Quando chegou em casa, os criados já estavam na porta, esperando-o como de costume.
— Bem-vindo de volta, senhor — todos falaram em coro, com a cabeça abaixada.
— Cadê a Elisa? — disse Alexandre, sempre direto com as palavras.
— No quarto, senhor. Ela ainda está dormindo. O senhor Lucas trouxe-a e disse que ela estava muito estressada e que o efeito do sono logo passaria. Pediu para deixá-la descansar — disse seu mordomo e empregado mais fiel, Marcos.
— Vou vê-la — disse Alexandre, já andando em direção ao quarto de Elisa.
No quarto de Elisa
Elisa abriu os olhos, como se tivesse tirado um cochilo matinal. Ainda deitada, olhou para a janela e, sem esperanças, começou a chorar. Ela sabia que seu filho ia morrer, ela ia morrer, Alexandre ia morrer; não havia esperanças. O que mais ela poderia fazer? A deusa a castigou; demorou, mas finalmente seu castigo veio.
Ela levantou-se relutante e abriu a última gaveta de sua escrivaninha. Estava vazia — ou, pelo menos, era o que aparentava.
— Revele — disse Elisa, fazendo um encantamento que revelou uma caixa pequena de madeira. Ali estava o seu segredo obscuro, ou pelo menos a representação dele. De repente, ouviu um barulho na porta. Quando desviou a atenção, logo viu seu marido em pé, com uma expressão indescritível.
— Já te disse para se livrar dessa caixa ou deixá-la longe de mim — disse Alexandre, com raiva, mas também não se atrevendo a se aproximar. — Depois que você parar de brincar com isso, venha me ver. Estarei na sala. Não demore, e se livre da caixa pela última vez — disse Alexandre, batendo a porta como se fugisse de um fantasma. Era aí que estava o seu segredo; naquela caixa, seu maior fantasma o assombrava.
Elisa colocou a caixa na gaveta, fazendo-a desaparecer novamente e deixando a gaveta vazia mais uma vez. Então, disse: — Nem tudo é o que parece. Ela disse isso com um sorriso triste, sabendo que seu marido era o homem mais forte do reino, mas sua reação não era raiva, mas medo. Assim como a caixa sumiu, colocando-a na gaveta, era a raiva de seu marido maquiando seu medo — medo que ela também tinha.
Ela começou a se aprontar para encontrar Alexandre. Quando desceu as escadas, logo o viu com um charuto na boca e um uísque na mão. Ela sabia que, depois de tudo o que conhecera, naquele dia ele não parou de beber.
— São só duas horas da tarde — disse Elisa, mesmo sabendo que ele não daria a mínima. — O que queria me falar, tão urgente? — disse Elisa, cruzando os braços, sabendo que só poderia ser sobre a maldição. E se não fosse, ela ficaria irritada de verdade.
— O Oráculo confirmou que é um ninho — disse Alexandre, olhando para Elisa sem expressão. Ela arregalou os olhos com o que ouviu. Sabia que era grave, mas não sabia que era tanto assim, afetando até seus familiares.
— Tem certeza? — disse Elisa, incrédula com o que acabara de escutar. — É nossa ruína.
— Não — disse Alexandre, levantando-se para pegar mais uísque. — O Oráculo tem uma solução, mas... Ele parou e olhou para Elisa. — Ele também sabe do seu segredo, Elisa. Não sei como, mas ele sabe. Por mais que eu suje as minhas mãos para enterrar isso diversas vezes, uma pessoa sobrou.
— Você não disse que estava tudo certo, que tinha resolvido, que quem sabia já estava morto? — disse Elisa, ofegante, como se tivesse corrido uma maratona. O segredo — aquilo que corroía sua consciência — viria à tona de novo. — Você também tem culpa, Alexandre — disse ela, desesperada, com tom de ameaça.
— Eu já sei — berrou Alexandre. — Isso já faz sete anos, sete! E todo dia eu lamento por ter te ajudado. Você me persuadiu, me usou como um fantoche. Você disse que nunca usaria seu poder assim, para suas necessidades, mas não, você tinha que ir além, usar sua magia da persuasão para eu limpar sua bagunça. Elisa, eu nunca vou te perdoar.
Lágrimas surgiram nos olhos de Elisa. Aquilo realmente doía, porque ele tinha razão: ela foi egoísta, mesquinha na época. Mas era a única maneira que ela havia pensado para resolver seu problema: colocar seu marido no meio. Ele era a melhor opção para ela, mas ele não quis ajudar quando ela pediu, então ela o obrigou.
— Você me culpa, mas se não fosse por mim, nem Herói você teria se tornado. Alexandre, pode falar que eu sou um monstro, mas foi graças ao que eu fiz que você matou a serpente hidra e se tornou o herói do Reino de Grisales — gritou Elisa, cuspindo cada palavra.
— Já chega! — gritou Alexandre, jogando o corpo da mão no chão e fazendo seu berro ecoar pela casa. — Já te disse que nunca mais quero tocar nesse assunto — disse ele, com os olhos gélidos para Elisa.
Ela sabia que estava pisando em ovos. Desde os acontecimentos há sete anos, Alexandre não era o mesmo. Mas ela não podia mudar o passado, mas podia controlar seu futuro.
— E então, o Oráculo falou algo mais? — perguntou Elisa, tentando mudar de assunto.
— Nada muito direto. Deu a entender que ele tem uma solução para nós. Ele disse para encontrá-lo depois que eu falasse com você — disse Alexandre, pegando outro copo para se servir de novo.
— E o que faremos? — disse Elisa, dando uma pausa. — Ele sabe — completou.
— Ele não vai fazer nada. Por ironia, esse assunto é muito até para ele; não envolve só nós, mas também o reino — disse Alexandre, dando um gole no drink que acabara de servir.
— Certo, e quando vamos? — disse Elisa, sentando-se na frente de Alexandre.
— Daqui a quatro dias. Eu tenho uma exploração na Floresta Ina amanhã. Estão aparecendo monstros de classificação A e S; tenho que descobrir o porquê e não sei se isso vai demorar — disse Alexandre, levantando-se para guardar seu copo já vazio.
— Ok — disse Elisa, para não alongar muito a conversa.
— Elisa, eu não te odeio, acredite, mas é hora de encarar os fatos — disse Alexandre, tomando o rumo das escadas para ir ao seu próprio quarto. — Tudo tem consequências.
Elisa sabia, e como sabia. A maldição da deusa era uma delas; a outra era o amor da sua vida nunca perdoá-la.
— Eu sei — disse ela, com a voz triste, levantando-se da cadeira para ir ao jardim.
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Atualizado até capítulo 71
Comments
Arisu75
Rindo com esses diálogos.
2024-09-27
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