O clima entre eles era completamente diferente. Não houve toques carnais, nem palavras afetuosas. Kaur deitou-se ao lado de Arüna na cama, mantendo uma distância calculada, mas sua presença era inegável. Arüna, ainda abalado pelos eventos do dia, sentia o peso daquela proximidade estranha. Por mais que quisesse afastar Kaur, algo dentro dele se recusava a fazê-lo.
O silêncio entre eles era ensurdecedor como sempre. Kaur não disse nada, mas seus olhos permaneceram abertos por um longo tempo, como se estivessem vigilantes. Arüna tentou fechar os olhos e descansar, mas sabia que aquela noite seria marcada por inquietações.
Na manhã seguinte, os primeiros raios de sol penetraram pelas cortinas, trazendo consigo o início de um dia que mudaria tudo. Um criado entrou no quarto, trazendo uma bandeja com o café da manhã de Arüna. Ele parecia calmo, submisso, como todos os outros servos, mas havia algo de estranho em seus movimentos. Kaur, sentado em uma cadeira próxima, percebeu imediatamente.
— Deixe a bandeja aqui. — Kaur ordenou, a voz baixa, mas firme.
O criado hesitou por um instante, mas obedeceu. Ele colocou a bandeja sobre a mesa ao lado da cama e fez uma reverência antes de se retirar. Arüna, ainda sonolento, sentou-se na cama e olhou para a comida, mas Kaur não desviou os olhos do criado, que caminhava em direção à porta. Algo na postura do homem o incomodava.
— Espere. — Kaur disse, sua voz agora cortante.
O criado congelou, a mão já na maçaneta da porta. Ele se virou lentamente, tentando manter a expressão neutra, mas seus olhos traíram um lampejo de pânico. Kaur se levantou e caminhou até ele, seus passos ecoando no quarto.
— Quem te deu ordens para trazer a comida? — Kaur perguntou, a frieza em sua voz era cortante.
— O… o mordomo, senhor. — O criado respondeu, a voz tremendo ligeiramente.
Kaur o observou por um longo momento, depois se virou para a bandeja. Ele pegou uma das taças de vinho e a levou até o nariz, inspirando profundamente. Seus olhos se estreitaram, e ele olhou de volta para o criado, que agora parecia à beira do colapso.
— Você acha que sou tolo? — Kaur perguntou, sua voz agora um sussurro ameaçador.
Antes que o criado pudesse responder, Kaur virou-se para Arüna e disse rapidamente:
— Não toque em nada.
Ele então sacou uma adaga de sua cintura e caminhou até o criado, que tentou correr, mas Kaur foi mais rápido. Em um movimento ágil, ele o segurou pelo braço e pressionou a lâmina contra seu pescoço.
— Fale agora, ou será o seu último dia. Quem te mandou envenenar Arüna? — Kaur rosnou, sua paciência se esgotando.
O criado começou a tremer descontroladamente, e lágrimas escorreram por seu rosto.
— Foi… foi herege! O criado de Sua alteza! Juro que não sei seu nome!— Ele confessou, a voz embargada. — Ele me prometeu ouro… ouro suficiente para fugir deste lugar!
A confissão fez o sangue de Arüna gelar. Ele olhou para Kaur, incrédulo, enquanto o homem segurava o criado com firmeza.
— Leve-o para as masmorras. Quero uma confissão completa antes de decidir o que fazer com ele. — Kaur ordenou a um dos guardas que havia entrado ao ouvir o alvoroço.
Enquanto o criado era arrastado para fora do quarto, Kaur voltou-se para Arüna. Ele parecia cansado, mas seus olhos estavam fixos no amante, que agora estava pálido, processando as palavras que acabara de ouvir.
— Meu criado...? Ele estava falando de-
— Indah tentou te matar, Arüna. — Kaur disse diretamente, sem rodeios. — Eu sabia que ele não era confiável, mas não pensei que fosse capaz de algo tão baixo.
Arüna sentiu o mundo girar. A traição de Indah era um golpe que ele não estava preparado para suportar. Ele tentou falar, mas as palavras não saíam. Tudo o que conseguiu fazer foi encarar Kaur, esperando por alguma explicação que pudesse aliviar a dor que sentia.
— Isso é mentira!
— Pode achar o que quiser, mas essa taça está envenenada.
Kaur suspirou e se sentou novamente, sua expressão endurecida.
— Eu mandei alguém segui-lo, Arüna. Eu sabia que ele estava tramando algo, mas nunca pensei que ele fosse tentar te matar. — Ele disse, passando a mão pelos cabelos em um gesto de frustração.— Não pensei que fosse fazer algo com você, achei que fosse comigo.
