O episódio parecia ter deixado marcas invisíveis em todos. Arüna sentia os olhares curiosos e, em alguns casos, julgadores dos caçadores. Era evidente que, para eles, a decisão de Kaur de recuar era algo inédito, e o fato de ele ter sido influenciado por sua "esposa" tornava tudo ainda mais peculiar.
Kaur, no entanto, permanecia em silêncio. Seu rosto era uma máscara de frieza, mas seus olhos traiam uma tempestade contida. Ele não gostava de ser contrariado, especialmente em frente aos outros. Ainda assim, havia algo na postura de Arüna, na forma como ele o enfrentara, que parecia mexer com o campeão.
Depois de algum tempo, Kaur quebrou o silêncio, sua voz baixa o suficiente para que apenas Arüna ouvisse.
— Não pense que isso acabou. Você pode ter salvo aqueles homens, mas o mundo não é tão misericordioso quanto você.
Arüna manteve o queixo erguido, sua voz calma, mas firme. — Talvez o mundo precise de mais misericórdia, e menos homens como você para espalhar o medo.
Kaur virou a cabeça para encará-lo, seus olhos escurecendo. Por um momento, Arüna pensou que ele responderia algo cortante, mas Kaur apenas desviou o olhar e deu de ombros, como se não valesse a pena continuar a discussão.
O grupo chegou a uma clareira onde a caça estava planejada. A área era cercada por árvores altas, e os caçadores começaram a preparar os arcos e as flechas, enquanto os servos montavam um pequeno acampamento temporário. Arüna desceu do cavalo com cuidado, sentindo o corpo ainda dolorido. Ele sabia que Kaur estava observando, mas recusou-se a demonstrar qualquer fraqueza.
— Fique aqui — ordenou Kaur, entregando as rédeas de seu cavalo a um servo. — Vou cuidar disso rápido.
— Eu não sou uma criança para ser deixado de lado — retrucou Arüna, cruzando os braços.
Kaur se aproximou, a sombra de um sorriso frio nos lábios. — Não. Mas você é meu. E enquanto eu estiver aqui, você vai fazer o que eu mandar. — Ele passou por Arüna sem esperar resposta, deixando-o com o coração batendo mais rápido, uma mistura de raiva e algo que ele preferia não nomear.
Enquanto Kaur e os caçadores desapareciam na floresta, Arüna ficou na clareira, observando o movimento dos servos. Ele aproveitou o momento para pensar, a sua mente ainda presa na expressão dos homens que haviam enfrentado mais cedo. Ele sabia que Kaur tinha razão sobre uma coisa: o mundo era cruel. Mas isso não significava que ele precisava ser.
— E pensar que vim até aqui para caçar para parar na clareira.
De repente, um barulho vindo das árvores o tirou de seus pensamentos. Era um som leve, quase imperceptível, mas suficiente para que ele soubesse que não estava sozinho. Ele se virou lentamente, os olhos varrendo a linha das árvores, e sua mão instintivamente buscou a adaga escondida sob as dobras de seu vestido.
— Quem está aí? — perguntou, a voz firme, mas baixa o suficiente para não alertar os servos.
Por um momento, tudo permaneceu em silêncio. Então, uma figura emergiu das sombras, um rosto familiar e inesperado.
— Você? — Arüna sussurrou, os olhos arregalados. A pessoa deu um passo à frente, o rosto parcialmente escondido por um capuz, mas o brilho nos olhos não deixava dúvidas.
— Precisamos conversar — disse a figura, a voz carregada de urgência. — Antes que seja tarde demais.
Arüna recuou instintivamente, a mão ainda firme na adaga escondida. Seus olhos avaliavam a figura à sua frente, tentando processar a presença inesperada. O capuz escondia parte do rosto da pessoa, mas ele reconheceria aquele olhar em qualquer lugar. Era Indah.
— O que você está fazendo aqui? — Arüna sussurrou, a voz carregada de tensão. — Se alguém te vir...
Indah ergueu as mãos num gesto de rendição, os olhos atentos à movimentação ao redor.
— Eu tomei cuidado. Mas isso não pode esperar. — Ele deu mais um passo à frente, a voz urgente. — Você está correndo perigo, Arüna.
Arüna apertou os lábios, sentindo o peso da preocupação nas palavras de Indah.
— Que perigo? O que você sabe? Você não devia estar aqui tão de repente, se Kaur te ver aqui assim do nada...
Indah olhou em volta mais uma vez, certificando-se de que ninguém estava perto o suficiente para ouvir.
— Kaur. Ele sabe mais do que você imagina. — A voz dele era baixa, quase um sussurro. — Um dos servos dele tem me seguido. Ele desconfia de nós.
O coração de Arüna apertou, mas ele manteve a expressão neutra. Não podia demonstrar fraqueza, nem mesmo para Indah.
— Isso não é novidade. Kaur é desconfiado por natureza. Ele controla tudo ao redor dele. E desconfiar porque se não fizemos nada ainda?
Indah balançou a cabeça, os olhos sombrios.
— Não é só isso. Ele está testando você, Arüna. Essa caçada, esses confrontos... Ele quer ver como você reage, quer descobrir até onde pode te pressionar. Se ele descobrir a verdade...
Arüna sentiu o peso das palavras, mas manteve o tom frio. — E o que você sugere que eu faça? Que fuja? Que abandone tudo? Não posso. Não agora.
— Você tentou? Matar ele.
— ... Tentei.
Indah hesitou, a dor evidente nos seus olhos.
