Mais segredos

No início da manhã seguinte, o grupo seguia viagem. O ar fresco das montanhas preenchia os pulmões de todos, e o sol mal iluminava o caminho rochoso. Arathia caminhava à frente, com sua postura imponente e calma. Elisa estava mais silenciosa do que o normal, o que não passou despercebido por Arathia.

— Elisa — começou Arathia, sem olhar para ela diretamente. — Por que você estava tão fraca na luta de ontem? Você mal conseguiu lançar um feitiço contra o dragão.

Elisa sentiu o olhar afiado de Arathia sobre ela, e um desconforto cresceu em seu peito. Ela hesitou por um momento, depois tentou responder com um desvio, mexendo em sua capa para evitar o contato visual.

— Eu… estou com dificuldades por causa da gravidez — respondeu Elisa, tentando fazer sua voz soar firme.

Arathia parou, virando-se lentamente para encará-la. Seus olhos eram inexpressivos, mas havia um brilho de desconfiança.

— Gravidez? — Arathia ergueu uma sobrancelha, seu tom claramente cético. — Interessante. Mas você deveria saber que esconder as coisas não vai te ajudar muito, especialmente porque estão indo para a montanha enfeitiçada. Lá, os segredos têm uma forma cruel de se revelarem.

Elisa congelou, o desconforto se transformando em uma tensão palpável. Ela sabia que Arathia desconfiava de algo, mas não tinha como admitir seus verdadeiros receios. Sentindo o clima pesado entre as duas, Alexandre, que caminhava logo atrás, percebeu a tensão crescente.

— Está tudo bem aqui? — ele perguntou, aproximando-se para ficar ao lado de Elisa. Seu olhar era protetor, preocupado com o estado da esposa.

Arathia deu um leve sorriso, mas havia um toque de sarcasmo em seu olhar.

— Se eu fosse você, Alexandre, manteria os olhos bem abertos. Especialmente quando se trata de pessoas próximas — disse ela, antes de seguir seu caminho, deixando Alexandre ainda mais confuso.

Cristian, que observava tudo com atenção, se aproximou de Arathia enquanto caminhavam. Ele vinha ponderando sobre a força e habilidade que ela havia demonstrado. Decidiu finalmente quebrar o silêncio.

— Arathia, como você é tão forte? Nunca vi ninguém lutar como você. — Sua voz era direta, mas cheia de curiosidade.

Arathia não respondeu de imediato. Ela continuou andando, como se estivesse refletindo sobre a pergunta, ou talvez apenas decidindo se queria respondê-la. Cristian franziu a testa, claramente insatisfeito com o silêncio dela, mas sabia que forçar uma resposta não traria resultados.

Alguns metros à frente, Alexandre, também intrigado, decidiu tentar a mesma abordagem.

— Arathia, Cristian tem razão. Sua força é extraordinária. Como você adquiriu tanto poder? — perguntou ele, seu tom era respeitoso, mas com uma curiosidade evidente.

Desta vez, Arathia parou e virou-se para Alexandre. Seus olhos se encontraram, e por um momento, a tensão no ar se tornou quase palpável. Havia algo mais naquela troca de olhares. Arathia deu um leve sorriso, um daqueles que nunca revelam seus verdadeiros pensamentos, e respondeu, com uma voz que carregava uma mistura de mistério e provocação:

— Ah, Alexandre… nem todas as respostas devem ser dadas tão facilmente. Algumas coisas precisam ser descobertas no tempo certo. — Ela inclinou a cabeça, seus olhos brilhando de forma sedutora, aumentando a tensão entre eles.

O silêncio se estendeu por um momento, até que Arathia, com um pequeno aceno de cabeça, continuou a caminhar à frente, deixando Alexandre sem palavras e com o coração batendo mais rápido do que deveria.

Elisa observava tudo de longe, sua fúria interna crescendo. Ela sabia que Arathia jogava com sutilezas, e isso a deixava ainda mais inquieta. Algo em Arathia mexia não apenas com ela, mas com Alexandre também, e isso era algo que Elisa não podia ignorar.

Enquanto o grupo avançava, a sensação de que segredos estavam à beira de serem revelados pairava no ar, trazendo uma tensão constante entre eles. O caminho para a montanha enfeitiçada prometia ser mais desafiador do que eles imaginavam, e não apenas pelos monstros ou os perigos à espreita, mas pelos conflitos que cresciam entre eles.

