Será Mesmo a Vilã
Senhora Elisa, sua gravidez foi amaldiçoada — disse o Oráculo da igreja — a deusa da fúria e vingança fez isso. Enquanto falava, sentava-se na cadeira com uma expressão impressionante e aterrorizante.
O que isso significa? — disse Elisa, com um medo absurdo. Esse bebê era sua esperança para que seu marido não a deixasse. Por mais que tivesse o dom da persuasão, ele sempre falava em ter filhos com outra mulher. Anda, Oráculo, diga-me! — disse desesperada.
Não há muito a ser dito, maldições são absolutas. Seu filho morrerá depois de um ano, quando nascer — completou o Oráculo, mesmo sabendo que o falecimento do bebê poderia ocorrer até antes.
Elisa sabia que não havia como discutir. Os oráculos eram a mais alta patente dos magos da igreja, abaixo apenas dos Sábios. Ela entendia que, se o Oráculo afirmava que sua gravidez estava amaldiçoada, era verdade. Mas por que? Essa era sua pergunta.
Ela nunca havia ofendido a deusa da fúria e vingança, Susani, que os magos consideravam a mais poderosa deusa, por não ser piedosa. Por mais que não entendesse, não poderia ficar sem agir. Essa gravidez era esperada para que seu marido olhasse para ela novamente.
Com seu estado atual e pouca mana para fazer magia do amor, era sua única oportunidade de salvar o casamento, que estava se despedaçando por sua falta de poder. O seu marido, o Grande Herói do Reino, não era mais realmente seu; ele olhava e desejava outras em sua mente. Era até clichê querer segurá-lo dessa maneira, mas era uma solução que fazia sentido para ela. Foi então que teve uma ideia — uma ideia perversa, mas que poderia funcionar.
E se eu trocasse o aborto? — disse Elisa, ofegante. O que sugeria era uma magia banida, profana e absurda; o que ela queria era quase como a magia de reviver, com um preço ainda mais alto.
O Oráculo a encarou como se tivesse visto um fantasma, não por ela ter mencionado o nome de uma das magias mais sombrias que existiam, mas por ela conhecer tal magia.
A magia que ela sugeria era trocar seu aborto espontâneo, que já tivera, pela vida que estava em seu ventre — ou seja, um aborto por uma vida já condenada pela deusa. Era essa a sua sugestão. O Oráculo abriu e fechou a boca, tentando falar, mas nem ele conseguiu. Era uma sugestão profana e sádica.
Tem noção do que sugeriu? Eu poderia matar você agora mesmo por tamanha ousadia! — O Oráculo estava muito bravo. Isso é profano e também proibido. Me admira que uma dona de casa saiba de tal feitiço. Eu mesmo demorei séculos para saber disso. Uma dona de casa que quase não usa magia é muito suspeito! — completou o Oráculo.
Mal sabia ele que quem estava à sua frente não era uma simples dona de casa, mas uma maga suprema, a maga do chapéu prateado, Elisangela, que lutara lado a lado com o Grande Herói do Reino, Alexandre, que também era seu marido. Mas ninguém sabia disso e, claro, seu rebaixamento era do conhecimento apenas do rei e de seu marido, Alexandre, depois que se casou para engravidar.
É possível ou não? — ela não queria sarcasmo, mas sim soluções e respostas. Por mais que tivesse experiência, não sabia muito sobre maldições; estava no escuro sobre esse assunto.
Sua magia principal era escudo e persuasão — duas magias que, em combate, eram perfeitas. Ela poderia proteger quem fosse ou esmagar com seu escudo, e sua persuasão colocaria qualquer um que fosse contra sua opinião a seu favor, ou sempre ganharia suas discussões conjugais.
Não — o Oráculo respondeu de imediato. Ele já havia falado que "absoluta" significa sem brechas ou escapatória, sem alternativas. Senhora Elisa, eu vou repetir. Ele fez uma pausa, fechou e abriu os olhos e, com convicção, disse as palavras: Uma deusa te amaldiçoou. Você não foi simplesmente enfeitiçada; significa que sua vida foi condenada. Ele disse sílaba por sílaba para que ela escutasse com atenção, e cada palavra era uma facada em seu peito, deixando-a sem ar.
Lágrimas começaram a brotar de seus olhos. Ela compreendeu que era sua ruína; seu futuro estava desmoronando. Não pode ser, eu fiz de tudo pela deusa, e ela me trata assim? Ela vai me tirar o que eu queria por anos! Seus berros foram tão altos que ecoaram pela igreja. Seu choro estava tão descontrolado que o Oráculo se viu obrigado a lançar um feitiço do sono para acalmá-la.
Diur! — o Oráculo disse, lançando o feitiço. No mesmo instante, Elisa adormeceu, caindo nos braços do Oráculo. Criança tola, só agora entendeu a gravidade da sua situação — disse o Oráculo enquanto arrumava a cabeça de Elisa para que ela não se machucasse. Lucas! — berrou o Oráculo para seu assistente que esperava do lado de fora.
Sim, mestre — disse seu assistente.
Leve a senhora Elisa para casa e avise seu marido, o Grande Herói Alexandre, para depois vir me ver. Diga os fatos dos acontecimentos de hoje, mas não mencione que sua esposa sugeriu o feitiço proibido. — Disse o Oráculo, olhando seu subordinado com frieza. Ele não sabia o que fazer; os costumes mandavam matar se a pessoa pensasse em um feitiço desse tipo, imagine então dizer isso em voz alta e ainda mais para o Oráculo da igreja. Seu desespero deveria ser muito para fazer isso.
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Atualizado até capítulo 71
Comments
Saionara Alves de Melo
se alguém me dissesse que o meu bebê iria morrer eu entraria em desespero e pensaria em uma solução alternativa Mesmo que tivesse uma chance bem pequena de salvá-lo eu tentaria qual mãe não faria o mesmo pelo seu filho ela tentaria tudo o que fosse possível mesmo se não funcionasse Isso se chama amor materno
2024-10-06
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