CAPÍTULO 3

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— Não quero mais ninguém entrando no meu escritório sem permissão. — Minhas palavras cortaram o silêncio dentro do carro como uma lâmina. Meu tom era mais frio do que eu pretendia, mas não havia espaço para vacilos. Donna, ao meu lado, apenas assentiu com a cabeça, sua expressão imperturbável, como sempre.

— Sim, ninguém jamais me desobedece. Mas, veja, seu pai tem um carinho enorme pela Clarisse. Ela é uma das poucas pessoas em quem ele confia cegamente. — Sua voz era tranquila, quase suave, como se estivesse narrando algo que todos deveriam saber.

Senti um leve desconforto percorrer minha espinha, mas não deixei que isso transparecesse.

— Passei um mês inteiro investigando e estudando todos os funcionários da empresa, e algo nela não me pareceu certo. Agora, foquemos no que realmente importa. A reunião com Donavam. Conseguir o anúncio da concessionária dele em nossa revista será um triunfo. — Meu tom era firme, autoritário. Não havia espaço para distrações.

— Sim, claro. — Donna concordou, ajustando a postura enquanto o carro se aproximava da luxuosa concessionária.

[...]

Assim que atravessamos a porta da sala de reuniões, o ambiente parecia respirar luxo. O cheiro de café fresco misturava-se com o aroma sutil de couro caro. Jimmy Donavam já estava lá, esperando, com um sorriso largo no rosto e uma mesa repleta de quitutes impecavelmente dispostos. Sua secretária, de postura impecável, digitava algo rapidamente atrás dele.

— Bom dia, Cooper! — disse Donavam, com um entusiasmo quase exagerado. — Hoje é um belo dia, não acha? — Ele lançou um olhar cúmplice para a secretária, como se partilhassem de uma piada interna.

Eu não estava para sorrisos.

— Suponho que essa sua alegria não seja por me ver ou pelo contrato que estamos prestes a assinar. — Puxei uma cadeira para Donna e me sentei, cruzando as pernas com um ar calculado de indiferença.

— Ah, você me conhece, Cooper. — Donavam respondeu, rindo enquanto se servia de um pedaço de bolo. — Corte de gastos, hein? Ouvi sobre isso. — Seus olhos brilharam, provocativos. — Sua expressão sempre tão séria... É um contraste enorme com Samuel. Seu pai, ah, ele vive sorrindo, não é?

— Sim, meu pai adora sorrir. — Respondi, desconfiado. Algo na leveza daquele comentário me incomodava. Havia uma armadilha ali, só não sabia onde.

— Quero sua diretora. — A frase saiu sem aviso, com a mesma casualidade de quem pede mais café.

Fiz uma pausa, o ar ao redor de mim pareceu rarefeito.

— Como é? — Minha voz saiu mais fria do que eu pretendia, mas a confusão nublava meus pensamentos.

Donavam inclinou-se na cadeira, claramente aproveitando minha surpresa.

— Não entendeu? Sei que Clarisse ainda está por aí. Quero que ela trabalhe para a minha página. Se conseguir isso, fecharemos um contrato de longo prazo.

Senti meu corpo ficar tenso.

— Clarisse é responsável pela página do CEO, ela nunca trabalhou com anúncios. — Minhas palavras soavam mais defensivas do que informativas.

— Ah, mas eu sei que ela já fez isso antes. Vi muitas vezes ela dividindo-se entre anotações nas reuniões e trabalhando em outras páginas. Ela é uma mulher de múltiplos talentos. — Donavam sorriu, seguro de si, enquanto observava minha reação.

Virei-me para Donna, buscando alguma confirmação silenciosa. Ela se inclinou levemente e sussurrou:

— Seu pai a levava em todas as reuniões importantes quando você não estava.

As palavras de Donna caíram sobre mim como um balde de água fria. Como eu não sabia disso? Sempre achei que Clarisse fosse apenas uma assistente eficaz, nada mais. Agora, parecia que havia muito mais sob a superfície.

— Vocês estão falando como se ela fosse insubstituível. — Minha mão foi instintivamente ao nó da gravata, ajustando-o para tentar disfarçar o incômodo crescente.

Donavam soltou uma risada incrédula.

— Pobre Cooper... Você a demitiu, não foi? — Seus olhos se arregalaram, como se tivesse acabado de ouvir uma piada macabra. — Se ela não está mais lá, não há contrato. Simples assim.

— Como assim? Clarisse não tem relação com isso. Temos diretores competentes que podem cuidar da sua página de forma exclusiva! — Tentei manter o controle, mas a tensão era palpável.

Donavam cruzou os braços, seu semblante de repente mais sério.

— Clarisse não é uma diretora qualquer. Você claramente não a conhece. Ela é excepcional, em tudo o que faz. — Seus olhos, agora frios, fixaram-se nos meus. — Dou-lhe duas semanas. Se ela não estiver de volta à sua equipe, procure outro cliente.

E sem esperar resposta, ele se levantou e deixou a sala, deixando um silêncio ensurdecedor e a sensação de derrota no ar.

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