A jornada seguia silenciosa após as provocações de Arathia, o grupo sentindo o peso da tensão crescente. Os passos deles ecoavam nas pedras irregulares da montanha enquanto avançavam. Subitamente, o chão começou a tremer, e antes que pudessem reagir, o solo sob seus pés se abriu em um enorme buraco.

— Cuidado! — gritou Alexandre, tentando agarrar Elisa, mas era tarde demais.

Todos caíram em uma queda vertiginosa, o vento rugindo ao redor enquanto desciam cada vez mais fundo na terra. O impacto foi forte, mas não fatal, e o grupo se viu em um vasto espaço subterrâneo. O lugar era imenso, com tochas alinhadas em intervalos regulares, iluminando um corredor longo que se estendia para além da vista. No centro, um caminho de pedra desgastada conduzia adiante, ladeado por um rio lento e silencioso. A água brilhava com uma luz estranha, quase fantasmagórica.

Arathia foi a primeira a se levantar, sua expressão inabalável, como se soubesse exatamente o que havia acontecido.

— Onde estamos? — perguntou Cristian, olhando ao redor com uma mistura de curiosidade e preocupação.

Arathia olhou para ele, seus olhos fixos nas sombras dançantes das tochas.

— A montanha começou a nos provar — disse ela, sua voz calma, quase fria. — Este labirinto é a primeira das provações. Um teste para aqueles que ousam desafiar seus segredos.

Elisa, ainda se recompondo da queda, levantou-se ao lado de Alexandre, que segurava sua mão com firmeza.

— E o que é esse rio? — perguntou Elisa, sua voz trêmula.

Arathia sorriu, um sorriso que não trazia consolo.

— Esse rio é formado pelas lágrimas de todos que tentaram alcançar o cume da montanha. Aqueles que falharam, aqueles cujos segredos os destruíram. Suas tristezas e desesperos encheram essas águas. E agora, nós faremos parte dessa história… se não formos fortes o suficiente.

O silêncio caiu sobre o grupo. A visão do rio, com suas águas refletindo o sofrimento de outros aventureiros, enchia o ar com uma sensação de desolação.

Cristian, sempre o mais analítico, observou as paredes do labirinto, buscando qualquer sinal de saída.

— Não é só um labirinto físico — ele murmurou. — Este lugar mexe com a mente, não é?

Arathia confirmou com um leve aceno de cabeça.

— O labirinto nos desafiará de formas que não podemos prever. Ele vai testar nossos medos mais profundos e as verdades que nos recusamos a enfrentar. Cada passo pode nos levar para mais perto de nossos segredos, e se não formos cuidadosos, poderemos nunca sair daqui.

Alexandre olhou para o corredor à frente, sua mente já processando o desafio. Ele sabia que a montanha não seria fácil, mas o fato de que teriam de enfrentar seus próprios segredos o deixou inquieto. Ele apertou a mão de Elisa, que olhava para o rio com uma expressão distante, como se estivesse perdida em seus próprios pensamentos.

— Precisamos seguir em frente — disse Alexandre, tentando manter sua voz firme. — Não podemos ficar parados aqui.

Arathia apenas observou, seus olhos escuros acompanhando o movimento de Elisa. Ela sabia que a esposa de Alexandre escondia algo, algo que poderia ser a ruína deles se fosse revelado no momento errado. Mas, por enquanto, ela manteve seus pensamentos para si.

— Cuidado com o que desejam encontrar neste caminho — Arathia disse, com uma ironia afiada em sua voz. — A montanha não tem misericórdia.

Com essa advertência pairando no ar, o grupo começou a seguir o caminho de pedra. As tochas ao redor lançavam sombras ameaçadoras nas paredes, e o som das águas correndo ao lado era como um sussurro constante, como se as almas aprisionadas no rio quisessem contar suas histórias de fracasso.

À medida que avançavam, a sensação de serem observados aumentava. O labirinto parecia vivo, mudando a cada curva e torção, como se reagisse à presença deles. Era impossível saber o que encontrariam a seguir, mas todos sabiam que cada passo os levaria mais fundo, tanto no labirinto quanto em si mesmos.

A jornada pela montanha havia começado de verdade, e as provações que aguardavam prometiam ser tão implacáveis quanto os segredos que cada um carregava.

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