CAPÍTULO 12

Fui direto para a minha sala e deixei nas mãos de Clarisse a decisão de voltar ou não para a Grenff, claro que ter mostrado a ela a biblioteca da casa do meu pai e fazer ela vir até aqui para ver a situação da empresa, contribuirá bastante para que faça a escolha correta.

[...]

A notícia chegou como um raio em céu claro: Clarisse estava de volta. Eu ouvi o burburinho crescendo nos corredores antes de alguém finalmente ter coragem de me contar. Por um momento, tudo ficou em suspenso. Clarisse. De volta.

A reação foi instantânea. Alívio. Talvez pela primeira vez em semanas, senti meus ombros relaxarem. Ela era a única pessoa que eu sabia que podia salvar essa empresa do colapso. Mas junto com o alívio veio o incômodo. Porque eu também sabia que ela não voltaria sem um motivo. E, provavelmente, não seria um motivo que eu gostasse.

Do meu escritório e pelas câmeras, vi tudo se desenrolar. Ela caminhou pela empresa com a confiança de quem nunca deveria ter saído dali. O chão de produção, que antes estava em caos com a greve, agora parecia um palco onde ela reinava. Não houve discussões, nem ameaças. Apenas Clarisse. E em minutos, os trabalhadores voltaram aos seus postos como se nada tivesse acontecido.

Eu deveria estar feliz, e por um breve momento, estava. Mas então a porta do meu escritório se abriu.

Clarisse entrou sem bater, como fez no dia em que entrou quase sacudindo a minha sala, com um olhar que parecia capaz de atravessar aço. Antes que eu pudesse sequer abrir a boca para agradecê-la, ela disparou:

— Não comece com as cortesias, Scott.

— Tudo bem. Mas você trouxe ordem. Isso já é algo.

— Não confunda ordem com solução. – A voz dela era cortante, e eu sabia que estava em apuros.

Sentei-me lentamente, tentando esconder o desconforto. Eu conhecia aquele tom, aquele olhar. Clarisse definitivamente, mesmo sendo mais nova, tem o talento de me fazer sentir um moleque sendo repreendido.

— Então, quer me dizer o que está errado? – perguntei, cruzando os braços, tentando manter o controle da conversa.

— Tudo está errado. – Ela caminhou até minha mesa, apoiando as mãos nela, inclinando-se para mim. – Acha que eu voltei para salvar sua pele?

Tentei responder, mas ela levantou a mão, me silenciando.

— Não. Voltei porque, apesar de você, ainda me importo com a Grenff. Mas se acha que vou ignorar os problemas, está muito enganado.

— Estou ouvindo. – Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.

E então veio a avalanche. Clarisse enumerou cada erro que eu havia cometido nos últimos dias. Cada decisão que ela julgava falha. E, honestamente, não era como se ela estivesse errada.

— Você parece não gostar de ouvir as pessoas, Scott. Você é do tipo que acha que sabe mais. E agora temos funcionários insatisfeitos, uma empresa vulnerável e, como se não bastasse, alguém está nos roubando.

— Você acha que eu já não sei disso? – Minha voz se elevou sem que eu quisesse, mas ela não recuou. Clarisse nunca recuava.

— Sei que sabe. Mas o que está fazendo a respeito?

Fiquei em silêncio.

— Exatamente. – Ela se endireitou, cruzando os braços. – Se quer que eu fique, vai ter que mudar. Vou ter liberdade para agir como achar melhor. E vou estar por dentro da investigação sobre os roubos.

— Clarisse...

— Não me interrompa. – O tom dela era final. – Eu voltei, mas nos meus termos.

— Só fico preocupado, isso tudo pode ficar perigoso.

— Sei me cuidar. — Ela respondeu em seco.

Houve um longo silêncio depois disso. Fitei-a por um momento, tentando decifrar se ela realmente acreditava que podia tomar as rédeas assim. Mas o problema era que Clarisse parece sempre saber o que fazer.

— Está certo. – Finalmente disse, apesar do nó que parecia se formar na minha garganta. – Se é isso que precisa para ficar, está feito.

Ela me observou, avaliando minha sinceridade, antes de finalmente assentir.

— Ótimo. Agora, tenho coisas mais importantes a fazer.

E então, sem esperar resposta, virou-se e saiu.

Fiquei sentado ali, olhando para a porta que se fechou atrás dela. Parte de mim estava irritada, outra parte aliviada. Mas acima de tudo, eu sabia que, com Clarisse de volta, nada seria fácil.

E, estranhamente, era exatamente disso que eu precisava.

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