O jogo das sombras

Narrado por Escorpião

O sol estava a pino quando a festa começou. O morro estava vibrante com a energia dos convidados e a antecipação do baile de coroação da Lili como a nova dona do Jacarezinho. Enquanto todos se preparavam para o evento, eu me mantive em um canto, observando cada movimento com um sorriso que escondia minha verdadeira intenção.

Lili estava no centro das atenções, com uma aura de determinação e poder que ela tentava projetar. Ela estava, sem dúvida, uma líder em ascensão, mas estava longe de perceber o quanto estava sendo manipulada. Meu trabalho não era apenas garantir que a cerimônia fosse um sucesso, mas também que eu tivesse tudo sob controle para os meus próprios planos futuros.

Quando Lili se aproximou de mim para uma rápida atualização, eu pude ver a ansiedade em seus olhos. Ela havia sido treinada para este momento, mas ainda tinha a sensação de estar andando em um terreno instável. A minha missão era garantir que ela nunca se sentisse completamente segura.

— Escorpião, tudo está indo bem, certo? — Lili perguntou, tentando ler meu rosto para obter algum sinal de aprovação.

— Perfeitamente, Lili — respondi com um sorriso calculista. — Mas lembre-se, a verdadeira força não está apenas em como você assume o comando, mas em como você manipula aqueles ao seu redor para garantir que ninguém duvide de sua liderança.

Ela me lançou um olhar intenso, claramente absorvendo minhas palavras. Eu a tinha treinado para ser impiedosa, mas sabia que uma pequena faísca de dúvida poderia ser uma fraqueza fatal. Era essencial que ela mantivesse a aparência de controle total.

A cerimônia foi impecável, mas eu sabia que o verdadeiro trabalho estava apenas começando. Durante o evento, vi alguns dos líderes das facções sussurrando entre si. A desconfiança estava no ar, e era meu papel garantir que essa desconfiança não se voltasse contra nós.

Após o evento, quando os convidados começaram a se dispersar, eu peguei Lili à parte, longe dos olhares curiosos. Sua expressão era uma mistura de exaustão e orgulho. Eu precisava garantir que ela mantivesse essa fachada de confiança, enquanto eu preparava o terreno para meus próprios objetivos.

— Você fez um bom trabalho hoje, Lili — comecei, minha voz tingida com uma frieza calculada. — Mas agora começa o verdadeiro desafio. A liderança não é apenas uma questão de assumir o poder, mas de garantir que todos saibam quem manda e que você pode ser implacável quando necessário.

Ela me olhou, tentando processar minhas palavras. Eu sabia que a insegurança dela era um ponto vulnerável que eu poderia explorar. Sem dar a mínima chance para a dúvida dela, continuei:

— Você tem que ser a primeira a mostrar que não hesitará em usar a força quando necessário. Se mostrar fraqueza, eles vão usar isso contra você. E lembre-se, a única forma de garantir a lealdade é através do medo e da certeza de que você está sempre no controle.

Ela engoliu em seco, o medo nos seus olhos mostrando que minhas palavras estavam acertando onde eu queria. Ela queria acreditar que estava pronta, mas eu sabia que o medo e a incerteza ainda a assombravam.

— Não se esqueça, eu estarei sempre aqui para garantir que você siga o caminho certo. — Completei, com um tom de voz que misturava apoio e ameaça. — Mas lembre-se: se alguma coisa der errado, a culpa será sua. E você não terá ninguém além de si mesma para culpar.

Lili assentiu, claramente afetada pela crueldade de minhas palavras. Ela estava começando a entender a verdadeira natureza do poder e da liderança. E enquanto ela lutava para se adaptar a essa nova realidade, eu permanecia na sombra, manipulando os eventos e garantindo que, eventualmente, o controle total do morro estivesse em minhas mãos.

A noite caiu e a festa continuou, mas para mim, a verdadeira batalha estava apenas começando. Enquanto Lili se firmava em sua posição, eu trabalhava silenciosamente para garantir que a teia de manipulações.

Eu só precisava que ela assumisse o seu lugar para que pudesse colocar meu plano em prática. Essa patricinha vai aprender o que é a vida no morro e vai comer o pão que o diabo amassou. Vou mostrar para ela o que é realmente comandar um morro e, quando ela estiver devidamente esmagada e sob meu controle, o morro será meu.

A coroação foi apenas o início. Com a Lili agora morando no morro, ela enfrentará a realidade cruel que eu havia planejado para ela. Na época do avô dela, eu não tinha poder para agir. Ele era mais respeitado, mais temido. Mas agora, ele se foi, e eu tinha a chance de manipular cada passo dela para garantir que o morro caísse nas minhas mãos.

Quando chegamos à sua nova casa, eu entrei junto com ela, usando o momento para estabelecer meu controle. O plano era simples: desestabilizá-la e forçá-la a enfrentar a brutalidade que o morro tinha a oterecer.

— Por hoje, pode ir descansar. — Disse ela de maneira quase amigável, enquanto ela se virava para me encarar.

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