Farpas

Alexandre parou em frente à porta dos aposentos de Arathia, hesitando por um breve momento. Ele bateu suavemente, mas não teve que esperar muito. A porta se abriu lentamente, e Arathia surgiu, vestida em um vestido de seda que parecia ter sido moldado pelos próprios deuses. O tecido leve abraçava suas curvas de maneira elegante, e o brilho suave do ouro nas bordas do vestido fazia com que seus olhos faiscassem como fogo. Alexandre, por um instante, perdeu a fala. Seus olhos ficaram presos à figura dela, incapazes de desviar.

— Está tudo bem, "grande herói"? — Arathia disse com um sorriso irônico, claramente se divertindo com o embaraço dele.

Alexandre, ainda tentando recuperar sua compostura, balançou a cabeça, sem saber ao certo como responder. Era raro que ele ficasse tão desarmado, especialmente na presença de uma mulher. Ele sabia que Arathia estava jogando com ele, como sempre fazia, mas a tensão entre os dois só parecia aumentar a cada encontro.

— Não sabia que eu deveria buscar você pessoalmente. O rei... — começou ele, tentando desviar a conversa.

— Não o culpo — disse Arathia, rindo baixinho. — Não espero que alguém de Grisales entenda nossos costumes tão rapidamente. Mas você terá que aprender, Alexandre. Aqui, a anfitriã sempre acompanha o anfitrião na festa. Ou você acha que pode cumprir seu dever sozinho? — A provocação estava clara em seu tom, e o brilho em seus olhos só fazia aumentar a tensão entre eles.

— Acho que posso lidar com isso — respondeu ele, tentando se manter firme, mas o tom suave e o olhar penetrante de Arathia dificultavam sua concentração.

Os dois ficaram ali, em silêncio por um momento, apenas se encarando. A atmosfera entre eles estava carregada, como se algo estivesse prestes a explodir. Arathia se aproximou um pouco mais, e Alexandre sentiu o calor de sua presença.

— Não me diga que o grande herói está nervoso — provocou ela, seus lábios curvando-se em um sorriso enigmático.

Antes que Alexandre pudesse responder, o som de passos rápidos ecoou pelo corredor. Elisa apareceu, seu rosto tenso de ciúme e raiva ao perceber a proximidade entre os dois. Ela havia descoberto que Alexandre estava nos aposentos de Arathia e, impulsionada pela angústia, foi atrás dele.

— Alexandre! — Ela exclamou, interrompendo bruscamente o momento. Seus olhos lançaram um olhar fulminante para Arathia antes de se voltar para o marido. — O que você está fazendo aqui? Esqueceu que é casado?

Arathia, sem se abalar, apenas levantou uma sobrancelha, um sorriso irônico dançando em seus lábios.

— Casado? Ah, é claro. Um detalhe tão pequeno, não é? — Sua voz estava carregada de sarcasmo, e ela parecia estar se divertindo com a situação. — Não se preocupe, Elisa. Sei muito bem onde estão meus limites. A questão é... será que você sabe? — O olhar dela era cheio de intenções ocultas, e, por um breve momento, seus olhos brilharam com algo que Elisa não gostou nem um pouco.

Elisa se encolheu por dentro. O medo de que Arathia soubesse mais do que deveria começou a crescer dentro dela. Ela sabia que a oráculo era muito mais astuta do que parecia e temia que, em algum momento, ela revelasse para Alexandre não apenas o feitiço de amor que o mantinha preso a Elisa, mas também o segredo ainda mais profundo que ela vinha escondendo dele.

— Não ouse... — começou Elisa, sua voz falhando um pouco.

Arathia deu um passo à frente, seu sorriso agora afiado como uma lâmina.

— Não ouse o quê, Elisa? — Sua voz era sedutora, mas havia uma ameaça sutil nela. — Talvez você deva se preocupar menos comigo e mais com... seus próprios feitiços.

Alexandre, confuso, observava a troca entre as duas mulheres, tentando entender o subtexto. Algo estava errado, ele podia sentir. Arathia parecia saber de algo que ele desconhecia, e Elisa estava claramente desconfortável com isso.

— O que está acontecendo aqui? — Alexandre finalmente interveio, sua voz séria, mas os olhos fixos em Elisa, tentando buscar alguma explicação.

Elisa desviou o olhar, seu coração batendo forte no peito. Ela sabia que estava por um fio. Se Arathia decidisse contar a verdade para Alexandre, tudo poderia acabar. Mas, para sua surpresa, Arathia apenas sorriu de forma enigmática e deu de ombros.

— Nada que você deva se preocupar, "grande herói". Apenas... um mal-entendido entre mulheres. — A oráculo virou-se, sua postura ainda confiante, e começou a caminhar em direção ao salão onde ocorreria a festa, deixando Elisa e Alexandre sozinhos.

Elisa soltou um suspiro de alívio, mas a tensão ainda pairava no ar. Alexandre estava mais desconfiado do que nunca, e ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, a verdade viria à tona. O medo de perder o controle sobre ele a dominava, mas, por enquanto, tudo o que podia fazer era fingir que nada estava errado.

Enquanto os dois seguiam para o salão atrás de Arathia, Elisa não conseguia tirar os olhos de Alexandre. O olhar dele estava distante, e ela sabia que havia perdido algo naquele momento, algo que talvez nunca recuperasse.

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