“Ricardo”
Subimos no avião e, quando estávamos na altura, pulei, não esperei meu amigo, ele não me entende.
Comecei a ver o chão se aproximar, mas não abri o paraquedas, meu aparelho que marca altitude começou apitar avisando que a altura estava no limite.
Deixei descer mais um pouco, se eu morrer ela vai poder viver a vida do jeito dela e eu não vou ser um empecilho.
Não quero morrer, vou lá, ela vai ter que me explicar quem era aquele cara.
Puxei a corda para o paraquedas abrir, mas a altura era pouca e caio batendo nas árvores, não vi mais nada.
"Eliza”
Onde será que ele foi, não me deixou explicar, saiu como um doido, estava tão absorta com meus pensamentos que não ouvi Suzy me chamando, até que ela tocou no meu braço.
— Senhora, tem uma ligação no telefone fixo da mansão, perguntaram pela esposa do senhor Ricardo.
— Falou, quem é? Suzy.
— Não, senhora, mas pediu urgência.
— Vamos lá atender, vamos ver quem quer tanto falar comigo. Cheguei na sala e peguei o telefone.
— Alô, sou Eliza, a esposa de Ricardo, quem fala?
— Sou amigo do Ricardo, estávamos fazendo um salto de paraquedas e aconteceu um acidente.
— Onde está meu marido? Ele está bem?
— Ele demorou para abrir o paraquedas e bateu em algumas árvores e está sendo levado para o hospital, não sei o estado dele, saiu daqui desacordado.
— Me fala o nome do hospital que estou indo para lá.
— Hospital Geral Santa Helena, e Eliza leva os documentos dele.
— Pode deixar que sei os procedimentos, e depois você vai ter que me explicar como foi esse acidente.
— Eu não tive culpa, tentei impedi-lo de saltar, mas parecia estar com o diabo no corpo, fui com ele, mas saltou primeiro que eu, depois disso eu só consegui vê-lo cair.
— Agora vou ver como ele está, depois conversamos.
Desliguei o telefone, subi correndo para o quarto, peguei minha roupa e o crachá de voluntária no hospital, os documentos de Ricardo e desci já indo em direção à porta. Ainda bem que levaram ele para o hospital onde minha amiga trabalha, fui saindo e falando com a Suzy.
— Suzy avisa o chofer que ele vai me levar para o hospital agora.
Peguei meu celular e liguei para minha amiga médica, pareceu uma eternidade até que ela me atendeu.
— Eliza já ia te ligar, Ricardo deu entrada aqui no hospital agora.
— Como ele está, Suelen?
— Tem uma hemorragia interna e costelas quebradas, um braço e uma perna também fraturados, foi levado para o centro cirúrgico com urgência, para conter a hemorragia.
— Estou chegando, avisa na portaria para me deixarem entrar, vou entrar como acompanhante.
— Vou avisar, mas você, como esposa, tem aceso, te espero lá embaixo.
— Não! Acompanha-o no centro cirúrgico, só confio em você, faz tudo o que for possível para salvar a vida dele. Entro e vou ao centro cirúrgico, te encontro lá.
— Tá bom, vou estar com ele o tempo todo, e você fique tranquila. Saí na porta, o chofer já estava me esperando, entrei no carro, dei o endereço e comecei a me trocar. O chofer ficou me olhando admirado.
— O que você está olhando? Nunca viu uma mulher se trocar?
— Desculpa, senhora, mas qualquer mulher no seu lugar estaria chorando e rezando.
— Eu não sou qualquer mulher, e o seu dever é me levar ao hospital o mais rápido possível.
— Sim, senhora. Desculpe-me, eu não quis ser invasivo.
— Está tudo bem, mas faça seu serviço, preciso chegar logo no hospital.
Quando desci em frente ao hospital, demonstrando uma calma que não estava sentindo, rezei para que Ricardo não morresse. Você não pode me deixar aqui. Cheguei na portaria e entreguei meu crachá, o guarda verificou e bateu o carimbo, me permitindo a entrada.
Fui à portaria, dei entrada na internação dele e dei meu nome como acompanhante, e a identificação do plano de saúde.
