CAPÍTULO 5

Eu nunca imaginei que a minha chegada a Grenff naquela manhã seria marcada por tanto silêncio. Algo estava errado, uma quietude quase opressiva pairava sobre a empresa. Assim que entrei na sala, larguei a maleta na cadeira de couro escuro e me sentei à mesa. O brilho frio do monitor piscou quando abri o sistema da empresa, e o que vi me fez franzir a testa.

Todos os funcionários estavam ausentes.

Era como se, num único movimento, o coração da revista tivesse parado de bater. Eu passei os olhos rapidamente pela lista de presença. Quase todos os nomes estavam marcados como faltosos.

— Mas que diabos... — murmurei, sentindo o estômago revirar.

Levantei-me abruptamente da cadeira, o som das rodinhas raspando no piso de madeira ecoou pela sala vazia. Caminhei apressado até a mesa de Donna, minha secretária, que permanecia calma, digitando algo no computador, como se nada tivesse acontecido.

— Donna, o que está acontecendo? — Perguntei, tentando controlar a inquietação na minha voz. — Por que todo mundo faltou hoje?

Ela parou o que estava fazendo, tirou os óculos de leitura e me encarou por um instante. Havia algo nos olhos dela, uma hesitação que me incomodava. Então, ela soltou um suspiro lento e respondeu, com a voz carregada de uma calma que, naquele momento, me pareceu mais perturbadora do que tranquilizadora.

— Eles estão em greve, Scott.

Eu congelei por um segundo. Meu cérebro lutava para processar aquilo. Greve? Na minha empresa?

— Greve? Onde? — minha voz saiu mais alta do que pretendia. Eu podia sentir o suor se acumulando na nuca.

— No andar de impressão. Estão todos lá, desde cedo — ela disse, enquanto entrelaçava os dedos sobre a mesa.

Fiz menção de me virar para o elevador, pronto para descer até lá e resolver tudo. Mas a voz de Donna me parou.

— Talvez não seja uma boa ideia você descer, Scott.

Eu me virei para ela, franzindo o cenho.

— O que você quer dizer com isso?

— Eles estão furiosos com você.

Eu sentia a paciência se esvaindo. Claro que estavam furiosos, eles estavam em greve! Mas por quê? O que eu fiz que justifique algo assim?

— Furiosos? Comigo? Por quê?

Donna respirou fundo e se recostou na cadeira, parecendo buscar as palavras certas.

— Porque você demitiu Clarisse Thompson — ela respondeu, finalmente.

Aquele nome, aquele som... era como uma punhalada inesperada. Fiquei em silêncio por alguns segundos, a mente correndo em círculos. Clarisse? Eu sabia que sua demissão causaria algum desconforto, mas... uma greve? Isso não fazia sentido.

— Clarisse? — repeti, mais para mim mesmo do que para Donna. — Ela... ela era só mais uma funcionária. Eu precisei cortar despesas, precisei tomar decisões difíceis e vocês sabem bem o motivo.

Donna balançou a cabeça, seu semblante agora carregado de algo entre pena e frustração.

— Clarisse não era "só mais uma funcionária", Scott. Ela era querida por todos aqui. Não só pelos colegas de trabalho, mas pelos editores, pela equipe de marketing... Ela era parte do coração da revista. E, além disso, seu pai a tratava como se fosse filha.

As palavras de Donna me atingiram como um soco no estômago.

— Meu pai? — perguntei, sentindo o rosto aquecer. — De novo isso?

Ela me olhou, incrédula, como se eu estivesse sendo deliberadamente cego.

— Você não entendeu? — Donna perguntou, uma sobrancelha arqueada. — Seu pai praticamente adotou Clarisse desde que ela começou a trabalhar aqui. Ela era mais do que uma simples funcionária para ele. Tratava-a como parte da família.

Meu corpo ficou tenso. Eu nunca soube disso. Nunca soube que Clarisse tinha essa relação com meu pai, o homem com quem eu estava em guerra desde que assumi o controle da revista. Enquanto eu estava longe, vivendo minha própria vida, ele estava aqui, criando laços, cuidando de pessoas como Clarisse... e eu, sem saber, cheguei cortando tudo pela raiz. Não sabia nem ao menos da existência dela, todas as vezes que vim visitá-lo nunca foi mencionado o nome da mulher loira que entrou com um furacão esbanjando beleza, sensualidade e ao mesmo tempo me dando medo, muito medo. Eu poderia ter escutado o que ela tinha para dizer, entender seu lado, mas o que eu tive vontade foi de jogá-la em minha mesa e dar um dos melhores beijos que ela teria em toda a sua vida, mas o que fiz mesmo foi ser um completo idiota.

Cinco anos. Clarisse trabalhava na Grenff há cinco anos. E eu a despedi como se não fosse nada.

— É por isso que eles estão furiosos com você, Scott. Todos aqui adoravam Clarisse. Ela não merecia ser tratada assim.

As palavras de Donna ecoaram na minha mente. Eu me virei e, sem dizer mais nada, entrei no elevador. O som mecânico da porta se fechando ressoou com estranha gravidade.

No andar de impressão, o ambiente estava pesado, quase sufocante. Assim que as portas se abriram, fui recebido por dezenas de olhares fixos, cheios de raiva contida. A revolta estava no ar. Um dos funcionários mais antigos, um homem de cabelos grisalhos que eu reconhecia vagamente, caminhou até mim, os olhos queimando com algo que eu só podia descrever como desprezo.

— Nós não voltaremos ao trabalho — disse ele, a voz grave e firme — até que Clarisse seja recontratada.

Senti o sangue ferver. Era isso? Era essa a chantagem que eles estavam me impondo?

— Isso é ridículo! — gritei, a raiva transbordando. — Vocês realmente acham que podem chantagear o seu chefe? Tudo isso por causa de uma pessoa?

O murmúrio de concordância que correu pela multidão só me deixou mais frustrado. Mas, no fundo, eu sabia que aquilo era mais do que apenas uma pessoa. Eles estavam se levantando contra mim, contra as decisões que tomei desde que voltei. E eu estava sozinho.

Voltei ao elevador com os punhos cerrados, sentindo o peso da derrota nas costas. Quando as portas se fecharam, senti a pressão nas têmporas. De volta ao escritório, fui direto à mesa de Donna, que me observava com cautela.

— Me dá a chave do carro, Donna. E o endereço de Clarisse.

Ela não questionou. Apenas assentiu, pegando as chaves da minha mesa. Minutos depois, meu celular vibrou. Uma mensagem dela apareceu na tela com o endereço do apartamento de Clarisse.

— Esse é o endereço do apartamento. Mas, se não a encontrar lá, você vai ter que ir até o interior. Para a casa dos pais dela — acrescentou Donna, com um leve tom de preocupação.

Eu respirei fundo, o peso da decisão tomando conta de mim.

— Eu vou trazê-la de volta — murmurei, mais para mim mesmo. — Nem que eu tenha que pedir desculpas pessoalmente.

E, com isso, saí, decidido a consertar o erro que eu nem sabia que tinha cometido.

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Comments

Rodinélia Souza Oliveira

Rodinélia Souza Oliveira

vai passar o pai que diabo amassou.

2024-12-14

0

Neuza Silva

Neuza Silva

vamos ver q bicho vai dar kkkkk

2024-12-01

2

Caroline Souza

Caroline Souza

Amando a história

2024-10-07

0

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