O Despertar Extraterrestre

O Despertar Extraterrestre

Onde tudo começou.

A velha casa de madeira da tia Rosemary, oculta nas profundezas de uma floresta densa e carregada de segredos, era o cenário de todas as reuniões familiares. As paredes, gastas pelo tempo e pelo clima, guardavam sussurros de conversas que nunca deveriam ter sido ouvidas, e o aroma de mofo e madeira apodrecida impregnava o ar. Durante o verão, aquele lugar se tornava palco de festas onde as aparências eram tudo e as mentiras, cuidadosamente cultivadas. Senti o peso do tédio e da falsidade, decidindo me afastar da casa e buscar refúgio na floresta, onde o ar era menos sufocante e a solidão, estranhamente reconfortante.

— Isso é um saco. Não acredito que vou passar o verão inteiro aqui — murmurei, a voz baixa sendo engolida pelas sombras das árvores enquanto me embrenhava na escuridão verdejante.

Ao encontrar um tronco de árvore caído, desgastado pelo tempo, subi nele e comecei a riscar meu sobrenome no tronco ao lado: Morningstar. Cada letra que surgia sob a lâmina do canivete parecia gravar algo mais profundo, algo que nem eu mesmo conseguia compreender.

— Não aguento mais o perfume enjoativo da minha avó Jennie. Por que os idosos sempre escolhem as fragrâncias mais fortes? — resmunguei, minha voz se misturando ao som distante das folhas sussurrando ao vento.

De repente, uma brisa fria soprou pela floresta, fazendo as árvores se curvarem como se estivessem se inclinando para ouvir algum segredo antigo. Senti um arrepio subir pela minha espinha, forçando-me a parar e olhar ao redor. Havia algo de errado, mas eu não sabia o quê. As folhas verdes, antes imóveis, começaram a cair de forma estranha das árvores, como se estivessem sendo arrancadas por uma força invisível.

— Olá! — gritei, o som da minha voz se espalhando pela floresta como um eco ansioso, mas a única resposta foi o silêncio opressor.

— Nem pensar que vou ficar aqui para descobrir o que está acontecendo — decidi, o desconforto crescendo dentro de mim, obrigando-me a me afastar daquele lugar.

Então, um som cortante rasgou o ar, um zumbido que parecia vibrar dentro dos meus ossos. Olhei para cima, vendo as copas das árvores se agitarem violentamente, e antes que eu pudesse reagir, uma chuva de folhas despencou sobre mim. Em um piscar de olhos, algo pesado e desconhecido caiu sobre mim, e tudo ao meu redor escureceu como se o mundo tivesse sido engolido pela noite.

Acordei com uma sensação estranha, como se estivesse preso entre um sonho e a realidade. Minha visão estava turva, os sons ao redor abafados e distorcidos. Sentei-me devagar, tentando juntar os pedaços do que havia acontecido. Ao meu lado, uma garota estava caída no chão, inconsciente. Sua presença era um mistério, mas o que era ainda mais perturbador era a forma como ela parecia ter surgido do nada.

Com esforço, me arrastei até ela, virando seu corpo com cuidado. Aproximei minha cabeça de seu peito, ouvindo atentamente até captar o fraco som de seu coração ainda batendo. Um alívio momentâneo percorreu meu corpo, mas foi rapidamente substituído por uma sensação de perigo iminente. Deitei-me ao lado dela, sentindo a escuridão me puxar de volta enquanto meu corpo enfraquecia, meu coração batendo descontroladamente, e o suor frio escorrendo pela minha pele. O sol estava quase se pondo, e logo a noite tomaria conta da floresta, trazendo consigo um desconhecido que eu não estava preparado para enfrentar.

Quando acordei novamente, o céu ainda estava claro, mas algo havia mudado. Sentei-me lentamente, olhando ao redor em busca da garota, mas ela havia desaparecido. O silêncio ao meu redor parecia mais denso, como se a própria floresta estivesse esperando algo acontecer. Estava prestes a me levantar quando um som baixo, quase imperceptível, chamou minha atenção.

Ela surgiu de trás das árvores, movendo-se com uma graça quase sobrenatural. Era a mesma garota de antes, com pele negra e cabelos longos e cacheados de um ruivo intenso que parecia brilhar mesmo na luz difusa da tarde. Seu vestido estava rasgado, e seus pés estavam descalços, sujos de terra e folhas.

— Quem é você? — perguntei, minha voz baixa, mas carregada de uma inquietação que eu não conseguia esconder.

— Eu... não sei — respondeu ela, levando a mão à cabeça como se estivesse tentando agarrar uma memória que lhe escapava. Sua voz era suave, mas havia uma nota de desespero que a tornava quase dolorosa de ouvir.

— Não lembra nem do seu nome? — insisti, dando um passo em sua direção, sentindo a tensão crescer entre nós.

— Encontrei um papel dentro de uma bolsa, que acredito ser minha. Nele estava escrito "Seraphin Drakonian", mas eu não me lembro de nada — disse ela, e sua voz soou como um eco distante, como se ela mesma não acreditasse nas próprias palavras.

— É como se houvesse um vazio na minha mente. Estou acordada há uns 30 minutos, tive apenas alguns flashbacks. Lembro-me de estar em uma espécie de festa, entrei no banheiro e, depois disso, tudo se apagou — continuou ela, sentando-se em um velho tronco caído. Sua expressão era de confusão, mas havia algo mais, algo que eu não conseguia identificar, mas que me deixava inquieto.

— Como você veio parar em cima de uma árvore no meio da floresta? — perguntei, sentando-me ao seu lado, tentando juntar as peças daquele enigma.

— Não me lembro de absolutamente nada — repetiu ela, a frustração evidente em seus gestos enquanto passava a mão pelos cabelos.

— Aliás, eu sou Tsubaki Morningstar — disse, tentando suavizar a tensão com um sorriso, embora soubesse que aquilo era apenas uma tentativa frágil de normalizar uma situação que estava longe de ser normal.

— Eu... provavelmente sou Seraphin Drakonian — respondeu ela, forçando um sorriso em resposta, mas o medo ainda pairava em seus olhos.

Rimos juntos, mas o som era vazio, ecoando na floresta como um lembrete da estranheza da nossa situação. Após alguns minutos, decidimos voltar para a casa da minha tia. Enquanto caminhávamos pela floresta, uma sensação de apreensão crescia dentro de mim, como se estivéssemos sendo observados. Eu não sabia como minha família reagiria à presença de Seraphin, e minha mente já começava a inventar desculpas para o inexplicável.

Chegamos à casa mais rápido do que eu esperava, o ar ao nosso redor parecia mais pesado, carregado com a promessa de algo desconhecido. Corri com Seraphin para o quarto de hóspedes, conscientes de nossas roupas sujas e rasgadas. Felizmente, a casa estava vazia, o que nos deu tempo para tentar entender o que havia acontecido sem a pressão das perguntas inevitáveis.

Enquanto o silêncio nos envolvia, uma sensação de que aquilo era apenas o começo do mistério tomou conta de mim. O que teria realmente acontecido com Seraphin? E por que ela parecia estar no centro de algo que eu mal podia compreender? Enquanto essas perguntas rodopiavam na minha mente, eu sabia que estávamos apenas começando a desbravar o verdadeiro desconhecido.

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