Se eu entrasse como esposa dele, ia ficar restrita à parte dos acompanhantes, como voluntária, posso circular pelo hospital, fui direto ao centro cirúrgico.
É um hospital-escola, então todas as cirurgias são assistidas. Entrei na sala e vi Ricardo sendo operado, me deu uma tremedeira de vê-lo naquela situação, mas consegui esconder de todos e continuar vendo a cirurgia. Ouvi dois residentes conversando.
“O doutor Marcio Matias é o cara. Conseguiu achar o sangramento e conter. A costela quebrada perfurou o pulmão e com a pancada rompeu o baço, mas já está tudo controlado, acho que ele vai sobreviver”.
“Queria ter aulas com a doutora Suellen só para vê-la mais de perto, que mulher linda”.
“Você ainda vai se meter em problemas, não se mete com as médicas do hospital, eles podem tirar sua residência.”
Resolvi interromper a conversa produtiva dos rapazes.
— E as outras fraturas?
— A da perna, a doutora Suellen colocou dois pinos, e a do braço não precisou, não chegou a ser exposta, agora as costelas foram colocadas no lugar e você sabe que não tem como conter, fecharam a perfuração do pulmão, agora eles vão fechá-lo.
— Entendi, muito obrigado pelas explicações. Saí da sala e fui esperar minha amiga na porta. Não demorou muito, ela saiu, veio até mim e começou a me falar:
— Você assistiu à cirurgia?
— Só a parte final, como ele está?
— As quebraduras não vão causar problemas, tivemos que tirar o baço, ele está com dificuldade para respirar devido à perfuração do pulmão, mas ele é novo e forte e vai se recuperar.
— E a cabeça? Houve algum dano cerebral?
— Vamos esperar passar algumas horas, para ver se teve sangramento intracraniano, mas o exame não apareceu nada, ele vai ficar em coma induzido até amanhã e depois vamos avaliando dia por dia.
— Vou ficar com ele, coloca o que você quiser na ficha, mas eu não vou largá-lo sozinho.
— Você está diferente, Eliza, está gostando dele de verdade?
— Não sei te responder, mas estou quase morrendo com ele. Meu coração doí tanto que não consigo me concentrar em mais nada.
— Vamos lá, ele vai ficar na sala de recuperação e dentro de três horas vai para a UTI. Vou colocar na ficha que você é a cuidadora e vai ficar o tempo que precisar com ele.
— Obrigado, minha amiga.
— Vou acompanhar o caso dele, com o cirurgião e venho te trazer qualquer mudança que acontecer. As horas passam devagar, eu sentei ao lado da maca cirúrgica e fiquei segurando a mão de Ricardo. Quando completou às três horas, veio o maqueiro e nos levou da sala de recuperação para a UTI. Fiquei sabendo por ele que a mãe do Ricardo está lá embaixo esperando notícias.
Não vou sair do lado do Ricardo por nada, mandei mensagem para minha amiga e pedi que fosse lá e desse notícias para D. Luiza e avisasse que estou com ele.
A enfermeira da UTI veio limpá-lo, porque continua sujo do acidente, eu não deixei ela colocar a mão nele.
— Pode deixar, estou aqui para isso, só deixa o material aí e eu me encarrego.
— Eliza, preciso verificar os sinais vitais dele. Você conhece os procedimentos.
— Vou limpá-lo e assim que acabar, você faz sua parte, vai cuidar dos outros, deixa ele comigo.
Ela saiu, fechei o biombo e comecei a limpar, dei um banho de leito nele com muito cuidado e só chamei a enfermeira na hora de trocar a roupa de cama, porque sozinha é muito difícil e eu poderia acabar machucando Ricardo. Ela já aproveitou e verificou os sinais vitais e se foi. Comecei a conversar com ele.
— Ricardo, sei que você fez isso porque estava chateado comigo, mas da próxima vez tenta ser mais cuidadoso, não consigo viver naquela mansão sem você. Você poderia me xingar, brigar comigo, mas se ferir desse jeito, não foi legal. Conversei com ele sobre comida, roupa, livro e tudo o que me vinha na cabeça, porque assim me sinto mais próxima dele.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Dulce Tavares
ele devia ouvir ela
2024-09-13
3