o nada, como se esperasse por um milagre. E esse milagre chegou com meu pequeno sol radiante.

— O que aconteceu com seu rosto, Júlio? — perguntou Amanda, tocando meu rosto.

Ao sentir suas mãos, sinto um misto de dor pelos ferimentos e conforto pela sua presença. Sem saber o que dizer, apenas a abraço forte e acabo chorando. Ela simplesmente retribui o abraço e me permite ficar ali, e foi como se o mundo inteiro desaparecesse, restando apenas nós dois.

Depois de um tempo, explico o que aconteceu, e, sem me dar tempo de reagir, ela pega minha mala, dizendo que eu ficaria na casa dos pais dela. Pergunto se eles não se importariam, mas ela garante que brigariam com ela se não me oferecesse ajuda. Mesmo que, na prática, ela estivesse me obrigando a segui-la ao carregar minha mala, uma fagulha acendeu no meu coração, e eu senti que não estava mais sozinho.

Aquele mês foi, talvez, um dos mais importantes para me impedir de me tornar alguém que eu não queria ser. Pela primeira vez, entendi como uma família de verdade funcionava. Eu estava amando cada momento, pois, finalmente, sentia que estava em casa e já não precisava temer a chegada do meu pai.

Júlio

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Comments

Solaní Rosa

Solaní Rosa

no outro livro critiquei o Júlio mas agora tô com pena dele

2024-11-21

1

Fatima Gonçalves

Fatima Gonçalves

é muito triste não ter amor próprio e nem ao filho

2024-10-25

1

Vanildo Campos

Vanildo Campos

que triste 😢 😢 😢 😢 😢

2024-10-19

1

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1: Cicatrizes do Passado
2 Capítulo 2: Um Caminho Difícil
3 Capítulo 3: Términos e Recomeços
4 Capítulo 4: Correndo Riscos
5 Capítulo 5: Expectativas e Encontros
6 Capítulo 6: Meu Senhor Bonitão
7 Capítulo 7: Corações em Sincronia
8 Capítulo 8: Meu doce Desejo
9 Capítulo 9: Do Amor à Dor
10 Capítulo 10: Uma quase Tentativa
11 Capítulo 11: Entre o Amor e Escolhas
12 Capítulo 12: Consequência de Minhas Escolhas
13 Capítulo 13: Segredos da Maternidade
14 Capítulo 14: Laços Invisíveis
15 Capítulo 15: Acusações e Mentiras
16 Capítulo 16: Verdades Reveladas
17 Reencarnei como Uma Santa em Um Mundo de Magia
18 Capítulo 17: O Peso do Silêncio
19 Capítulo 18: Complicações
20 Capítulo 19: Lutando Pelo que é Meu
21 Capítulo 20: O Peso dos Segredos
22 Capítulo 21: Corações em Conflito
23 Capítulo 22: O Julgamento
24 Capítulo 23: Entre o Amor e a Culpa
25 Capítulo 24: Escolhendo Prioridades
26 Capítulo 25: Tempo de Reflexão
27 Capítulo 26: Amor em Família
28 Capítulo 27: Um Jantar em Família
29 Capítulo 28: Recomeços
30 Capítulo 29: Momentos de Felicidade
31 Capítulo 30: Datas Especiais
32 Capítulo 31: Um Adeus
33 Capítulo 32: Um Recomeço Instável
34 Capítulo 33: Carinho e Cuidados
35 Capítulo 34: Rotina
36 Capítulo 35: Passeios
37 Capítulo 36: Perigo
38 Capítulo 37: Fuga Rápida
39 Caítulo 38: Determinação
40 Capítulo 39: Apresentação de Saphira
41 Capítulo 40: Final Feliz
Capítulos

Atualizado até capítulo 41

1
Capítulo 1: Cicatrizes do Passado
2
Capítulo 2: Um Caminho Difícil
3
Capítulo 3: Términos e Recomeços
4
Capítulo 4: Correndo Riscos
5
Capítulo 5: Expectativas e Encontros
6
Capítulo 6: Meu Senhor Bonitão
7
Capítulo 7: Corações em Sincronia
8
Capítulo 8: Meu doce Desejo
9
Capítulo 9: Do Amor à Dor
10
Capítulo 10: Uma quase Tentativa
11
Capítulo 11: Entre o Amor e Escolhas
12
Capítulo 12: Consequência de Minhas Escolhas
13
Capítulo 13: Segredos da Maternidade
14
Capítulo 14: Laços Invisíveis
15
Capítulo 15: Acusações e Mentiras
16
Capítulo 16: Verdades Reveladas
17
Reencarnei como Uma Santa em Um Mundo de Magia
18
Capítulo 17: O Peso do Silêncio
19
Capítulo 18: Complicações
20
Capítulo 19: Lutando Pelo que é Meu
21
Capítulo 20: O Peso dos Segredos
22
Capítulo 21: Corações em Conflito
23
Capítulo 22: O Julgamento
24
Capítulo 23: Entre o Amor e a Culpa
25
Capítulo 24: Escolhendo Prioridades
26
Capítulo 25: Tempo de Reflexão
27
Capítulo 26: Amor em Família
28
Capítulo 27: Um Jantar em Família
29
Capítulo 28: Recomeços
30
Capítulo 29: Momentos de Felicidade
31
Capítulo 30: Datas Especiais
32
Capítulo 31: Um Adeus
33
Capítulo 32: Um Recomeço Instável
34
Capítulo 33: Carinho e Cuidados
35
Capítulo 34: Rotina
36
Capítulo 35: Passeios
37
Capítulo 36: Perigo
38
Capítulo 37: Fuga Rápida
39
Caítulo 38: Determinação
40
Capítulo 39: Apresentação de Saphira
41
Capítulo 40: Final Feliz

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