CAPÍTULO 7

Eu precisava chegar logo até Clarisse, meu pai era impulsivo demais e agora mesmo poderia estar assinando algum documento me deserdando.

 O clima estava nublado e fazia um leve frio, mas choveu bastante na noite anterior, deixando as estranhas de barro em um completo lamaçal. Pelo GPS do carro, faltavam apenas dez minutos para chegar até o tal sítio Thompson, mas não sei em qual momento que me perdi e acabei parando em uma estrada sem saída. Desci do carro e peguei meu celular com a intenção de procurar área, fui andando até ver que os "pontinhos" de sinal começaram a aparecer, estava tão vidrado olhando o celular que acabei caindo dentro de uma grande poça de lama.

 — Céus! Ajude ele, Augusto!

Ouvi uma voz feminina e olhei para o lado, entre duas palmeiras estava a porteira grande com uma placa ao lado que dizia "Sítio Thompson".

Hilário.

Incrível.

Achei o lugar que procurei por quase três horas e foi da pior forma existente.

 Um casal abriu a porteira e o homem veio me ajudar a levantar.

 — Como não viu essa poça deste tamanho, rapaz? — O tal Augusto falou entre risos abafados. — Se machucou?

 — Não. — Respondi seco.

 — Vamos, entre... Lhe daremos um banho de mangueira! — A mulher falou dessa vez.

Eu só poderia estar sonhando.

Eu sou um milionário, vim até com um Audi que agora terei que mandar rebocar ele, e ela me oferece um banho de mangueira?

 — Posso apenas usar o seu celular?

 E lá estava eu, em cima de uma toalha velha, na sala de estar da casa de Clarisse, ou dos pais dela... Haviam fotos dela por toda a parte, até ela com um cara que olhava para ela como se fosse um diamante muito raro.

 Afastei meus pensamentos e liguei para Constantini, ele disse que estaria ali em menos de quarenta minutos e eu me questionei mentalmente em como ele chegaria ali nesse tempo sendo que eu levei quase três horas...

 — Deseja alguma coisa? Água, café, vinho... — O Augusto me perguntou e acabou levando um tapa no braço.

 — Vinho? É sério isso? — A senhora falou.

 — Ele está de terno, talvez seja rico...

Os dois começaram a discutir e eu só queria ir embora.

[...]

Quando passou os quarenta minutos esperei do lado de fora da cerca, avistei de longe minha caminhonete branca sem algum resquício de lama.

 — Boa tarde, chefe! — Constantini cumprimentou assim que desceu do carro.

 — Como foi que você chegou aqui tão rápido? Eu gastei horas para chegar aqui... — Falei me sentindo derrotado.

 — Ele pegou o asfalto, fizeram tem dois meses e se você veio pela estrada gastou pouco tempo ainda. — Augusto que estava escorado na porteira aberta me alertou. — É melhor um de vocês ficarem e chamarem logo o reboque para o seu outro carro, se chover mais do jeito que a estrada está, seu carro não sai mais.

Aquilo apertou meu coração, eu poderia abandonar o carro aqui, e comprar outro, mas aquele foi meu primeiro carro de luxo que comprei com meu esforço, eu tinha apego emocional nele.

 — Constantini, ligue para algum reboque e leve o meu carro direto para um lava-jato e depois para uma oficina. — Entrei no carro e liguei. — Quem eu estava procurando não está aqui.

Agradeci os pais de Clarisse e falei que logo receberiam um presente pela hospitalidade. Não contei que eu a procurava e nem que era o cara que a demitiu.

 — Eu vou achar você, loira! — Sussurrei ao acelerar a caminhonete e ir em direção completamente oposta a que vim.

[...]

Acelerei o máximo que pude e cheguei até a frente do apartamento de Clarisse, a frente do prédio já demonstrava que ela gastou uma grana para comprar um apartamento aqui.

Para minha sorte, um casal conhecido do meu pai estavam entrando no portão de moradores, cheguei perto deles e expliquei a minha situação. Qual situação? Bom, eu tinha um apê aqui, mas acabei sofrendo um pequeno acidente — o meu estado entregava tudo — e acabei perdendo as chaves, sabendo de quem sou filho, me deram passagem e peguei o respectivo elevador que dava para o corredor onde Clarisse morava, agradeci mentalmente por Donna saber o número.

Toquei a campainha ao lado da porta e não tive resposta. Toquei mais duas vezes e nada. Alguns vizinhos estavam passando e tampavam o nariz graças ao meu cheiro — ou fedor.

Depois de provavelmente ver que era eu, ela relutou muito em abrir, mas logo cedeu.

 — O que foi? — Ela falou ao abrir a porta de uma vez e o que senti foi que ela queria gargalhar alto. — Estava em alguma fonte termal e te ofereceram um banho de lama?

 — Não estou brincando, Srta. Thompson! — Falei já sentindo meu corpo tremer de frio.

 — Céus, está tremendo, entre!

Ela me deu passagem e correu até onde eu imagino ser o quarto pois voltou com uma toalha e roupas limpas.

 — O que é isso? — Perguntei olhando para as mãos dela e depois em seus olhos.

 — Acho que sabe bem o que é isso... Pode ir tomar um banho? — Ela disse ao tampar o nariz com uma das mãos e abanar o ar com a outra. — Você fede!

Ela me indicou o banheiro e eu entrei. Tudo ela dourado e branco, era até grande, havia até uma pequena banheira, onde com certeza só deve caber uma única pessoa. Tomei um banho rápido e a minha parecia não acreditar no que estava acontecendo, por qual motivo eu aceitei isso de forma tão natural? Terminei o mais rápido que pude e assim que saí do banheiro a vi em pé de braços cruzados.

 — Agora que já usufruiu do meu banheiro, será que pode me dizer por qual razão está aqui? E por que chegou sujo daquele jeito?

Ela era extremamente mandona, seu tom de voz fazia eu me sentir como um adolescente que fugiu de casa.

 — Eu falo se você me contar de onde tirou essas roupas. — Apontei para a calça e camisa de moletom exatamente do meu tamanho.

 — Era de um amigo... — Ela respondeu ficando desconcertada.

 — Era? Ele morreu?

 — Não, deixou de ser amigo! — Ela disse afiada com uma faca.

 — Um resumo: fui procurar você no sítio dos seus pais, acabei caindo e cheguei aqui.

Ela riu. Riu alto ao ponto de segurar a barriga.

 — Não me diga que é para me pedir para voltar? — Ela disse em tom irônico.

 — É.

 — Pois pode esquecer, não volto.

Ela caminhou até o sofá-cama e se jogou, colocou o balde de pipoca no colo e deu play no filme. Reparando nela agora, esse vestido curto apenas realçou toda sua beleza natural, os olhos azuis vidrados na tela, a simplicidade e a total falta de percepção dela me admiraram.

 — Se isso foi um convite, estou tentado a aceitá-lo. — Falei e ela me olhou confusa. — Esse vestido aí, esse sofá, esse clima...

Ela se cobriu com uma manta e me mandou ir embora apenas apontando um dedo para a porta.

— Calma, era brincadeira... Só vim mesmo pois preciso realmente que volte para a empresa. — Falei sério para ela entender e também para a minha mente parar de pensar no vestido de cetim que ela escondia.

Mais populares

Comments

Caroline Souza

Caroline Souza

Sucesso aurora , que bom que voltou
Ansiosa pela história desses dois

2024-11-06

5

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!