O testamento

*Boa tarde! Família.

*Hoje, vocês vieram aqui para saber quem vai levar uma fatia do meu dinheiro, mas fiquem em paz, que não estou revoltado e nem vou vir puxar os pés de ninguém.

*Vou começar pela minha irmã:

Minha querida irmã, Ana Venturelli, tenho que agradecer por me suportar todos esses anos. Sei que não facilitei sua vida, em momento algum.  Deixo para você a casa onde você mora e uma conta no banco com dinheiro suficiente para você viver bem o resto de sua vida. Só uma ressalva: para de se meter na vida do meu filho, ele já é adulto e consegue resolver seus problemas.

*Para você, minha ex-mulher Luiza Venturelli.

Deixei o iate que você me pediu e mais nada, porque a mágoa que tenho de você ter levado meu filho para longe de mim ainda me incomoda. Sei que Ricardo fez bastante dinheiro, então você não vai sentir falta do meu.

*Meu filho querido, Ricardo Venturelli.

Muito obrigado por você ir me ver no hospital, mesmo você tendo transado com a minha acompanhante e nem ter me dirigido a palavra.

*Eliza Rosa, princesa.

Tenho que te agradecer por ter me proporcionado os últimos momentos de vida, mais emocionantes. Conheci sua mãe na faculdade e me apaixonei por ela. Mas não tive coragem de ser o homem de que sua mãe precisava, agora vou tentar te ajudar para que assim ela possa me perdoar.

“Ricardo”

Meu pai conseguiu mais uma vez surpreender a todos, será que Eliza é minha irmã? E ele me deixou transar com ela na frente dele?

Ou será que ela fez com ele o que fez comigo e assim conquistou as graças do velho?

Ele está falando com ela com tanto carinho que já fiquei incomodado.

Nem deveria ter vindo aqui, não quero o dinheiro dele, mas minha mãe me fez vir, agora vou ter que ficar vendo ele deixar tudo para Eliza.

Ricardo, você, como meu legítimo herdeiro, deveria ficar com o comando das empresas e das propriedades.

Mas me senti afrontado pelo seu ato no hospital, então você só vai ter o domínio de todo o meu patrimônio se casar com a Eliza Rico e viver com ela durante um ano. Se você resolver não aceitar, então meus bens e o controle de tudo ficam para ela.

“Eliza”

O que você fez, eu te disse que não queria casar, que sou um espírito livre, o que faço agora? Não quero o dinheiro dele, nunca vou aceitar essa situação.

Em volta de mim está um pandemônio, todo mundo perguntando quem sou eu, a única coisa que penso no momento é em fugir deste lugar. Não posso ser a herdeira, e não vou ser.

O advogado pede para que todos saiam e só deixa eu e Ricardo na sala. Ele vira para mim, furioso, e me agride.

 — Você acha que me prendeu? Obrigou meu pai no seu último momento a fazer isso comigo, o que você fez para ele te passar o controle de tudo assim tão fácil? Não vou casar com você.

O advogado entra na conversa.

 — Meça suas palavras, foi seu pai que me chamou lá e fez esse vídeo, a senhorita Eliza não sabia de nada, e fiquei responsável para que se cumpra a última vontade de seu pai.

Já que o senhor não vai se casar, os bens vão passar automaticamente para o nome dela e eu vou gerir.

“Eliza”

Eu não vou deixar ninguém comandar minha vida assim, olhei para o advogado e pedi para ele sair.

 — Quero falar sozinha com Ricardo, por favor, saia.

  — Senhorita Eliza, tenho ordens para estar ao seu lado o tempo todo.

 — O senhor disse que sou dona de tudo, não foi?

  — Sim, senhorita, se seu Ricardo não aceitar se casar, os bens passarão para seu nome.

 — Então, sai agora, quero ter uma conversa privada com Ricardo.

O advogado, mesmo contrariado, saiu.

Ricardo vira para mim e pergunta:

 — O que você vai dizer? Que me ama e que seremos felizes juntos?

 — Não, Ricardo, eu não quero casar tanto quanto você, mas também não quero te prejudicar, vamos fazer um acordo. Fazemos um casamento de mentira e assim que der um ano, nos divorciamos, você fica com seu dinheiro e eu com minha liberdade.

— E você vai querer que eu acredite que você não quer nada? Nem um centavo? Voce sabe que estamos falando de milhões?