— Você sabia… e não me disse nada? — Arüna finalmente conseguiu falar, sua voz fraca, mas cheia de emoção.
— Eu não tinha provas concretas. Não podia te alarmar sem motivos. — Kaur respondeu, sua voz firme, mas sem a usual frieza.—Ainda mais acusar o homem que veio com você, o qual você claramente sente algum carinho.
Arüna desviou o olhar, as lágrimas escorrendo por seu rosto. Ele se sentia traído, confuso, e mais vulnerável do que nunca. Indah, a pessoa em quem ele confiava, havia tentado matá-lo. E agora, ele estava ali, diante de Kaur, que, apesar de tudo, parecia ser o único a protegê-lo.
— O que vai acontecer com ele? Com esse homem?— Arüna perguntou, a voz quase inaudível.
Kaur hesitou por um momento antes de responder.
— Ele será julgado e condenado. A traição é imperdoável, Arüna. Mesmo que você peça por ele, não haverá misericórdia. — Ele disse, sua voz agora fria novamente.
— E com Indah...?
— Tentar matar a rainha é traição à coroa
Arüna fechou os olhos, sentindo o peso das palavras de Kaur. Ele sabia que nada mais seria o mesmo. E, enquanto tentava processar tudo o que havia acontecido, uma única pergunta ecoava na sua mente: quem ele realmente poderia confiar naquele mundo cheio de mentiras e traições?
Kaur chamou outro guarda que estava de vigia no corredor e fez a ordem de prisão de Indah, todos os soldados deveriam procurá-lo e caso o achassem o levar para a masmorra imediatamente.
O silêncio que se seguiu à ordem de Kaur foi cortante. Arüna permaneceu imóvel, tentando entender como tudo havia desmoronado tão rapidamente. Ele queria acreditar que aquilo era um engano, que Indah jamais seria capaz de algo tão terrível. Mas o olhar sério de Kaur e o veneno na taça eram provas difíceis de ignorar.
— Preciso falar com ele. — Arüna disse de repente, a voz trêmula, mas decidido.
Kaur virou-se para ele, a expressão endurecida. — Não. Você não irá vê-lo até que tudo esteja esclarecido. Ele está sob suspeita de traição, e não vou permitir que você corra mais riscos.
— Eu mereço respostas! — Arüna protestou, levantando-se da cama. — Ele... ele não faria isso comigo. Não sem motivo.
— Motivo? Acha que há motivos para ele tentar te matar? — Kaur arqueou uma sobrancelha, sua paciência visivelmente no limite. — O motivo é óbvio, Arüna. Você é a rainha. Há poder em te destruir, e ele provavelmente foi comprado por alguém com mais influência do que podemos imaginar.
— Não! Ele... ele não é assim! — Arüna insistiu, mas sua voz vacilava. Ele não sabia mais o que pensar. As lembranças dos momentos de ternura entre ele e Indah agora pareciam distantes, quase irreais.
Kaur cruzou os braços e o encarou, os seus olhos avaliando cada reação de Arüna.
— Eu sei que é difícil, mas você precisa ser forte. O que quer que ele tenha feito, não pode deixar isso te destruir.
Antes que Arüna pudesse responder, um dos guardas voltou ao quarto, a expressão tensa.
— Senhor, encontramos Indah. Ele estava tentando sair pelos portões do castelo, mas conseguimos capturá-lo. Está sendo levado para a masmorra agora.
O coração de Arüna disparou. Ele queria correr até lá, queria ver Indah, ouvir a verdade diretamente de seus lábios. Mas a mão firme de Kaur em seu ombro o deteve.
— Não agora. — Kaur disse, sua voz mais baixa, mas carregada de autoridade. — Você não está em condições de enfrentá-lo. Deixe-me lidar com isso primeiro.
Arüna hesitou, mas acabou assentindo, sentindo-se derrotado. Ele sabia que não adiantaria discutir. Kaur sempre tinha a última palavra.
Enquanto os guardas saíam, Kaur voltou-se para Arüna, a sua expressão suavizando um pouco.
— Eu vou até a masmorra e interrogarei Indah pessoalmente. Preciso saber quem está por trás disso. Você fica aqui e descansa.
— E se ele for inocente? — Arüna perguntou, a voz quase um sussurro.
Kaur suspirou, parecendo considerar a possibilidade por um breve instante.
— Então ele terá a chance de se defender. Mas se for culpado... — Ele não completou a frase, mas o significado era claro.
Sem dizer mais nada, Kaur saiu do quarto, deixando Arüna sozinho com seus pensamentos. Ele se sentou na cama, abraçando os joelhos, enquanto lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto. Tudo parecia estar desmoronando ao seu redor, e ele não sabia como consertar.
Continua....
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 64
Comments