Barqueiro

Enquanto o grupo avançava pelo labirinto, a atmosfera tornava-se mais pesada a cada passo. As paredes pareciam se encurtar, e o eco dos passos reverberava como se o próprio labirinto estivesse atento a cada pensamento e movimento deles. Finalmente, chegaram a um ponto onde o corredor se alargava, revelando um cenário inusitado.

Diante deles, um rio largo e turvo se estendia, cortando o caminho. Na margem oposta, um homem de aparência enigmática aguardava, envolto em uma névoa sutil. Ele parecia um barqueiro, com uma pequena embarcação amarrada à margem. Suas vestes eram simples, mas seus olhos brilhavam com um conhecimento profundo, como se tivesse visto muitas almas passarem por ali.

— Bem-vindos ao meu domínio — disse ele, sua voz ressoando como um eco distante. — Eu sou o Barqueiro das Verdades. Para cruzar este rio, devem pagar o preço com uma palavra que represente o seu segredo mais profundo.

Os olhos do grupo se encontraram, e a tensão pairava no ar. Arathia, com seu ar soberano, foi a primeira a quebrar o silêncio.

— Vingança — declarou ela, sua voz firme e decidida.

As palavras dela pairaram no ar como um feitiço, e o barqueiro assentiu, seu olhar penetrante avaliando o significado daquela palavra. Todos ficaram surpresos, especialmente Alexandre e Cristian, que trocavam olhares curiosos.

— Fraqueza — disse Alexandre, decidido, enquanto a tensão entre ele e Arathia se intensificava, como se cada um estivesse medindo a força do outro.

Cristian seguiu, após uma breve pausa. — Busca.

Com os segredos agora revelados, o barqueiro olhou para Elisa, que hesitava em se manifestar. A pressão aumentava, e o silêncio se tornou opressivo.

— E você, jovem? Qual é o seu preço? — perguntou o barqueiro, sua voz suave, mas insistente.

Elisa sentiu o olhar de todos sobre ela, especialmente o de Arathia, que aguardava sua resposta com um leve sorriso nos lábios, como se soubesse que ela hesitaria. A mente de Elisa girava, repleta de pensamentos confusos e medos.

— Eu… — começou, sua voz trêmula. O barqueiro a encarava, esperando. Ela engoliu em seco. — Egoísmo.

A palavra saiu, e um silêncio ensurdecedor se instalou. O barqueiro sorriu, um sorriso que misturava compaixão e compreensão.

— Muito bem — disse ele, acenando com a cabeça enquanto se dirigia à embarcação. — Subam, e cruzaremos este rio de lágrimas.

Todos se acomodaram na pequena embarcação, a madeira rangendo sob o peso deles. O barqueiro começou a remar, cada golpe de remo fazendo o barco deslizar suavemente sobre a superfície do rio. As águas eram escuras, e o reflexo de cada um no rio era distorcido, como se os segredos que haviam revelado estivessem se contorcendo e se transformando em algo mais.

— A travessia não é só física — alertou o barqueiro, olhando por cima do ombro. — Cada palavra que vocês escolheram carrega um peso. O rio vai se lembrar dessas verdades, e pode haver consequências.

Arathia, impassível, observava a paisagem passar, mas Cristian sentiu que havia algo mais sobre a relação entre o barqueiro e Arathia, como se houvesse uma história não contada entre eles.

Enquanto o barco seguia, Elisa olhou para o rio, pensando sobre suas palavras. “Egoísmo.” O peso dessa palavra a assolava. Seria ela realmente egoísta por querer proteger seu segredo?

Atravessando o rio, a tensão entre o grupo era palpável. Arathia parecia estar em sintonia com o labirinto, enquanto Cristian observava Arathia com uma curiosidade crescente. Alexandre, por sua vez, estava absorto em seus próprios pensamentos, percebendo que cada um deles trazia um fardo diferente para essa jornada.

Ao final da travessia, o barqueiro encostou o barco na margem oposta, onde a terra parecia mais firme. Ele se voltou para eles, os olhos iluminados com um brilho misterioso.

— A travessia foi feita. Agora, o verdadeiro teste da montanha começará. Preparem-se para enfrentar não apenas os monstros que habitam aqui, mas os próprios monstros dentro de vocês.

Com isso, ele se afastou, e o grupo desembarcou, sentindo o impacto das palavras do barqueiro. A jornada apenas começava, e cada um deles sabia que os desafios à frente seriam muito mais profundos do que qualquer batalha física.

Arathia olhou para o caminho que se estendia à frente, um labirinto mais denso e opressivo do que antes. O rio de lágrimas ficaria para trás, mas os segredos que revelaram ainda os acompanhariam.

Com um último olhar para o barqueiro que os observava partir, eles avançaram, prontos para enfrentar o desconhecido que aguardava na escuridão do labirinto.

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