Revelações sombrias

Meninas estou amando o comentários de vocês continuem ❤️

Narrado por PH

O dia acordou nublado, e o ar parecia pesado enquanto eu caminhava pelas ruas movimentadas do meu morro. Desde a revelação bombástica da semana passada, eu não conseguia parar de pensar em Lili. Aquela garota que apareceu do nada, reclamando um trono que, por direito, nunca deveria ter sido dela. Mas a verdade é que, por mais que eu tentasse afastar os pensamentos, algo me empurrava para descobrir mais sobre ela. Quem era Lili, realmente? O que ela havia vivido para chegar até aqui?

Decidi que precisava de respostas, e sabia exatamente onde começar.

O Barão. Ele tinha que ter deixado alguma pista, algum rastro que mostrasse como ele a criou. Passei dias tentando rastrear qualquer informação, qualquer documento que pudesse me dar uma pista sobre o passado de Lilith. E finalmente, depois de algumas ligações e alguns favores cobrados, consegui marcar um encontro com um dos antigos aliados do Barão, alguém que poderia saber mais do que estava disposto a contar.

Nos encontramos em um bar decadente na zona norte, um lugar que só de entrar já fazia você se sentir sujo. Mas era ali que as verdades se escondiam, no meio da escuridão.

— Você é o PH, certo? — o homem perguntou, olhando para mim com desconfiança enquanto acendia um cigarro.

— Sou eu mesmo. E você é o cara que vai me dizer tudo o que sabe sobre Lili.— respondi, direto, sem rodeios.

Ele riu, soltando a fumaça em direção ao teto. — A filha do Corvo, não é? Ah, ela sempre foi especial, desde que era criança. O Barão a tratava como uma princesa, mas ela nunca soube a verdade, nunca soube de onde veio de verdade… até agora, imagino.

— Como assim? — minha curiosidade cresceu, e eu me inclinei para frente.

— Depois que Antonella, sua mãe, deixou o morro, o Barão nunca mais quis saber de nada que envolvia o território do seu pai. Antonella havia feito uma escolha, e ele simplesmente aceitou. Mas tudo mudou na vida do Barão quando Lili foi deixada, embrulhada em cobertas, na frente do morro, em uma fria manhã no Rio de Janeiro. Seu pai, o Corvo, estava fora de si, mais drogado do que os viciados da boca.

O Barão, no entanto, a pegou como se fosse sangue do seu sangue. Ele abriu mão de viver no morro para garantir que aquela criança tivesse as melhores condições de vida. Lili cresceu com tudo do bom e do melhor, mas sempre com uma sombra no olhar. Ela sabia, no fundo, que algo estava errado, que faltava uma peça importante. E o Barão… bom, ele nunca contou a verdade. Ele a treinou, moldou-a para ser forte, para ser uma líder, mas nunca a preparou para a dor que viria quando ela descobrisse quem realmente era.

Senti um nó na garganta ao imaginar o que ela passou. Não era só o abandono; era toda uma vida baseada em uma mentira. Lili viveu em uma gaiola dourada, e agora que descobriu a verdade, estava disposta a queimar tudo para recuperar o que foi negado a ela.

— E sobre o Corvo? — perguntei, tentando entender onde meu pai se encaixava em toda essa história.

— Ah, ele… ele fugiu. A morte de Antonella o destruiu, e ele se perdeu nas drogas. Largou a menina para morrer no morro, mas o Barão a salvou. O que o Corvo nunca soube foi que ela sobreviveu. Lili se tornou a advogada mais foda deste país, conhecida como a ‘Advogada do Diabo’ ou a ‘Montadora de Monstros’. Ela não tem piedade. Para ela, bandido bom é bandido preso. Agora, para assumir o morro, ela terá que abdicar da vida que escolheu para si. Mas não se engane, ela é mais forte do que qualquer um de vocês pode imaginar. Eu sei que ela errou ao confrontar seu pai no morro, Terror, mas quem pode culpá-la, não é?

— Não posso culpá-la, mas também não posso ignorar o que isso significa para todos nós. — Falei, tentando processar tudo. A revelação de que eu tinha uma irmã, criada para ser uma líder, uma inimiga em potencial, era demais para absorver. Eu sempre soube que a vida que escolhemos cobra um preço alto, mas isso... isso era algo que ninguém poderia prever.

Olhei para o homem à minha frente, um dos poucos em quem ainda podia confiar. Ele sempre foi leal ao Barão, e agora era leal a Lili, mesmo sabendo o que isso poderia significar para a facção.

— O que o Barão realmente queria com isso? — perguntei, sentindo a urgência de entender o plano por trás de tudo. — Ele sabia que isso ia estourar algum dia.

— O Barão era um homem estratégico. Ele sabia que um dia a verdade viria à tona, mas acreditava que Lili estaria pronta para assumir o comando, para continuar seu legado. Ele a criou para ser a líder que ele nunca pôde ser, livre das correntes que o prendiam ao passado. Mas o que ele talvez não tenha previsto é o conflito que isso geraria entre vocês. Ele achava que o sangue falaria mais alto, que vocês se uniriam contra um inimigo comum. Mas o orgulho... o orgulho é um veneno que contamina tudo.

As palavras dele ressoaram em mim. Ele estava certo. O orgulho, a necessidade de provar quem eu sou, de proteger o que conquistei, tudo isso estava me cegando. Lili não era apenas uma ameaça; ela era minha irmã, alguém que foi jogada em uma vida que não escolheu, moldada por mentiras e traições.

Mas como eu poderia simplesmente aceitar isso? Como poderia permitir que alguém que eu mal conhecia, mesmo sendo minha irmã, tomasse o controle do que eu lutei para conquistar?

— Você acha que ela vai conseguir? — perguntei, mais para mim mesmo do que para ele.

— Ela já está conseguindo, PH. — respondeu ele, com uma calma que me irritava. — Ela não precisa de aprovação para ser o que é. Ela vai continuar, com ou sem o seu apoio. E se você decidir ficar no caminho dela, terá que estar preparado para enfrentar algo que nunca enfrentou antes: uma guerra familiar.

Essas palavras me atingiram como um soco no estômago. Eu sabia que ele estava certo, mas aceitar isso era outra história. A lealdade à facção, ao que construímos, sempre foi inquestionável. Mas agora, a lealdade ao sangue, à família, estava colocando tudo em xeque.

Eu sabia que tinha uma decisão a tomar, mas não estava pronto para isso. Não ainda.

— Preciso de tempo. — murmurei, mais para mim mesmo do que para ele.

— O tempo é um luxo que você não tem. — Ele respondeu, antes de se levantar e me deixar sozinho com meus pensamentos.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Eu estava preso entre o que era certo e o que era necessário, entre o que devia ao meu sangue e o que devia ao meu legado.

Enquanto observava a porta pela qual ele saiu, uma coisa ficou clara: Lili não era apenas uma jogadora nesse jogo. Ela era a peça que poderia virar o tabuleiro inteiro. E eu precisava decidir se ia jogar ao lado dela, ou contra ela.

Eu sabia que a escolha que eu fizesse não afetaria apenas meu futuro, mas o futuro de todos nós.

E a verdade é que, no fundo, eu não sabia se estava pronto para pagar o preço dessa escolha.

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