_ Só minha liberdade e paz, não quero seu dinheiro, eu vivo muito bem com o que tenho.

"Ricardo"

Fiquei olhando para Eliza sem conseguir entender como pode uma pessoa ser tão desapegada.

Eu não queria o dinheiro do meu pai, mas comecei a cogitar a possibilidade de viver com Eliza só para saber se é verdade o que ela está dizendo.

E ainda vou ter ela em minha cama por um ano, ainda não consegui o sexo que fizemos em meu apartamento, o que você acha Pitbull? Vamos brincar de casamento? Eu sempre disse para minha mãe que se um dia viesse a me casar ia ser uma vez só e para sempre, mas as perspectivas mudam, vou curtir essa gostosa durante um ano e depois eu já vou estar enjoado dela, nos separamos e eu ainda aumento minha fortuna.

“Eliza”

Estiquei minha mão para ele, para assim selarmos nosso acordo. Por alguns momentos, cheguei a pensar que Ricardo não ia aceitar, mas vi ele esticando a mão e pegando a minha.

— Pelo menos você vai poder cuidar do Pitbull sem problemas, não é mesmo?  

— Faça o que você quiser com seu Pitbull, eu não vou dar nem uma voltinha com ele nunca mais, foi essa mania de cuidar de cachorro que me meteu nessa enrascada.

“Ricardo”

Desculpa, pai, mas não vai ser dessa vez que vai me pegar. Eu já não queria seu dinheiro e agora que tenho que me casar para poder tê-lo, muito menos.

Estou tão revoltado que, quando escuto ela expulsando praticamente o grande advogado para fora da sala, viro-me e fico observando o tanto que aquela mulher sabe ser forte, em poucas palavras colocou ele para fora e agora se dirige a mim como se pudéssemos fazer algum tipo de acordo.

Depois que ela fala, fiquei tentado a aceitar, pelo menos na cama sei que nos damos bem, mas quando ela fala que não vamos ter mais nada, fiquei pensando se não vou entrar em uma fria, vamos ver com o advogado como vai funcionar.

Peguei a mão dela e selei nosso acordo, mas me aguarde. Eliza vou ser seu marido e, durante um ano, vou ter você na minha cama e sua liberdade que se exploda. Chamamos o advogado de volta e avisamos nossa decisão.

  — Então, vocês vão se casar?

  — Sim, vamos.

— Seu pai deixou um vídeo no caso de você resolver aceitar se casar, tem algumas regras que devem ser seguidas.

Vejo Eliza ficar nervosa.  

— Que regras? Ele queria que casássemos e vamos casar, não é só isso?

O advogado falou para Eliza:   

— Sente-se, senhorita, vocês têm certeza da decisão que tomaram? Porque depois que vocês assistirem ao vídeo, não vão poder retroceder. Resolvi falar por nós dois.   

— Pode passar o vídeo, nós já tomamos nossa decisão.

** Bom, minhas crianças, se vocês estão assistindo este vídeo, é porque resolveram se casar.

Terá que ser um casamento de verdade, desculpa Eliza por frustrar seu plano de espírito livre.

Você terá que morar com meu filho na minha mansão, se possível dividir a mesma cama, mas isso não vai ser difícil porque sabemos que nessa parte vocês se dão bem.

Outra coisa, quero que você Eliza escolha uma profissão porque não quero uma nora folgada.

   — Juro que, se ele estivesse vivo, eu matava seu pai por essa afronta, eu não posso aceitar estas regras.

— Eu não sei por que você está tão brava, nós vamos nos dar bem, você vai ver só.

O advogado desligou o vídeo e

    — Bom, como avisei, agora o casamento vai ter que acontecer e vocês devem morar juntos aqui na mansão no próximo ano, e os empregados vão se encarregar de me avisar se vocês não cumprirem as regras.

Vejo-a em silêncio e com uma cara de funeral, não sei o que dizer, vou deixar os dias passarem e vamos ver como vai acontecer.

  — Bom, vou em casa e assim que os papéis do casamento estiverem prontos, o senhor me avisa que venho assinar.  

— Não, Eliza, você não entendeu, vocês se casam amanhã, seu Ângelo deixou tudo pronto, você pode ir à sua casa buscar suas coisas, mas a partir de amanhã você passa a morar aqui com seu marido.

— Isso é uma loucura, eu não consegui nem me acostumar com a ideia do casamento.

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