A Montanha

Cristian caminhava pelos corredores silenciosos do palácio, ainda refletindo sobre os eventos da festa. Ele estava prestes a retornar para seus aposentos quando avistou uma cena que o paralisou. Do outro lado do vasto salão, Arathia estava de pé, em frente ao rei Valenor, com uma postura ereta e imponente. Havia algo diferente nela agora; a leveza e a provocação de antes tinham desaparecido, e no lugar disso, surgiu uma figura fria, quase imperial.

Cristian se esgueirou por uma coluna, observando de longe. O que viu o deixou atordoado. O rei Valenor, o mesmo homem de humor ácido e controle do reino, parecia... submisso a Arathia. Ela falava em tom autoritário, enquanto o rei evitava seu olhar, como se cada palavra dela fosse uma ordem inquestionável.

— Você deve revelar a localização do livro — Arathia ordenou, a voz como uma lâmina afiada. — Eles precisam saber o que estão enfrentando, ou perecerão antes de chegar à montanha.

Valenor vacilou, e seus ombros caíram como se o peso do mundo estivesse sobre ele. Seu olhar, outrora firme, desviou para o chão.

— Mas a Grande Montanha Enfeitiçada... — murmurou ele. — A Provação da Verdade os destruirá. Ninguém escapa ileso dos segredos que a montanha expõe.

Arathia inclinou a cabeça, os olhos afiados e frios. Cristian quase podia sentir a autoridade que emanava dela, como se o próprio palácio se curvasse à sua presença.

— Isso não é da sua conta — retrucou ela, firme. — A Provação é inevitável. Eles devem ser testados, ou jamais alcançarão o livro. Se não forem fortes o suficiente para lidar com seus próprios demônios, então não merecem ter em mãos o poder que buscam.

Cristian apertou os punhos. Arathia era mais do que uma simples oráculo. Ela estava no comando, manipulando todos os fios daquele jogo. Ele mal conseguiu esperar para contar a Alexandre e Elisa o que havia descoberto.

Cristian irrompeu pelos aposentos de Alexandre e Elisa, sem sequer bater. Os dois estavam em meio a uma discussão, a tensão no ar quase palpável. Alexandre, de pé junto à janela, virou-se de imediato ao ver o amigo entrar de forma tão abrupta.

— O que aconteceu? — Alexandre perguntou, notando a expressão séria de Cristian.

Cristian respirou fundo.

— O livro está na Grande Montanha Enfeitiçada — revelou ele. — Eu ouvi Arathia dizer isso ao rei. Mas há uma provação que teremos que enfrentar... A Provação da Verdade. Ela expõe todos os nossos segredos, tudo o que escondemos até de nós mesmos.

Elisa deu um passo para trás, o rosto pálido. Ela sabia que esse momento chegaria, mas ainda assim, a notícia a atingiu como uma onda fria. Cristian notou o olhar inquieto dela. Algo não estava certo.

— E tem mais uma coisa — continuou ele. — Arathia vai nos acompanhar. Ela será nossa guia na montanha.

Elisa bufou, cruzando os braços com força, seu olhar faiscando de fúria.

— Arathia? — disse ela, quase cuspindo o nome. — Essa mulher acha que pode nos controlar? Não precisamos dela para chegar ao livro!

Cristian sacudiu a cabeça.

— Precisamos sim. Ela conhece o caminho e, mais importante, sabe como sobreviver à provação. Não podemos arriscar nos perder ou ser destruídos por nossos próprios segredos. Ela é nossa única chance de chegar ao fim.

Alexandre assentiu, embora a ideia de seguir sob o comando de Arathia também não lhe fosse agradável. Mesmo assim, ele sabia que não tinham outra opção.

— Partimos ao amanhecer — disse ele, olhando para Elisa. — Você tem que confiar que estamos fazendo o que é necessário.

Elisa olhou para o chão, seus lábios tremendo de raiva e frustração, mas ela nada respondeu. Sabia que Alexandre estava certo, mas a ideia de ter Arathia por perto a corroía por dentro. Ainda mais após os eventos na festa, a presença daquela mulher soberana e inabalável a deixava cada vez mais ansiosa.

No grande salão do trono, o rei Valenor os aguardava com uma expressão carregada. Ele estava claramente desconfortável, mas, ao lado dele, Arathia mantinha sua postura firme, como uma sombra imponente. O ar ao redor dela parecia congelar, e sua presença era sufocante. Seus olhos estavam fixos nos três à sua frente, impassíveis, como se já soubesse o resultado de toda aquela empreitada.

— O livro que vocês buscam está na Grande Montanha Enfeitiçada — disse Valenor, hesitante. — A jornada é longa, e a provação que os aguarda é cruel. A montanha não revela apenas a verdade, mas os confronta com seus maiores segredos, aqueles que tentam esconder até de si mesmos. Nenhum de vocês sairá de lá sem enfrentar sua própria escuridão.

Alexandre assentiu, determinado.

— Estamos prontos.

Arathia deu um passo à frente, sua voz cortante como o vento frio da montanha.

— Eu os guiarei — disse ela. — Conheço o caminho e, mais importante, sei como sobreviver à Provação. Sem mim, vocês estarão à mercê de um destino que não podem controlar.

Elisa, ao lado de Alexandre, lutava para manter a calma, mas cada palavra de Arathia soava como um insulto. Aquela mulher não apenas os guiaria, mas parecia se regozijar com a ideia de vê-los sofrer nas mãos da montanha.

Cristian observava tudo em silêncio, seus olhos nunca deixando Arathia. Agora ele sabia que ela não era uma mera figura no reino. Ela era o verdadeiro poder por trás do trono, e o rei, o homem que todos pensavam comandar Fênix, não passava de um peão sob sua soberania.

— Partiremos ao amanhecer — anunciou Arathia, seus olhos percorrendo o trio. — Estejam prontos para enfrentar mais do que monstros ou feitiços. A montanha revelará o que vocês temem admitir. Sejam fortes... ou pereçam.

Elisa cerrou os dentes. A presença de Arathia ao lado de Alexandre a deixava em chamas. Sabia que a Provação da Verdade não seria apenas sobre monstros e perigos. Havia muito mais em jogo, e os segredos que ela escondia poderiam ser expostos de uma maneira que ela temia profundamente.

Enquanto saíam do salão, a fúria de Elisa ardia como nunca. E Arathia, com sua expressão inabalável, parecia já saber tudo. Como se o destino estivesse em suas mãos desde o início.

O que realmente aguardava na montanha era um mistério, mas uma coisa era certa: Arathia não era apenas uma guia. Ela era a sombra soberana sobre todos eles, e Elisa sentia que sua presença representava uma ameaça maior do que qualquer feitiço ou provação.

A jornada estava prestes a começar, e com ela, os segredos mais obscuros também.

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