— Eu só quero que você esteja seguro. Não confie nele. Não abaixe sua guarda. — Ele deu mais um passo, sua mão roçando levemente a de Arüna. — E se precisar... me chame. Não importa onde eu estiver, eu virei. Para ele estar agindo normal alguma coisa tem.
Antes que Arüna pudesse responder, o som de passos pesados ecoou pela clareira. Ele rapidamente se afastou de Indah, ajeitando o vestido e assumindo uma expressão impassível. Kaur emergiu das árvores, a espada ainda manchada de sangue e um olhar avaliador em sua direção.
— Algum problema aqui? — Kaur perguntou, a voz fria como gelo. Seus olhos passaram de Arüna para Indah, e por um breve momento, pareciam analisá-los como um predador.
— Nenhum — respondeu Arüna, sua voz controlada. — Ele só veio verificar se eu precisava de algo.
Kaur ergueu uma sobrancelha, claramente cético, mas não pressionou.
— E veio até aqui? Bom. Porque não temos tempo para distrações. — Ele olhou diretamente para Indah, a tensão entre eles quase palpável. — Volte ao seu lugar. E lembre-se do seu papel.
— o meu senhor, vim porque sua alteza não caça há muito tempo e-
— Ele é minha preocupação agora, quando precisar de você sua presença será solicitada.
Indah inclinou a cabeça em um gesto respeitoso, mas antes de se afastar, lançou um último olhar para Arüna. Um olhar que dizia tudo o que ele não podia dizer em voz alta.
Quando Indah desapareceu, Kaur se aproximou de Arüna, parando tão perto que ele podia sentir o calor da sua presença.
— Ele anda muito próximo de você. Isso me incomoda.
Arüna sustentou o olhar de Kaur, o coração batendo rápido, mas a voz firme.
— Ele é leal a mim. Talvez você devesse se preocupar com quem é leal a você.
Kaur sorriu, mas não havia humor no seu rosto.
— Eu me preocupo com tudo, Arüna. Inclusive com você. Não esqueça disso. Você é meu, ele muito perto de você me incomoda.
E com isso, ele se afastou, deixando Arüna com a sensação inquietante de que estava preso em um jogo onde cada movimento poderia ser o último.
A tarde avançou lentamente, com a comitiva retornando ao castelo. Arüna manteve-se em silêncio durante todo o caminho, ciente do peso do olhar de Kaur sobre si. As palavras de Indah ecoavam em sua mente, um lembrete constante de que cada passo era observado, cada gesto analisado.
Quando finalmente chegaram ao castelo, a atmosfera parecia ainda mais pesada. O vento gelado cortava o ar, mas era a tensão invisível que deixava Arüna desconfortável. Ele desmontou do cavalo com a ajuda de um servo, ajeitando o vestido enquanto os outros seguiam para seus respectivos aposentos.
Kaur permaneceu ao lado dele, os olhos avaliando cada movimento.
— Venha comigo — ordenou, sem esperar resposta.
Arüna não tinha escolha a não ser segui-lo. Eles caminharam em silêncio pelos corredores frios do castelo até chegarem aos aposentos privados de Kaur. Assim que a porta se fechou atrás deles, Kaur virou-se abruptamente, o olhar afiado como uma lâmina.
— Você vai me dizer agora o que está acontecendo — disse ele, a voz baixa, mas carregada de autoridade. — Por que Indah estava perto de você? E não me diga que foi por acaso.
Arüna manteve a postura ereta, recusando-se a demonstrar qualquer nervosismo.
— Indah é meu servo mais leal. Ele só estava cumprindo suas obrigações.
Kaur deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles.
— Obrigações? Não minta para mim, Arüna. Eu sei que há algo mais.
Arüna sentiu o coração acelerar, mas não recuou.
— Talvez você esteja vendo coisas onde não existem, Kaur. Ou talvez você não confie em ninguém, nem mesmo em si mesmo.
A provocação fez os olhos de Kaur estreitarem, mas, em vez de explodir, ele sorriu. Um sorriso frio, quase cruel.
— Você é ousado, eu dou isso a você. Mas lembre-se, Arüna, eu não sou um homem que aceita traições.
Arüna cruzou os braços, sustentando o olhar.
— Traições?
— Indah logicamente sente desejo por você. Vocês são absurdamente próximos. E algo assim não vou aceitar.
— ... Eu não aguento mais ficar aqui... Quero ir pro meu quarto.
Por um momento, o silêncio entre eles era quase ensurdecedor. Kaur parecia dividido entre o desejo de confrontá-lo e algo mais profundo, algo que ele não estava pronto para admitir. Finalmente, ele deu um passo para trás, quebrando o momento de tensão.
— Vá, então — disse ele, a voz mais controlada. — Mas lembre-se, eu sempre estou observando.
Arüna não respondeu. Ele saiu dos aposentos com a cabeça erguida, mas assim que se viu sozinho no corredor, permitiu-se soltar um suspiro. Cada vez mais, sentia que o cerco estava se fechando.
Naquela noite, enquanto estava em seus próprios aposentos, Arüna refletia sobre o que fazer. Ele sabia que Kaur não era um homem que deixava perguntas sem resposta, e a presença de Indah havia despertado suspeitas perigosas.
Mas, antes que pudesse pensar num plano, ouviu batidas na porta, dirigindo-se para lá ele abriu a porta e era Indah.
— Sua alteza... Posso entrar?
Continua .....
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Atualizado até capítulo 64
Comments
Min-woo Kwon~
não, é só de você mesmo
2025-03-13
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